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Andaluzia - Parte IX - Sul da Espanha - 2009

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 6 de jul. de 2021
  • 20 min de leitura

Atualizado: 7 de jul. de 2021


Azulejaria com a representação, no interior dos medalhões, dos Imperadores do Sacro Império Romano-Germânico Isabel de Portugal e Carlos V (também reis da Espanha), obra de Cristóbal de Augusta, em 1577 e 1578. Salón de la Bóvedas ou Sala de Fiestas. Palacio Gótico (ou Palacio de Carlos V), Real Alcázar de Sevilla, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Sevilha


Uma das versões mais reconhecidas, atualmente, é que o topônimo tem origem no nome dado pelos fenícios ao lugar, Hisbaal. Após a conquista pelos romanos, estes passaram a chamá-la de Hispalis. Na época dos muçulmanos, o nome foi alterado para Ishbīliya, do qual teria derivado Sevilla, em castelhano.


O núcleo original teria sido fundado pelos fenícios e controlado, posteriormente, pelos cartagineses. Após a derrota dos cartagineses na região, em 206 a.C., no curso da Segunda Guerra Púnica, pelas tropas romanas, comandadas por Cipião, o Africano, fundou-se, no século I a.C., a Colonia Iulia Romula Hispalis.


Durante a época visigoda, Sevilha chegou, algumas vezes, a alojar a corte, e, após a ocupação islâmica, foi sede de uma cora (semelhante a uma província do Califado de Córdoba), sendo, no século IX, saqueada pelos vikings.


Os cristãos, sob o mando de Fernando III de Castela, o Santo, conquistaram Sevilha em 1248. Esse monarca foi o primeiro a ser inumado na Catedral da cidade.


Após as viagens marítimas com a finalidade de descobrir novas rotas para as Índias, que culminou com a chegada de Cristóvão Colombo na América, em 1492, Sevilha se transformou no centro econômico do Império Espanhol, tendo sido instaladas na cidade a Casa de Contratação (da qual eram dirigidas e contratadas as viagens, bem como controladas as riquezas que vinham da América) e a Universidad de Mercaderes, que juntas, serviam para regular as relações com o chamado Novo Mundo. Em razão disso, a urbe, no século XVI, conheceu um grande desenvolvimento e transformação que são prova alguns edifícios do centro antigo. Algumas indústrias se destacaram durante esse período de ouro, como as fábricas de sabão, o artesanato de lã e de seda e a cerâmica sevilhana.


No entanto, surgiram dificuldades para a navegação no rio Guadalquivir​, fundamental para ligá-la aos mares, ao ponto que, no final do século XVII e início do século XVIII, o monopólio comercial e suas instituições foram transladadas para Cádiz, que se encontra no litoral do oceano Atlântico. Ademais, além da decadência econômica, nessa época Sevilha sofreu com uma grande epidemia de peste que matou cerca de 60.000 pessoas, sendo que, no final de século XVIII, a cidade tinha perdido quase a metade de sua população.


Hoje Sevilha recuperou seu brilho, com belíssimos prédios históricos bem preservados e edificações modernas, como a Torre Sevilla, Parque Tecnológico y Científico, Palacio de Congressos, Puente del Alamillo, do famoso arquiteto Santiago Calatrava, o Metropol Parasol, do arquiteto alemão Jürgen Mayer.


O Real Alcázar (palácio-fortaleza) de Sevilha foi erguido a partir de 913 como alcazaba (fortaleza) por ordem do então Emir de Córdoba Abd al-Rahmán III, da Dinastia Omíada (depois, em 929, Califa de Córdoba), sob os restos de um edifício romano do século I e de uma igreja paleocristã visigoda.


À fortaleza omíada do século X se acrescentaria posteriormente o Alcázar Novo dos abádidas, os governantes de Sevilha e seu entorno durante o século XI, após a desintegração do Califado de Córdoba. Nessa época, foi o centro da vida oficial e literária da cidade. Posteriormente, os almorávidas estenderiam mais o espaço do governo até o rio Guadalquivir. Por fim, ainda durante a ocupação muçulmana, os almôadas, no século XII, edificariam novos edifícios, dos quais ficaram alguns restos que são uma mostra única no mundo, como o prédio da Casa de Contratação.


Após a conquista castelhana, em 1248, o Real Alcázar passou a ser usado como sede da Coroa. Como um testemunho da integração histórica de culturas que faz parte da essência de Sevilha, se ergueram, no interior do Alcázar, edificações como o Palacio Gótico, no qual Alfonso X de Castela, o Sábio, compôs os conceitos do novo marco cultural com as estruturas tradicionais da cidade. Após o terremoto ocorrido em 1356, Pedro I de Castela, o Cruel, mandou derrubar os prédios palacianos almôadas e erguer um Palácio Mudéjar, ressurgindo antigas concepções mediterrâneas de inspiração árabe, de extrema harmonia e beleza.

A partir do início da Idade Moderna, verificam-se transformações no edifício de Pedro I, que tinham por intenção adaptar seu interior ao gosto dos novos tempos. Como exemplo, o andar superior do Patio de las Doncellas adotou um estilo renascentista, bem como foram renovadas as decorações de gesso e modificados os arcos da galeria inferior. Da mesma forma, ao longo do século XVI, foram realizadas artesanatos decorativos que mantiveram a estética mudéjar, sendo destaque o forro que cobre o Salón de Embajadores.


O Real Alcázar de Sevilha serviu de cenário do Reino de Dorne na quinta temporada da famosa série Game of Thrones.



Real Alcázar de Sevilla, inicialmente a alcazaba omíada do século X transformada no palácio dos monarcas cristãos espanhóis. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



Puerta del León, que atualmente serve de entrada para os visitantes do Alcázar, é parte da muralha árabe, possivelmente do século XII, na época da dominação da Dinastia Almôada. Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



Patio del León, no qual se vê parte interna da muralha árabe. Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.




Patio del Yeso (Pátio de Gesso), o pouco que sobrou do edifício islâmico original, a antiga Alcazaba almôada construída no século XII; veem-se os arcos almôadas, sustentados por colunas com capitéis, apresentando elaborada ornamentação. Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



Sala de Audiencias de la Antigua Casa de Contratación, na qual se vê, à esquerda, uma maquete de uma embarcação do século XV e, ao centro, o retábulo da Virgen de los Mareantes, pintada por Alejo Fernández em 1536. Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


No Patio de la Montería, na frente da fachada do Palacio Mudéjar de Pedro I de Castela, foram rodadas algumas cenas do filme "Cruzada" (Kingdom of Heaven), de 2005, dirigido por Ridley Scott e estrelado por Orlando Bloom.



Cena de Kingdom of Heaven de Ridley Scott, filmada em frente à fachada do Palacio Mudéjar de Don Pedro. Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



Fachada do Palácio Mudéjar, erguido por Pedro I de Castela, o Cruel, em 1356, vista a partir do Patio de la Montería; marco de respeito de um monarca cristão à herança arquitetônica deixada pelos árabes na Península Ibérica; na fachada central, no segundo piso, três janelas centrais, arcos almôadas sustentados por colunas com capitéis, e o muro coberto por gesso com arabescos; nas fachadas laterais, arcos mudéjares apoiados em colunas com capitéis no corpo superior, e, no inferior, grandes arcos de meio ponto cegos. Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O Patio de las Doncellas faz parte do Palacio Mudéjar de Don Pedro; nele também foram rodadas cenas do filme "Cruzada" (Kingdom of Heaven), de Ridley Scott e da quinta temporada de Game of Thrones.


Patio de las Doncellas (Pátio das Donzelas), de formato retangular, com quatro galerias de arcos polilobulados sustentados por colunas dobradas de mármore branco com capitéis coríntios; os arcos centrais de cada lado são maiores que os outros; o centro do pátio é percorrido por um tanque; o piso superior tem uma balaustrada de mármore estilo renascentista, acrescentada no século XVI, nos tempos de Carlos I da Espanha (Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico). Palacio Mudéjar, Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Uma das locações do Real Alcázar de Sevilha utilizada para representar o palácio do Reino de Dorne, na quinta temporada da série Game of Thrones, é o Salón de Embajadores, que também faz parte do Palacio Mudéjar de Don Pedro. Esse salão recebia as audiências públicas e as principais cerimônias da corte.



Cena da quinta temporada de Game of Thrones (Palácio do Reino de Dorne). Salón de Embajadores, Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



Salón de Embajadores (Salão dos Embaixadores) é o ponto alto da visita ao Alcázar; são três arcadas simétricas, cada uma com três arcos de ferradura (mudéjares), sustentados por finas colunas de mármore, e as paredes ornamentados de gessos com arabescos e azulejos nos rodapés. Palácio Mudéjar, Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



A grande cúpula semiesférica em madeira dourada e entrelaçada do Salón de Embajadores, conhecida como media naranja, realizada por Diego Ruiz em 1427. Palacio Mudéjar, Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Apesar de ter sido modificado por restaurações promovidas no século XIX, o Patio de las Muñecas, também dependência do Palacio Mudéjar de Don Pedro, ainda mantém, na nossa opinião, o seu encanto, posto que foram conservadas sua decoração mudéjar em gesso, bem como as colunas e seus capitéis. O nome, segundo a versão mais aceita atualmente, teria vindo de pequenos rostos de meninas ou bonecas visíveis em um dos arcos.



Patio de las Muñecas (Pátio das Bonecas), de formato retangular, sendo, no piso inferior, duas galerias formadas por um arco grande ladeado por dois menores, com se vê na fotografia, e as outras duas, um arco grande e um menor; os muros ornamentados com gessos com arabescos e, arrematando o piso inferior, uma cornija com muqarnas. Palacio Mudéjar, Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O Palacio Gótico foi erguido, no século XIII, por determinação de Alfonso X de Castela, o Sábio, no interior do complexo do Real Alcázar de Sevilha.


No século XVI, o Palacio Gótico foi reformado por ordem de Carlos I da Espanha (Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico), em estilo renascentista, por isso suas dependências são conhecidas também como Palacio de Carlos V ou Salones de Carlos V; porém, a planta inferior conservou a estrutura gótica.


A atual fachada principal do Palacio Gótico, em estilo neoclássico, foi realizada na segunda metade do século XVIII pelo arquiteto Van der Borch, depois do terremoto de 1755 (tremor de Lisboa) que atingiu Sevilha.



A fachada do Palacio Gótico, refeita em estilo neoclássico na segunda metade do século XVIII, a partir do Patio del Crucero. Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O conhecido como Salón de los Tapices do Palacio Gótico (um dos Salones de Carlos V) é uma dependência em estilo renascentista que abriga hoje as seis tapeçarias realizadas na década de 1730, por iniciativa de Zenón de Somodevilla y Bengoechea, Marquês de Ensenada, em substituição às originais flamengas, confeccionadas no século XVI, na oficina do mestre Willem de Pannemaker, tendo como tema a conquista de Túnis por Carlos I da Espanha (Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico) com base nos desenhos de Jan Cornelisz Vermeyen e de Pieter Coecke van Aelst.


As seis tapeçarias do século XVIII que estão em exposição nas paredes do Salón de los Tapices são: El Mapa, La Toma de la Goleta, La Toma de Túnez, Saqueo de Túnez, El Ejército Acampa en Rada e El Reembarque de la Goleta.



Salón de los Tapices (Salão dos Tapetes), no qual se encontram 6 (seis) tapeçarias confeccionadas pelo mestre flamengo Jacobo Vandergoten Canyuwell, o Jovem, na década de 1730, representando a conquista de Túnis por Carlos V, em 1535; na fotografia, da esquerda para direita, Reembarque de la Goleta, Toma de la Goleta e Saqueo de Túnez. Palacio Gótico, Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O próximo salão do Palacio Gótico é conhecido como Gran Salón, Sala de las Bóvedas ou Sala de Fiestas. Por essa sala se tem acesso aos jardins, e suas abóbadas em cruzaria (bóvedas de crucería) são originais, portanto, em estilo gótico. O nome "Sala de Fiestas" se deve ao fato de a celebração do casamento de Carlos V com Isabel de Portugal ter ocorrido no Alcázar de Sevilha.


Todas as paredes têm um friso de azulejos polícromos realizado por Cristóbal de Augusta em 1577, quando da reforma renascentista promovida por Felipe II da Espanha, no qual ele quis eternizar a recordação de seus pais. Nos painéis cerâmicos centrais são representados querubins, candelabros, cestos de flores e frutos, animais e dois personagens retratados: Carlos V e Isabel de Portugal. Flanqueando as cenas centrais surgem figuras mitológicas. No alto do friso, o lema "Plus Ultra" alternado com os escudos dos reinos espanhóis pertencentes ao Império de Carlos V.


Os panos de tela (conhecidos em espanhol como sargas ou colgaduras) policromos e neobarrocos que decoram a Sala de las Bóvedas foram pintados por Gustavo Bacarisas, por iniciativa de Alfonso XIII da Espanha, para decorar o Pavilhão Real Espanhol, por ocasião da "Exposición Iberoamericana de 1929", em Sevilha. A temática é conhecida como colombina, ou seja, faz referência à epopeia de Colombo, com seis obras; quatro panos relativos à própria saga do Descobrimento: Partida de las naves en el océano bajo la protección de la Virgen de los Navegantes, Las Carabelas Impulsadas por los Vientos del Atlántico, Llegada de las Naves Españolas y Desembarco en San Salvador en el Caribe e Llegada de las Naves de Colón al Puerto de Barcelona con Montjuic al fondo, e duas tapeçarias brasonadas, uma com o escudo da Coroa Espanhola no centro, a outra, o de Portugal, ambos cercados pelos escudos dos estados americanos participantes da amostra.



Sala de las Bóvedas; abóbadas em cruzaria e friso com azulejos policromos de Cristóbal de Augusta (1577); nas paredes, obras realizadas para o Pavilhão Real da Exposição Iberoamericana de 1929, em Sevilha, sob a direção de Gustavo Bacarisas: à esquerda, pano de tela Llegada de las Naves de Colón al Puerto de Barcelona con Montjuic al fondo, ao centro, tapeçaria com escudo da Coroa Espanhola rodeado por escudos de alguns estados latino-americanos que faziam parte da exposição, à direita, o pano de tela Las Carabelas Impulsadas por los Vientos del Atlántico. Palacio Gótico, Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Sevilha, Espanha.


O ponto mais alto dos Jardins do Alcázar de Sevilha é o Jardín del Mercurio: o seu tanque recolhia a água trazida pelo aqueduto construído pelos romanos, o qual foi reconstruído pelos almôadas para fornecer água aos palácios e jardins.


Nesse tanque renascentista, regido pela estátua de Mercúrio, esculpida por Bartolomé Morell, também escultor do Giraldillo, Felipe V da Espanha ouviu Farinelli, o mais famoso castrato italiano, até de manhã, em um barco, na tentativa de ter alívio de sua melancolia. Também nesse espelho d´'água foram ouvidos os versos do poema de Federico García Lorca, referente à morte do toureiro Sánchez Mejías, pela primeira vez.



Tanque de Mercúrio (Estanque de Mercurio), tendo em seu centro a escultura do deus Mercúrio; no fundo, à direita, a Galeria Grotesca (Galeria Grutesca), renascentista, desenhada por Vermondo Resta, no século XVII, que transformou o muro islâmico almôada nessa galeria com grotta e pinturas renascentistas, Jardines del Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Jardín de la Alcoba tem esse nome em razão de ter sido estruturado sobre a antiga Huerta de la Alcoba. Possui diversas fontes e um edifício conhecido como Pavilhão Carlos V.




Jardín de la Alcoba, no qual se vê o telhado do Pavilhão de Carlos V, de estilo mourisco. Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


De acordo com alguns estudiosos, era o Jardín de Troya o primeiro labirinto de plantas dos que existiam no Alcázar no século XVI. Apesar de o primeiro da história ser apontado como o de Creta, onde teria vivido o Minotauro, em razão de uma confusão de Creta com a mitológica Tróia, esta passou a dar o nome ao jardim sevilhano.


Uma das faces do jardim é fechada por uma rústica galeria, convertida de uma antiga muralha islâmica por Vermondo Resta no início do século XVII. Também árabe é a fonte central do pátio, do século X, posto que os Austrias mantiveram, nos Jardins do Alcázar, a antiga rede hidráulica islâmica, bem como algumas taças de fontes de estilo califal.


O Jardín de Troya serviu de inspiração ao pintor nascido em Valência Joaquín Sorolla, que o retratou várias vezes, jogando com as luzes e sombras existentes no espaço. O pintor admirava tanto o jardim que serviu de modelo para projetar sua própria casa de Madrid, hoje museu dedicado a ele.



Tela El Grustesco Alcázar de Sevilla, 1908, de Joaquín Sorolla. Representação do Jardín de Troya do Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.




Jardín de Troya; ao fundo, galeria com arcos de meio ponto e colunas de mármore dóricas, realizada por Lorenzo de Oviedo na segunda metade do século XV; ao centro, uma fonte islâmica em forma de taça do século X. Jardines del Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O Jardín de los Poetas foi engendrado em 1956 pelo poeta Joaquín Romero Murube e projetado por Javier Winthuysen Losada, paisagista nascido em Sevilha. O jardim é organizado em torno de um lençol de água, recriando o arquétipo do jardim sevilhano, um amálgama de influências islâmicas, renascentistas e românticas. Flanqueado por ciprestes, sua vegetação combina acantos, laranjeiras, rosas, sebes arbovitaes, dentre outras espécies.


O nome do jardim faz referência ao grupo literário Geração de 27, do qual participou o próprio Joaquín Romero, que transformou o local em ponto de encontro dos poetas Federico García Lorca, Juan Ramón Jiménez, Luis Cernuda e Vicente Aleixandre, dentre outros.



Jardín de los Poetas, com tanques centrais, ladeados por laranjeiras, sebes, ciprestes, etc.. Jardines del Real Alcázar de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


A Catedral de Santa María de la Sede foi construída sobre a Mesquita Maior, que tinha sido erguida no século XII, a partir de 1172, por ordem do emir e depois califa almôada Abú Yaqub Yusuf, também conhecido como Yaqub al-Mansur. Após a conquista cristã, implementada por Fernando III de Castela, o Santo, em 1248, o lugar de oração muçulmano foi transformado na Iglesia de Santa Maria; em 1251, é elevada à igreja-catedral dedicada à Assunção de Maria, e Fernando III é enterrado nela, diante do altar da Capilla de los Reyes.


Inicialmente, utilizou-se a estrutura da mesquita, com algumas modificações, como igreja católica, mas, em 1401, decidiu-se, em razão das más condições do antigo edifício, erguer um novo templo, em estilo gótico, que foi iniciado em 1434, mas a obra se estendeu até 1917, sempre mantendo-se, de forma geral, o estilo original.


É o maior templo católico de estilo gótico, mas há, em menor representação, algumas dependências que apresentam estilos renascentista, barroco, neoclássico e neobarroco.


Algumas dependências oriundas do edifício islâmico foram preservadas, mas com algumas modificações para atender ao fim essencial do prédio, ou seja, uma igreja cristã. As principais foram o campanário-minarete, conhecido como "la Giralda", e o Patio de los Naranjos.


La Giralda, que, antes, era o minarete da Grande Mesquita, escapou da destruição do restante da mesquita, sendo convertido em um campanário, após a conquista de Sevilha em 1248.


A construção do minarete (alminar) foi determinada pelo califa Abú Yaqub Yusuf, mas sua construção somente foi iniciada no governo do seu filho, o califa Abú Yusuf Yaqub, que subiu ao trono em 1184. Era de base quadrada, com outro corpo menor, também de base quadrada.


"As dinastias almorávida e almôada deixaram seus memoriais em grandes mesquitas em Andalus, Marrocos, Argélia e Tunínsia (...) O minarete, no Magreb, tendia a ser quadrado, com um quadrado menor erguendo-se de uma plataforma no topo. Alguns eram muito altos e destacados: o Giralda em Sevilha (...)." (pág. 200) - "Uma história dos povos árabes", de Albert Hourani, tradução de Marcos Santarrita, Companhia das Letras, São Paulo, 1994.


A parte inferior do minarete foi mantido, após a conquista cristã ocorrida em 1248, com exceção do topo, no qual foi substituído o yamur (uma barra vertical com duas até quatro esferas insertas) por um campanário.


O último corpo, após a deterioração sofrida no século XVI, foi substituído por um remate renascentista, projetado pelo arquiteto Hernán Ruiz, compondo um campanário de 24 sinos, iniciado em 1558 e acabado em 1565.


O "Giraldillo" original coroa o campanário-minarete, a uma altura de 97,52 metros; é o nome popular da escultura que é a alegoria da vitória cristã sobre os muçulmanos, cujas denominações oficiais são: Fe, triunfo de la Iglesia; Coloso de la Fe Vitoriosa; ou Alegoría de la Fortaleza de la Fe. Faz as vezes de um cata-vento e, exatamente em razão dessa capacidade de girar de acordo com a direção do vento recebeu o nome de Giralda, inicialmente, e, após esse nome ser aplicado à torre, passou a chamar-se "Giraldillo".


Possivelmente o desenho da figura foi de Luis de Vargas com a colaboração do arquiteto Hérnán Ruiz, el Joven, bem como a intervenção do fundidor Bartolomé Morel, que a realizou em 1568. A estatua de bronze mede 3,47 metros de altura e somente o corpo da escultura pesa cerca de 1,2 tonelada.



La Giralda, o minarete iniciado no século XII, durante a dominação almôada, transformado no campanário cristão; o corpo inferior islâmico, quadrado, tem decoração exterior baseado em vãos bíforos ou ajimezes, alguns com arcos de ferradura semicirculares ou polilobulados, rodeados por alfizes e acolhidos por outro grande arco lobulado apontado; nas calhas laterais há arcos murais que, vistos de longe, parecem uma rede de losangos; no campanário, realizado no século XVI por Hernán Ruiz, podem-se apreciar as quatro jarras de açucenas; arrematando o conjunto, a escultura conhecida como Giraldillo. Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Puerta del Príncipe ou Puerta de San Cristóbal está situada no braço sul do cruzeiro do edifício, pela qual as pessoas individualmente têm acesso à visita cultural e artística da catedral. Sua construção é relativamente recente - final do século XIX e concluída em 1917 -, mas o projeto de Adolfo Fernández Casanova respeitou o estilo geral gótico da catedral. O portal é flanqueado por duas grandes pilastras do século XVI.


Diante da porta, está colocada uma réplica em bronze da escultura o "Giraldillo", feita em 1998, pela fundação Codina de Madrid e as oficinas Albarrán de Manzanilla (Huelva) e Juan Alsonso (Madrid), bem como participaram os escultores José Antonio Márquez Pérez e Francisco Parra Garcia e os engenheiros técnicos Rafael López Palanco, Vicente Puchol, Ángel Dilla Martínez e Aniceto Mimbrero.


O "Giraldillo" original encontra-se no topo do campanário, como já explicado anteriormente.



Puerta del Príncipe ou Puerta de San Cristóbal, construída entre o final do século XIX e início do século XX, em estilo gótico, ladeada por duas pilastras gigantes do século XVI; no pátio em frente, encontra-se a réplica do "Giraldillo", uma figura feminina que segura na mão direita um grande escudo ou lábaro, que a torna um cata-vento, e na mão esquerda uma palma; o escudo vem unido a uma lança que tem no alto uma cruz cristã; sobre a cabeça da dama, um capacete rodeado por uma coroa no estilo do último período de Idade Média. Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


A Puerta de San Miguel encontra-se à direita da fachada principal da catedral e é dedicada ao Nascimento de Cristo, sendo obra do francês (bretão) Lorenzo Mercadante de Bretaña, na segunda metade do século XV. Nas pilastras laterais do portal, do mesmo artista, estão representados os quatros evangelistas, Mateus, Lucas, Marcos e João Evangelista, bem como San Laureano e San Hermenegildo. As pequenas esculturas nas arquivoltas da porta são de Pedro Millán, provavelmente discípulo de Lorenzo Mercadante.




Puerta del Nacimiento ou Puerta de San Miguel, em estilo gótico, século XV; arco da porta apontado, ogival ou quebrado; no tímpano, a representação em relevo do Nascimento de Jesus; embaixo, as imagens de, San Laureano (Bispo de Sevilha), San Marcos, San Juan Evangelista, San Lucas, San Mateus e San Hermenegildo (príncipe visigodo). Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.




Pintura "A Procissão da Imaculada Conceição nos degraus da Catedral de Sevilha", anônimo, 1730, Pavilhão da Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O Retábulo-Mor preside a Capilla Mayor, que está localizada na nave central, no seu trecho mais solene, onde se produz o cruzamento das naves principais da catedral. É considerado o maior da cristandade e feito de madeira policromada. Foi realizado em diversas fases por cerca de um século, começando com os traçados do escultor flamengo Pieter Dancart, que, em 1482, obteve um retábulo de quase 30 metros de altura por 20 metros de largura. Na sequência, surgiu outro mestre flamengo, entre 1497 a 1505. Depois, foi a vez do escultor Pedro Millán, que, por sua vez, foi substituído por Jorge Fernández Alemán e seu irmão Alejo até 1520. A partir de 1550, assumiram os trabalhos Roque Balduque, Juan Batista Vázquez e Pedro Heredia, tendo a obra escultórica sido concluída em 1564.


Em razão do grande tamanho do retábulo, foram representadas quarenta e quatro cenas em relevo, a maioria referente às vidas da Virgem Maria e de Jesus Cristo. Isso era muito comum nos templos e outros edifícios católicos, posto que grande parte da população cristã, inclusive religiosos, era analfabeta, e as passagens bíblicas eram melhor compreendidas quando representadas por imagens.


A capela que guarda o Retábulo-Mor está fechada por um grande portão de ferro forjado e dourado, por iniciativa do arcebispo Diego de Deza. A grade foi realizada, na primeira metade do século XVI, pelo frade dominicano e ferreiro forjeiro Francisco de Salamanca, auxiliado por Juan de Yepes e Antonio de Palencia.




Retábulo-Mor (1482-1564); visível na fotografia, no primeiro corpo, as cenas, à esquerda, da "Anunciação", ao centro, do "Nascimento de Jesus" e, à direita, da "Matança dos Inocentes"; no segundo corpo, as cenas, à esquerda, da "Ressureição de Lázaro", ao centro, da "Assunção da Virgem Maria" e, à direita, da "Entrada de Jesus Cristo em Jerusalém"; à frente, Portão da Capela Maior, do século XVI, de ferro forjado, composto de um corpo inferior, com seis colunas coríntias, arrematado por um friso contendo umas molduras ornamentais e um círculo central com o rosto de Jesus; e de um corpo superior, com seis colunas mais estilizadas, sobre as quais há uma franja de círculos com personagens bíblicos, e, em cima dela uma representação do "Santo Enterro". Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.




Detalhe do Retábulo-Mor, no qual se vê, no centro, a imagem da Virgen de la Sede (Virgem da Sé), do século XIII, titular do templo, e, na sua frente, o Tabernáculo do Altar-Mor em ouro e prata, obra de Francisco de Alfaro, 1593-1596; no centro do primeiro corpo do retábulo, a cena do "Nascimento de Jesus". Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Um dos personagens mais conhecidos e polêmicos da história universal, o grande navegador, identificado como genovês, Cristóvão Colombo tem seus restos mortais depositados em um monumento edificado no interior da Catedral de Sevilha.


Colombo começou seu contato com os mares por meio da navegação de cabotagem para fins comerciais, mas, autodidata, aprendeu línguas clássicas que lhe permitiram ler tratados geográficos antigos, tomando conhecimento das teorias que defendiam a esfericidade da Terra, como a de Aristóteles, bem como mantendo relações com geógrafos da época que comungavam com a mesma ideia.


Com base nesse pensamento, Colombo entendeu que era possível navegar pelo oceano na direção oeste até alcançar a costa leste da Ásia, o que era reforçado pela informação trazida por alguns marinheiros portugueses, acostumados a singrar as águas atlânticas, da existência de ilhas que poderiam servir de escala na navegação transoceânica.


Inicialmente, Colombo apresentou seu projeto ao Rei João II de Portugal, mas as tratativas não evoluíram, tendo o navegador, na sequência, oferecido ao Duque de Medina Sidônia e aos Reis Católicos, na Espanha, mas não teve melhor sorte.


Após muita insistência, por ocasião da tomada do Reino Nacérida de Granada em 1492 pelos Reis Católicos, Isabel I da Espanha aprovou o projeto de Colombo, outorgando-lhe, nas próprias Capitulaciones de Santa Fe, privilégios em compensação à sua arriscada empresa, bem como financiado uma frota de três caravelas - Santa María, Niña e Pinta -, com as quais partiu o italiano de Palos de la Frontera, em 3 de agosto de 1492.


Em 12 de outubro de 1492, Colombo e sua tripulação chegaram à ilha de Guanahaní, que ele denominou San Salvador, nas Bahamas, acreditando estar desembarcando nas "Índias"; depois descobriu Cuba e La Española (Santo Domingo), tendo instalado, nesta última, um forte erguido com os restos do naufrágio que sofreu a caravela Santa María.


Colombo ainda realizou mais quatro viagens, nas quais chegou a Cuba, Porto Rico, Jamaica, Trindade e no continente americano propriamente dito, no delta do rio Orinoco, na atual Venezuela.


Colombo faleceu em Valladolid, em 1506. Por desejo de seu filho, Diego, os restos mortais do pai terminaram por ser transladados, por volta de 1544, para Santo Domingo, na então ilha La Española, (hoje, capital da República Dominicana); após a conquista de Santo Domingo pelos franceses, os despojos de Colombo foram parar na Catedral de Havana, mas, após a independência de Cuba, em 1898, os restos mortais foram trazidos para a Catedral de Sevilha.


No monumento da tumba de Colombo, projetado por Arturo Mélida e concluído em 1899, são representados os quatro reinos espanhóis, na época do Descobrimento - Castela, Leão, Aragão e Navarra - sustentando o féretro.



Tumba de Cristóvão Colombo; nessa tomada fotográfica, são vistas, à frente, as figuras humanas que representam os Reinos de Castela (no peito, um castelo) e de Leão (no peito, a figura heráldica do animal). Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



Tumba de Cristóvão Colombo (Cristóbal Colón); na tomada fotográfica lateral, veem-se, no primeiro plano, as figuras humanas representando os Reinos de Aragão e de Castela, no segundo, as dos Reinos de Navarra e de Leão, carregando o caixão fúnebre. Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Na catedral também encontra-se enterrado um dos filhos de Colombo, Fernando, que, ao longo de sua vida, foi viajante, cosmógrafo, matemático, historiador e biógrafo de seu pai. Faleceu em 1539, em Sevilha, tendo escrito uma obra sobre a vida e as viagens do pai, conhecida hoje como a "Historia del Almirante".



Lápide da tumba de Fernando Colombo (Hernando Colón): "Aqui jaz Dom Fernando Colombo, filho de Dom Cristóvão Colombo, primeiro almirante que descobriu as Índias, que sendo da idade de 50 anos e 9 meses e 14 dias e havendo trabalhado o que pode pelo aumento das letras, faleceu em 12 dias do mês de julho de 1539 e 33 anos depois do falecimento de seu pai, rogai a Deus por eles". Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.




Cúpula da Catedral de Sevilha, vista a partir de La Giralda; à esquerda, o Real Alcázar; à direita, o prédio do Arquivo Geral das Índias. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.




Sinos do Campanário, na parte superior de La Giralda, Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.




Pintura de Santa Teresa d'Ávila, atribuída a um discípulo do pintor Zubarán, entre 1641-1658, Sacristía Mayor, Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



Altar de Prata ou do Jubileu, obra de Juan Laureano de Pina, 1688; sobre ele, a pintura "El Dogma de la Inmaculada Concepción", de Alfonso Groso, 1954. Nave do cruzeiro norte da Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


No nosso post "Andaluzia - Parte I", quando falamos sobre a Mezquita de Córdoba, explicamos como eram divididos os espaços básicos das mesquitas andaluzes: um pátio de abluções (sahn) e uma sala de orações (haram). O pátio era utilizado para descanso e para as abluções (rituais de limpeza), feitas em uma fonte antes de iniciar as orações.


No caso da antiga Mesquita Maior de Sevilha, quase nada restou da sala de orações (haram), hoje ocupada pela Catedral Gótica.


Mas o antigo pátio (sahn) da mesquita, hoje conhecido como "Patio de los Naranjos", ainda guarda basicamente sua estrutura original, configurada com pilares que apoiam arcos de ferraduras apontados, apesar das sucessivas restaurações pelas quais passou ao longo do tempo.


Há uma fonte moderna em seu centro que substituiu o antigo sabil (fonte pública para as abluções), porém, a taça superior é visigoda, portanto, é a mesma que existia na primitiva fonte almôada, na qual os muçulmanos faziam seus rituais de limpeza antes de ingressarem na sala de orações; das três galerias originais do pátio, restaram duas, já que uma delas, a do lado do poente, foi demolida para a construção da Iglesia del Sagrario.


Na parte descoberta do pátio hoje tem-se uma rígida ordenação de laranjeiras (por isso Patio de los Naranjos), cujos espaços ao redor do pé das árvores estão conectados por meio de uma rede de canais que desenham figuras geométricas e que ainda são utilizados para o fluxo da água.


O pátio tem duas portas para o exterior e outras duas que dão acesso à Catedral e a Iglesia del Sagrario.




Patio de los Naranjos; a fonte moderna tendo, no seu centro, a taça visigoda, utilizada, na época muçulmana, para os fiéis islâmicos fazerem as abluções; ao fundo, uma das laterais da Iglesia del Sagrario. Catedral de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


A seguir, no próximo post, continuamos nossa aventura por Sevilha.


Fontes: 1) Wikipedia; 2) "España" Guías Visuales, DK El Pais Aguilar, Octava edición, Santillana Ediciones Generales, S. I. Madrid, 2011; Sítio oficial "https://www.catedraldesevilla.es"; Sítio oficial "https://www.alcazarsevilla.org".











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