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Andaluzia - Parte V - Sul da Espanha - 2009

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 27 de mai. de 2021
  • 15 min de leitura

La Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Continuação de Granada - La Alhambra


Essas mudanças realizadas na estrutura governamental pelos Reis Católicos no último terço do século XV, com reflexos políticos e administrativos, mas também sociais, culturais e religiosos, visando à criação de um Estado Moderno, com a presença dos elementos clássicos - governo, território e população (se possível, a maioria da mesma etnia, cultura e religião) - não se circunscreveram àquele espaço-tempo, mas se prolongaram pelos séculos e pelos rincões do mundo, trazendo progressos materiais, sociais e culturais, mas também desolação, angústia e um sentimento de não-pertencimento, que, em muitos casos, redundariam em uma visão fundamentalista religiosa.


A intransigência com os valores da velha ordem surge logo após a conquista cristã de Granada. Os judeus e islâmicos (descendentes de árabes, berberes e mesmo de hispanos convertidos), que viveram, com mais ou menos tolerância, por quase 8 séculos em Al-Andalus, de uma hora para outra se viram forçados a se converter ao Cristianismo ou abandonar a terra na qual seus antepassados labutaram, prosperaram e produziram frutos, muitas vezes sem direito de negociar seus bens imóveis e/ou levar consigo seus pertences.


E assim, órfãos de pátria e terra, empobrecidos, se espalharam pelo mundo, mas carregando consigo os sentimentos de desrespeito e de ingratidão.


De maneira magistral, a ex-freira, professora de literatura moderna e escritora Karen Armstrong, no seu livro "Em Nome de Deus", explana sobre esses acontecimentos que ainda trazem reflexos às ações atuais:


"Em 1492, ocorreram na Espanha três acontecimentos muito importantes. Tais fatos, extraordinários na visão da época, hoje nos parecem característicos da nova sociedade que, no final do século XV e no decorrer dos dois séculos seguintes, surgia, lenta e penosamente, na Europa ocidental. Como nossa cultura ocidental moderna se desenvolveu nesse período, o ano de 1492 também esclarece parte de nossas preocupações e de nossos dilemas. O primeiro fato ocorreu em 2 de janeiro, quando os exércitos de Fernando e Isabel, os Réis Católicos, cujo casamento acabara de unir os antigos reinos ibéricos de Aragão e Castela, conquistaram a cidade-Estado de Granada. A multidão viu com profunda emoção o estandarte cristão hasteado nos muros da cidade, e, quando a notícia se difundiu, os sinos repicaram triunfalmente em toda a Europa, pois Granada era o último baluarte islâmico no seio da cristandade. As cruzadas contra o Islã fracassaram, porém os muçulmanos foram expulsos da Europa. Em 1499 os muçulmanos que viviam na Espanha puderam escolher entre a conversão ao cristianismo e a deportação; depois disso a Europa ficaria livre deles por alguns séculos. O segundo acontecimento desse ano momentoso deu-se em 31 de março, quando Fernando e Isabel assinaram o Edito de Expulsão, que baniria os judeus da Espanha, aos quais também se apresentou a possibilidade de optar pelo batismo ou pelo desterro. Muitos deles eram tão apegados a 'al-Andalus' (nome árabe do antigo reino islâmico) que se converteram à fé cristã e permaneceram na Espanha; entretanto cerca de 80 mil judeus partiram para Portugal e 50 mil fugiram para o novo Império Otomano, onde tiveram calorosa acolhida. O terceiro fato refere-se a uma das figuras presentes à ocupação cristã de Granada. Em agosto Cristóvão Colombo, protegido de Fernando e Isabel, zarpou da Espanha com o objetivo de encontrar uma nova rota comercial para a Índia e descobriu a América.


"Esses acontecimentos refletem a glória e a desolação dos primeiros tempos do período moderno. Como a viagem de Colombo demonstrou, os europeus estavam prestes a ingressar num mundo novo. Estavam ampliando seus horizontes e aventurando-se em territórios até então desconhecidos do ponto de vista geográfico, intelectual, social, econômico e político. Com suas conquistas dominariam o planeta. No entanto a modernidade tinha um lado sombrio. A Espanha cristã era um dos reinos mais poderosos e avançados da Europa. Fernando e Isabel estavam criando um dos Estados centralizados modernos que surgiam também em outras partes da cristandade. Tal reino não toleraria as velhas instituições autônomas, como guilda, a corporação, a comunidade judaica, que caracterizaram o período medieval. À unificação da Espanha, concluída com a conquista de Granada, seguiu-se uma limpeza étnica que desalojou judeus e muçulmanos. A modernidade foi, para alguns, fortalecedora, libertadora, fascinante. Para outros significou - e continuaria significando - coerção, invasão, destruição. A situação se manteria com a difusão da modernidade ocidental a outros pontos do globo. O programa de modernização era progressista e acabaria por promover valores humanos, mas também era agressivo. No século XX algumas das pessoas que vivenciaram a modernidade basicamente como um ataque se tornariam fundamentalistas. (págs. 21-22).


"(...)


"(...) Na Espanha as principais vítimas foram os judeus, cuja reação a essa modernidade agressiva examinaremos neste capítulo. Sua experiência ilustra muitas das reações à modernização em outros pontos do planeta.


"A Reconquista dos antigos territórios muçulmanos de al-Andalus constituiu uma catástrofe para os judeus da Ibéria. No Estado islâmico as três religiões - judaísmo, cristianismo e islamismo - conviveram em relativa harmonia por mais de seiscentos anos. Os judeus em particular viveram na Espanha uma renascença cultural e espiritual e não sofreram os pogroms que atormentavam seu povo no restante da Europa. Contudo, à medida que avançava pela península, conquistando mais e mais territórios ao Islã, o exército dos Reis Católicos levava junto seu antissemitismo. Em 1378 e 1391 os cristãos atacaram as comunidades judaicas de Aragão e Castela, arrastaram seus moradores até a pia batismal e, ameaçando matá-los, obrigaram-nos a converter-se ao cristianismo. Em Aragão os sermões do dominicano Vicente Ferrer (1350-1419) frequentemente inspiravam desordens antissemitas; e o frade ainda organizava debates públicos entre rabinos e cristãos com o objetivo de desacreditar o judaísmo. Alguns judeus tentaram evitar a perseguição abraçando voluntariamente o cristianismo. Oficialmente denominados conversos, eram chamados pelos cristãos de marranos ('porcos'), designação ofensiva que alguns deles assumiram com orgulho. Os rabinos condenavam a conversão, mas a princípio os cristãos-novos conquistaram fortuna e sucesso. Alguns galgaram altas posições no clero; outros se casaram com membros de ótimas famílias; e muitos enriqueceram no comércio. Com isso criaram novos problemas, pois os cristãos-velhos se revoltaram com sua mobilidade ascendente. Entre 1449 e 1474 investiram muitas vezes contra os marranos, matando-os, destruindo suas propriedades ou expulsando-os da cidade.


"Tal situação alarmava Fernando e Isabel. Ao invés de manter seu reino unido, a conversão dos judeus estava provocando outras divisões. Também preocupavam os soberanos as notícias de que alguns cristãos-novos retornavam à antiga crença e a professavam secretamente. (...) Os inquisidores receberam ordem de prender esses judeus, que, acreditava-se, seriam identificados por abster-se de comer carne de porco ou de trabalhar aos sábados. Os suspeitos sofriam torturas até confessar sua infidelidade e denunciar outros 'judaizantes' clandestinos. Assim a Inquisição matou cerca de treze mil conversos nos doze primeiros anos de sua existência. (...).


Quando conquistaram Granada, em 1492, Fernando e Isabel herdaram a enorme população judaica da cidade. Considerando a situação incontrolável, assinaram o Edito da Expulsão para resolver de uma vez por todas o problema dos judeus na Espanha. (...) Os judeus do mundo inteiro choraram o desaparecimento da população judaica espanhola como a maior catástrofe que se abatera sobre eles desde a destruição do Templo de Jerusalém, em 70 d.C., quando perderam sua terra e foram obrigados a exilar-se em comunidades dispersas, fora da Palestina., conhecidas coletivamente como Diáspora. A partir de então o exílio se tornou um tema constante e doloroso em sua vida. A expulsão da Espanha em 1492 ocorreu no final de um século em que os judeus foram rechaçados de vários locais da Europa (...)" - (págs. 25-26).

"(...)


"Em 1492 o povo judeu foi uma das primeiras vítimas da nova ordem que lentamente surgia no Ocidente. A outra foram os muçulmanos da Espanha, que nesse ano momentoso perderam seu último baluarte na Europa. (...) - (pág. 51).


"(...)


"(...) No início do período moderno, porém, numa tentativa de preservar uma tradição que havia sido destruída, os sunitas resolveram que não devia mais haver espaço para o pensamento independente. As respostas estavam no lugar de sempre: a Shariah prescrevia a conduta da sociedade, e o ijtihad não era nem necessário, nem desejável. Os muçulmanos deveriam imitar (taqlid) o passado. Em vez de buscar novas soluções, deviam submeter-se às normas contidas nos manuais legais. No começo da modernidade a inovação (bidah) em matéria de lei e prática era tão subversiva e perigosa para o islamismo sunita quanto a heresia em matéria de doutrina para o Ocidente cristão.


"(...)


"Assim como é difícil - até mesmo impossível - para a sociedade ocidental, que institucionalizou as mudanças, compreender inteiramente o papel da mitologia, assim também é muito difícil - talvez impossível - para a espiritualidade conservadora aceitar a dinâmica progressista da cultura moderna. Também é extremamente difícil para os modernistas entenderem pessoas que ainda se orientam por valores místicos tradicionais. No mundo islâmico de hoje alguns muçulmanos se preocupam muito com as duas coisas. Primeiro, abominam o secularismo da sociedade ocidental, que separa a religião da política, a Igreja do Estado. Segundo, gostariam de ver suas sociedades governadas de acordo com a Shariah, a lei sagrada do Islã. Isso é terrivelmente desconcertante para quem se criou no espírito moderno e teme, com razão, que o poder clerical freie o progresso constante, fundamental para uma sociedade saudável. Para esse indivíduo as separação entre Igreja e Estado representou uma libertação, e a ideia de uma instituição inquisitorial, fechando as 'portas do ijtihad', provoca-lhe calafrios. Da mesma forma a ideia de uma lei revelada por uma divindade é incompatível com o etos moderno. Os secularistas modernos repudiam a noção de uma lei inalterável, imposta à humanidade por um ser sobre-humano. Consideram a lei um produto do logos, e não do mythos; a lei é racional e pragmática e deve ser modificada de quando em quando para adequar-se às circunstâncias. No que diz respeito a essas questões cruciais um abismo separa, portanto, o modernista do fundamentalismo muçulmano." (págs. 54-55) - "Em nome de Deus: fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo", de Karen Armstrong, tradução de Hildegard Feist, Companhia das Letras, São Paulo, 2001.


Mas pelo menos os islâmicos de Al-Andalus deixaram à Humanidade, em Granada, uma herança belíssima de arquitetura e paisagismo de um valor inestimável: la Alhambra.


La Alhambra é um conjunto monumental andaluz, situado na colina de la Sabika, em Granada. É formado por palácios antigos, jardins e uma fortaleza (alcazaba) e foi concebido para ser a corte e a residência dos emires nacéridas. A decoração das paredes internas e dos tetos dos palácios, apesar da modéstia do material empregado - gesso, madeira e azulejo - são um prodígio de luxo e refinamento, contrastando com a estrutura austera do exterior.


Os que mais contribuíram para o embelezamento do conjunto foram os emires nacéridas Ismael I (1314-1325), responsável pelos jardins e pavilhões do Generalife; Yusuf I (1333-1354) e Mohamed V, período no qual foram construídos o complexo do pátio de los Arrayanes e o de los Leones. Há três setores bem diferenciados do conjunto: a alcazaba, a trama urbana e os palácios.



La Alhambra, vista do bairro Albaicín; da esquerda para direita, a Torre de Comares, a de las Armas e a del Homenaje, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



Acesso pelo bosque de la Alhambra; ao fundo, líderes religiosos islâmicos acompanhados de duas mulheres vestidas com burcas pretas. Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


A alcazaba é o recinto localizado na parte mais oeste da colina de la Sabika, de forma trapezoidal irregular, constituindo a zona militar e sendo a parte mais antiga de la Alhambra. As primeiras construções correspondem à época califal, no século XI.



Muralhas da Alcazaba, la Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Torre de la Vela, construída entre 1238 e 1273, sendo a maior torre de defensa do conjunto militar (alcazaba).



Torre de Vela, Alcazaba, la Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


A Puerta del Vino, diz-se, é uma das construções mais antigas de la Alhambra, possivelmente da época de Mohamed II, início do século XIV.



Fachada interna da Puerta del Vino de la Alhambra; possui um arco de ferradura apontado e aduelas de cor vermelha; sobre o arco, um balcão duplo com treliças. Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


A Sala de Mexuar é a mais antiga do conjunto palaciano, pertencente, tudo leva a crer, a uma estrutura anterior aos Palacios de Comares e de los Leones; servia de sala de audiência e justiça para casos importantes. Possuía uma câmara elevada fechada por treliças onde se sentava o emir ou sultão para escutar sem ser visto.



Entrada da Sala de Mexuar; acima e ao redor da porta pode ser vista a decoração em gesso com arabescos. La Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.




Interior da Sala de Mexuar; quatro colunas no centro da sala, com mísulas de muqarnas (moçárabes), la Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O Patio de Mexuar, também conhecido como Patio del Cuarto Dorado, é a continuação da Sala de Mexuar. É um pequeno pátio com uma fonte no centro, com o Cuarto Dorado à esquerda (norte) e a fachada do Palacio de Comares à direita (sul).


Fachada do lado sul do Patio de Mexuar (Palacio de Comares); nela veem-se duas portas com lintéis iguais, emolduradas com azulejos, e decoração de gesso; acima têm-se duas janelas duplas com arcos fechados com treliças e outra menor, no meio, rodeada de inscrições do Alcorão; a parede toda está decorada com belíssimos adornos e numerosas inscrições. La Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O Palacio de Comares foi construído em torno do Patio de los Arrayanes, tendo sido iniciado pelo emir nacérida Ismael I de Granada, depois continuado por Yusuf I, e, após o seu assassinato, foi concluído por Muhamed V, em 1370. Provavelmente o palácio principal era a residência oficial do monarca, sede do poder executivo, enquanto os prédios contíguos serviam ao poder judiciário e administrativo.


O Patio de los Arrayanes é a parte central do Palacio de Comares. Ao lado do grande tanque, de 34 por 7,10 metros, existem os arrayanes (mirtos), que dão nome ao pátio. Nele pode-se encontrar um dos temas ambientais de la Alhambra, a água. O tanque, que divide o pátio longitudinalmente, também atua como espelho, refletindo a luz nos ambientes que o rodeiam.



A Galeria Sul do Patio de los Arrayanes tem, nos seus extremos, armários embutidos com muqarnas (moçárabes); na parte superior, seis arcos e um lintel mais elevado no centro, com sapatas de madeira, escalonadas e cobertas por arabescos. Palacio de Comares, la Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.




O Patio de Arrayanes, com seu grande tanque ladeado por mirtos verdes que contrastam com o piso de mármore branco. Palacio de Comares, la Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O Salón de Embajadores (Salão dos Embaixadores), que fica no interior da Torre de Comores, é a dependência mais majestosa do palácio e era onde se encontrava o trono e se realizavam as recepções oficiais, por isso o nome pelo qual ele é conhecido.


É uma sala quadrada, de 11,30 metros de lado e de 18,20 metros de altura, originalmente com piso de mármore (hoje são lajotas de barro). Uma das paredes possui um duplo arco que faz a comunicação com a Sala de la Barca. As outras têm, cada uma, três arcos que dão para camarins abertos no grosso muro de 2,5 metros de espessura, com balcões duplos e janelas acima.


O salão está coberto de inscrições decorativas; os nichos de todos os tamanhos, os arcos, as paredes, os camarins estão repletos de poemas, de louvores a Deus, ao emir, do lema dos nacéridas, dos textos do Alcorão.


Diz-se que o teto representa os setes céus da cosmologia islâmica.

Salón de Embajadores; em destaque, os arcos que dão para camarins, com balcões gêmeos e janelas acima; as paredes decoradas com arabescos e inscrições em árabe. Palacio de Comores, la Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O Palacio de los Leones era onde ficavam as dependências privadas da família real. Obra majestosa idealizada pelo emir Mohamed V.


É com esse palácio que a arte nacérida atinge seu máximo esplendor; é uma beleza de uma sensibilidade e de uma harmonia singulares, onde a água, a luz, as cores, a linda decoração tornam esse lugar um prazer para os sentidos.


O Palacio de los Leones é composto por um pátio central com galerias de colunas, como se fosse um claustro cristão, que dão acesso às salas de los Moçárabes, de los Reyes, de Dos Hermanas, Ajimeces, Mirador de Daraxa, de los Abencerrajes e del Harén.


O Patio de los Leones é o lugar mais famoso de la Alhambra. Seu nome vem dos doze leões que sustentam a fonte de mármore branco que ocupa o centro do pátio, uma grande taça de forma dodecagonal. O pátio de planta retangular tem seus pavilhões laterais sustentados por 124 colunas de mármore branco, tendo na parte superior um grande quantidade de anéis suportando capitéis cúbicos e grandes ábacos, decorados com inscrições e arabescos. Sob o friso de madeira talhada existem arcos de gesso.



Patio de los Leones, com suas colunas, capitéis, anéis, inscrições e arabescos, um conjunto harmonioso e delicado. Palacio de los Leones, la Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


A Sala de los Abencerrajes, que faz parte do Palacio de los Leones, tem um quadrado central com alcovas nas laterais, arcos primorosamente decorados, cujas colunas têm capitéis azuis e tetos pintados. As paredes se apresentam cobertas de gesso, e sobre oitos trompas de muqarnas vê-se uma magnífica cúpula também de muqarnas. As janelas situadas no alto da cúpula deixam entrar uma luz tênue que ilumina as muqarnas, dando-lhes um aspecto mágico.


Cabe aqui uma explicação para quem não tem muita intimidade com a arquitetura tradicional islâmica: muqarnas são uma forma de decoração arquitetônica em forma de abóboda, subdividida em um elevado número de abóbodas em miniatura, que formam uma estrutura celular; são conhecidas também como abóbodas "favos de mel" ou "teto de teorema de Pitágoras".



Cúpula da Sala de los Abencerrajes, uma abóboda formada por um grande número de abóbodas - as abóbodas "favos de mel" -, as muqarnas; no alto, janelas que deixam entrar uma tênue iluminação, causando um efeito mágico. Palacio de los Leones, la Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


A Sala de Dos Hermanas era o centro de um conjunto de habitações que serviam de residência à Sultana e sua família real, e se sabe que a mãe de Boabdil viveu aqui com seus filhos, depois de ser repudiada pelo sultão nacérida Muley Hacén. A sua entrada se dá por um arco semicircular recortado, ainda com as portas de madeira originais. O mais impressionante é sua cúpula de muqarnas que são encontradas no teto, iluminada por janelinhas laterais, transformando-a em uma maravilhosa flor. As paredes estão cobertas de finíssimos gessos com variados motivos.



Sala de Dos Hermanas, com sua entrada em forma de arco, suas paredes cobertas de gesso com inscrições e arabescos, e, na base da cúpula, trompas de esquina de muqarnas (favos de mel). Palacio de los Leones, la Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


O Palacete del Partal é o que restou da residência do sultão Mohamed III, construída no início do século XIV, o mais ao norte e o mais antigo dos palacios de la Alhambra. Fica em torno de um grande pátio retangular com tanque e pórtico no lado norte. No início da dinastia Nacérida, esse palácio era a zona principal, mas com a edificação do Palacio de Comares, se tornou marginal. Deve seu nome à palavra árabe que significa pórtico.



Palacete del Partal, um grande espelho d'água com um pórtico ao norte, o que restou do primeiro palácio da dinastia Nacérida. La Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Patio de Lindaraja ou Jardín de Daraxa, também chamado de los Naranjos ou de los Mármoles, foi construído entre 1526 e 1538, sendo delimitado pelo Mirador de Daraxa, Sala de Dos Hermanas, habitações de Carlos I (Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico) e pelas galerias do Imperador.


No jardim, podem ser encontrados ciprestes, acácias, laranjeiras e buxinhos, ao redor da grande fonte de mármore.


Patio de Lindaraja ou Daraxa; em destaque a fonte de mármore e as galerias porticadas. La Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Há de se considerar que os monarcas espanhóis, certamente em razão da singular beleza do conjunto palaciano criado pela dinastia muçulmana Nacérida, fizeram questão de conservá-lo da melhor forma possível. A grande intervenção dos espanhóis em la Alhambra vai ocorrer no reinado de Carlos I (Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico), que mandou construir um palácio renascentista, tendo, com isso, que derrubar uma pequena parte do Palacio de Comares. Mas, a se julgar a ausência de preocupação, naquela época, com o legado histórico, ainda mais deixado por inimigo secular, nos foi uma grata surpresa observar que os reis cristãos decidiram manter quase incólumes construções deixadas pelos soberanos islâmicos.


Como já dito acima, o Palacio de Carlos V foi uma iniciativa desse imperador, quando de seu casamento com Isabel de Portugal, celebrado em Sevilha em 1526. Após a boda, o casal residiu vários meses em la Alhambra, ocasião em que os recém-casados ficaram impressionados com os palácios nacéridas. Em razão disso, deixaram determinada a construção do novo palácio com a intenção de estabelecer residência em la Alhambra granadina.


Como destacou a historiadora Maria del Hierro, em seu livro "Historia de España":


"La Alhambra, testemunho de Al-Andalus (...) Sua magnificência e sobretudo sua condição de último reduto nacérida lhe concederam o privilégio de escapar da picareta cristã e, ao contrário do que se passou com a Grande Mesquita ou outras edificações árabes, ainda permanece em pé. Após a conquista de Granada pelos Reis Católicos, estes incorporaram o suntuoso palácio nacérida às possessões da Coroa. Os monarcas encomendaram sua redecoração ao artista mourisco Francisco de las Maderas, que mostrou ter sensibilidade suficiente para conservar sua estrutura básica e deixar incólumes elementos tão característicos como as caligrafias que adornam o patio de los Leones ou as pinturas da sala de los Reyes. Desde então, superando catástrofes, saques e rapinagem, la Alhambra manteve sempre sua estrutura primitiva, apesar da adição de elementos tão alheios a ela como o palácio renascentista de Carlos V, levantado em seu recinto." (tradução livre do espanhol - pág. 46) "Historia de España", de María Pilar Queralt del Hierro, Susaeta Ediciones S.A., Tikal Ediciones, Madrid, 2006.


O responsável pela obra foi o arquiteto Pedro Machuca, um apaixonado pelo estilo renascentista, com grande experiência na profissão. A edificação foi iniciada em 1527, porém, em razão de muitos problemas orçamentários e de execução, só foi finalizada, segundo dizem alguns estudiosos, em 1957.


O palácio é quadrado, com uma fachada principal de 63 metros de frente por 17 metros de altura. Apesar da forma externa do edifício, o pátio central do palácio é circular, sendo único em seu estilo e a obra mais destacada do renascimento espanhol.



Fachada oeste do Palacio de Carlos V, estilo renascentista com detalhes maneiristas; o nível inferior da fachada é de ordem toscana completamente almofadada, em cujas pilastras estão inseridos grandes anéis de bronze decorados; no nível superior, é da ordem jônica e suas pilastras se alternam com vãos com lintel ou frontão. La Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.



Pátio interno do Palacio de Carlos V; círculo perfeito; andar inferior tem uma colunata dórica de pedra pudim com entablamento ortodoxo, formado por tríglifos e métopas com motivos de guirlandas e bucrânios; o superior é formado por uma colunata jônica, mais leve, com entablamento liso. La Alhambra, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.


Continuamos, no próximo post, em Granada, para visitarmos o Generalife.


Fontes: Wikipedia e "España" Guías Visuales, DK El Pais Aguilar, Octava edición, Santillana Ediciones Generales, S. I. Madrid, 2011.


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