top of page

Cartagena de Indias - Parte II - Colômbia - 2011

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 6 de ago. de 2023
  • 15 min de leitura

Guarita do Baluarte de Santa Catalina (n. 6 do mapa de Nicolas de Fer), Muralhas de Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.



Cartagena de Indias - II


Continuamos nosso passeio pelo recinto amuralhado de Cartagena de Indias.




Mapa das Cidades, Fortalezas, Porto, Enseada e Arredores de Cartagena, de autoria do cartógrafo e geógrafo francês Nicolas de Fer, 1705.

https://abcblogs.abc.es/espejo-de-navegantes/wp-content/uploads/sites/99/2014/12/Mapa-de-las-ciudades-fortalezas-puerto-rada-y-alrededores-de-Cartagena.-Nilcolas-de-Fer-Hecho-con-privilegio-del-Rey1700.Colecci%C3%B3n-particular.jpg


Na sequência, visitamos a Catedral de Santa Catalina de Alejandría.


A fachada lateral da catedral está voltada para a Plaza de la Proclamación, enquanto a fachada principal fica na Calle de los Santos de Piedra, cuja nome se refere às esculturas de pedra que decoravam a fachada anteriormente.

O templo católico foi erguido entre 1577 e 1612, em substituição a uma singela igreja de madeira e junco.


Há um episódio muito marcante no período de construção, quando o templo estava quase concluído; foi o ataque promovido pelo corsário inglês Francis Drake, em 1586, a Cartagena de Indias.


Na ocasião, após ter provocado uma grande destruição à cidade, Drake exigiu dos habitantes um alto resgate para liberar a região urbana; como os residentes se negaram a pagá-lo, Drake ameaçou destruir a Catedral, que então era o bem mais precioso da cidade, com tiros de canhões; em seguida, deu um primeiro disparo de advertência, o suficiente para abalar seriamente sua estrutura, atingindo a bala uma das colunas, derrubando-a e levando consigo mais duas; quatro arcos que sustentavam as três colunas e parte do telhado também ruíram; diante desses estragos, os cartageneros pagaram cerca de 110.000 ducados de prata, e o corsário inglês se retirou, não danificando o restante da cidade.


Após sua restauração, a estrutura original da catedral foi conservada quase sem alterações, exceto algumas reformas promovidas pelo arcebispo Pedro Adán Brioschi durante sua gestão, entre 1898 e 1943, como a mudança dos tetos das naves laterais, que eram terraços e foram substituídos por telhas, a eliminação de parte do coro e da sala capitular, e, nas primeiras décadas do século XX, a fachada e a torre foram remodeladas, esta última projeto do arquiteto francês Gastón Lelarge (o mesmo que projetou o Palacio Liévano, em Bogotá, citado no nosso post Bogotá - Parte II), que acrescentou uma cúpula com lanterna, estilo arquitetônico neorrenascentista.


Quando da remodelação da fachada principal, os chamados "santos de piedra", que representavam São Pedro, São Paulo, São Gregório e São Sebastião, foram retirados de seus nichos e substituídos por outros feitos de mármore por um escultor italiano, imagens de São Luis Bertrán, São Sebastião, Santa Rosa de Lima e Santa Catarina de Alexandria.


As peças que mais se destacam no interior do templo são o púlpito de mármore, de estilo florentino, tendo em alto-relevo as esculturas dos quatro evangelistas São Marcos, São Mateus, São Lucas e São João, e o altar-mor, um retábulo de madeira dourada, na qual se encontra uma imagem de Santa Catarina de Alexandria segurando uma espada.


Tanto o púlpito como a custódia processual e o piso de mármore foram instalados na Catedral na época em que a regia o prelado frei José Díaz de Lamadrid, entre 1778 e 1792.




Torre da Catedral de Cartagena de Indias, na qual se vê, na parte superior, a cúpula com lanterna, estilo neorrenascentista, construída na década de 1920, projeto do francês Gastón Lelarge; vista a partir da Calle del Landrinal, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.




Portada da Catedral de Santa Catalina de Alejandría (Catedral de Cartagena de Indias), igreja erguida entre 1577 e 1612; na fachada, podem-se observar quatro nichos nos intercolúnios, com as imagens de mármore, nos superiores, de São Luis Bertrán, padroeiro de Nueva Granada, e de Santa Rosa de Lima, padroeira da América do Sul; nos inferiores, de São Sebastião, padroeiro de Cartagena de Indias, e de Santa Catarina de Alexandria, padroeira da Catedral. Calle de los Santos de Piedra, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.




Nave central da Catedral de Cartagena de Indias e, ao fundo, o Altar Mayor com retábulo, tendo, na parte superior, Jesus Crucificado, e, na intermediária, a imagem de Santa Catarina de Alexandria segurando uma espada; à direita, púlpito de mármore, tendo nas laterais esculturas em alto-relevo dos evangelistas. Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.




Calle de los Santos de Piedra ou Calle de la Iglesia, n. 35-08; o nome se refere às imagens de santos feitas em pedra que se encontravam, até o início do século XX, nos nichos da fachada principal da Catedral de Cartagena de Indias, quando então foram substituídas por outras esculpidas em mármore. Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


Em seguida, estivemos na Plaza de San Diego, onde está localizado o prédio do antigo Convento de Santa Clara, hoje ocupado pelo Hotel Santa Clara Sofitel de Cartagena de Indias desde 1994.


Tratava-se da sede do antigo convento de clausura erguido no século XVII para abrigar as religiosas da Ordem de São Francisco, conhecidas como Irmãs Clarissas.


A piedosa senhora Catalina de Cabrera, no início do século XVII, doou terrenos na cidade de Cartagena de Indias e dinheiro para a construção de um convento para as Irmãs Clarissas; em 1617, três religiosas dessa ordem chegaram à cidade e se instalaram em casas alugadas na Calle de La Cruz, enquanto aguardavam a construção do convento; a obra foi concluída em 1621, graças a nova doação ofertada pelo senhor Pedro Osorio, residente também na cidade.


O projeto de construção se credita a Simón González, autor de outros prédios da cidade; a forma quadrada regulava as proporções e a organização do conjunto; os corredores do andar inferior eram conectados ao pátio central (claustro) por meio de arcos de meio ponto suportados por singelas colunas; paredes externas altas e fechadas ao exterior ocultavam as celas, apenas vazadas por altas aberturas, ou claraboias, que permitiam a iluminação dos ambientes internos mas impendiam a vista externa; a portada principal estava sempre fechada às visitas, poucas delas autorizadas; eventuais contatos eram feitos por meio dos tornos giratórios para conversações ou passagem de objetos; as irmãs enclausuras ouviam as missas, se confessavam e recebiam a comunhão através de aberturas com barras e treliças.




Fachada do antigo Convento de Santa Clara, hoje Hotel Santa Clara Sofitel de Cartagena de Indias; impressionam os altos muros externos. Calle Del Torno de Santa Clara (Carrera n. 8), 39-29, Barrio San Diego, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


No outro lado da Plaza de San Diego, encontramos o Convento de San Diego.


Trata-se da instituição religiosa da ordem masculina corresponde à da Santa Clara, criada para abrigar os franciscanos reformistas, conhecidos como Recoletos (atualmente unificados na Ordem dos Frades Menores-OFM).


O bispo Juan de Labrada e o governador de Cartagena de Indias Diego Fernández de Velasco, em 8 de fevereiro de 1608, autorizaram a fundação de um convento de Recoletos da Ordem de São Francisco, sob a invocação de San Diego; o fundador, frei Sebastián de Humillas, adquiriu uma casa e a converteu em convento; conta-se que a obra foi dirigida também pelo mestre de obras Simón González, o mesmo das Clarissas; considera-se fundado o convento em 21 de outubro de 1625, data da consagração da sua igreja.


O plano do convento segue o modelo dos outros de Cartagena, com seu claustro em forma de quadrado, tendo arcos duplos de meio ponto (nos dois pisos) sobre colunas de fuste monolítico, com capitéis em forma de pirâmide truncada invertida.


O prédio do convento serviu à instituição religiosa até 1821, quando então passou a ser utilizado como escola náutica, em seguida, a partir de 1833, como cárcere, de 1968 a 1976, como unidade de saúde mental, e, a partir de 1976, como Escuela de Bellas Artes de Cartagena, hoje Institución Universitaria Bellas Artes y Ciencias de Bolívar.


Ainda quando o edifício era utilizado como presídio, resolveu-se instalar uma planta elétrica na horta do convento, que explodiu em 1895, causando grandes danos ao prédio; as paredes externas foram conservadas, mas a fachada da igreja foi reconstruída, em 1905, no estilo neogótico, projeto de Luis Felipe Jaspe, com pináculos ornamentados e um alpendre ou átrio na entrada com dois arcos e um suporte central.




Fachada da Iglesia do Claustro ou Convento de San Diego (1625); a fachada da igreja foi reconstruída em 1905, projeto de Luis Jaspe, em estilo neogótico, na qual podem ser observados, no alto, os pináculos ornamentados e, na entrada, um alpendre ou átrio com dois arcos e um suporte central; hoje, no prédio, funciona a Institución Universitaria Bellas Artes y Ciencias de Bolívar. Carrera 9, n. 39-12, Barrio San Diego, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


Na sequência, fomos ao perímetro muralhado de Cartagena de Indias.


Quatro séculos contemplam essas muralhas que somam cerca de 11 quilômetros, localizadas no Centro Histórico de Cartagena de Indias, com a finalidade de protegê-la dos ataques dos corsários e piratas e do mar; é a fortificação mais completa da América do Sul e uma das mais bem conservadas muralhas urbanas do mundo, sendo por isso declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.


Como já dito no post anterior, Cartagena de Indias - Parte I, a cidade possuía um dos portos mais importantes da América; dali saíam as maiores riquezas que a Coroa Espanhola enviava aos seus portos, na Espanha; por conta disso, tornou-se um dos alvos preferidos das incursões estrangeiras, exigindo a construção de uma muralha associada a fortes, como El Castillo de San Felipe (Fuerte de San Lázaro (noroeste da cidade no mapa de Nicolas de Fer)) e Bocachica (extremo oeste no mapa de Nicolas de Fer), para evitar que sofresse invasões de tropas inglesas e francesas ou os saques de corsários e piratas.


O circuito amuralhado foi levantado por etapas, iniciando em 1586, com Bautista Antonelli; a partir de 1608, Cristóbal de Roda Antonelli fortificaria a parte da cidade voltada ao mar aberto; de 1631 a 1633, Francisco de Murga foi o responsável pela fortificação do bairro de Getsemaní; em 1669, Juan Betín recuperou as muralhas destruídas pelo mar, e, em 1721, o vice-rei de Villalonga determinou a Juan de Herrera y Sotomayor a construção de caixotões submarinos, formando um quebra-mar em frente aos muros destruídos pelo Barão de Pointis em 1697; por fim, em 1795, as obras das fortificações da cidade foram concluídas.


Iniciamos pelo Baluarte de Santiago (n. 11 do mapa de Nicolas de Fer), que contava com mais de 20 canhões, tendo sido um dos primeiros a ser construídos em razão de sua privilegiada posição para proteger a entrada pelo istmo de Bocagrande.




Baluarte de Santiago (n. 11 do mapa de Nicolas de Fer), com sua guarita e canhões, protegendo a entrada pelo istmo de Bocagrande, Muralhas de Cartagena de Indias, a partir da Avenida Santander, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


Em seguida, nos dirigimos ao tramo de muralhas formado pelos Baluartes de Santa Catalina (n. 6 do mapa de Nicolas de Fer) e de San Lucas (n. 7 do mapa de Nicolas de Fer).


Diz a história que, ao assumir, no início do século XVII, o governo de Cartagena de Indias, Diego de Acuña impulsionou a continuação da construção da muralha, dando sinal verde para a edificação dos Baluartes de Santa Catalina e San Lucas, com a finalidade de proteger a cidade pelo noroeste, o primeiro voltado para o mar e o outro localizado sobre o canal de Juan Angola; assim, para facilitar a defesa, colocaram-se ambos no estreito entre o mar e o pântano, impedindo o acesso inimigo pelo caminho da Cruz Grande (extremo leste da cidade, no mapa de Nicolas de Fer), onde hoje se encontram os bairros de Cabrero, Marbella e Crespo.


Ambos os baluartes foram desenhados inicialmente por Cristóbal de Roda Antonelli, ao estilo da Escola de Fortificação Italiana, mas isso motivou uma querela entre ele e o novo governador de Cartagena de Indias, também engenheiro, Francisco de Murga, defensor da abordagem de "profundidade de defesa", mais alinhado com os avanços da artilharia; ao final, saiu vencedor Murga, sendo os baluarte concluídos em 1638, com prolongamento da fortificação por meio de obras avançadas compostas de fossos e revelins. Logo após o término da cortina amuralhada, esta já foi alvo dos choques do mar e dos ataques dos piratas.


O Baluarte de Santa Catalina, especialmente, foi alvo da agressão do Barão de Pointis, em 1697. Por conta disso, precisou ser reconstruído, a partir de 1719, pelo engenheiro Juan de Herrera y Sotomayor, que, na ocasião, suprimiu as "praças inferiores", ou seja, as partes baixas da esplanada do baluarte, onde nos séculos XVI e XVII era costume posicionar os canhões, bem como a porta foi transferida para o outro lado do Baluarte de San Lucas, onde se encontra até hoje.




Baluarte de San Lucas (n. 7 do mapa de Nicolas de Fer), concluído em 1638, que faz conjunto com o Baluarte de Santa Catalina; Muralhas de Cartagena de Indias, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.




Espigão do Baluarte de Santa Catalina (n. 6 do mapa de Nicolas de Fer), concluído em 1638, que faz conjunto com o Baluarte de San Lucas; Muralhas de Cartagena de Indias, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.




Guarita do Baluarte de Santa Catalina (n. 6 do mapa de Nicolas de Fer), Muralhas de Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


Localizado no Baluarte de Santa Catalina, fomos visitar o Museo de las Fortificaciones; este fica na chamada "casamata", sistema de fortificações subterrâneas protegidas pelo corpo da própria muralha; ali, por meio de painéis, há explicações dos sistemas construtivos utilizados na edificação das fortificações na América Espanhola, com ênfase nas construídas em Cartagena de Indias, inclusive a história do Baluarte de Santa Catalina, local que abriga o museu.




Museo de las Fortificaciones, localizado na "casamata", fortificação subterrânea protegida pelo recinto amuralhado. Baluarte de Santa Catalina, Muralhas de Cartagena de Indias, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


Ao lado do Baluarte de Santa Catalina, protegidas pelo tramo da muralha voltado para o mar aberto em direção ao Baluarte de Santa Clara, encontramos as famosas "Las Bóvedas".


Don Antonio Arévalo y Porras, o último dos grandes engenheiros militares espanhóis que trabalhou em Cartagena de Indias, foi o responsável pela construção das Bóvedas, entre 1789 e 1795, fechando o circuito amuralhado da cidade; tratava-se de uma instalação militar à prova de ataques de bombas com as finalidades de servir de alojamento para as tropas reais da Espanha, armazenar munições e defender um tramo das muralhas; a conveniência da edificação era o fato de abrigar a tropa no mesmo lugar em que esta devia defender; assim, as Bóvedas serviam à defesa da cidade, permitindo que sentinelas se postassem nas seteiras, aberturas verticais dispostas ao longo das muralhas que possibilitavam disparos dos defensores em direção aos assaltantes, mas dificultavam que aqueles fossem alvos fáceis destes; as seteiras também permitiam a ventilação das Bóvedas.

O pórtico da fachada das Bóvedas é composto por 47 arcos de meio ponto, sendo encimado, na sua parte central, por um frontão triangular no qual esta incrustrado o brasão de armas da Espanha, em mármore; são 23 abóbadas de meio berço (bóveda de medio cañon), caracterizadas pela simplicidade, simetria e elegância, em estilo neoclássico.


Depois de servir de quartel para as tropas reais, a instalação, durante a guerra da independência, foi empregada como cárcere, tendo como prisioneiros personagens ilustres da história colombiana, como o general Francisco de Paula Santander; em seguida, foi utilizada como depósito de munições, indústria de licores da região, e, atualmente, abriga um mercado de artesanato, no qual o turista pode comprar vários artigos de fabricação local.




Cuartel de las Bóvedas, obra do engenheiro militar Antonio Arévalo y Porras, construída entre 1789 e 1795, cuja fachada é composta por um pórtico de 47 arcos. Carrera 2, n. 39-1, (Plaza de las Bóvedas), Barrio San Diego, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


Agora, nos dirigimos para outra parte da "Ciudad Historica", e, ao chegarmos na Plaza de Santo Domingo, nos deparamos com uma típica escultura do artista colombiano Fernando Botero Angulo (já citado em nosso posto Bogotá - Parte I), conhecida como “La Gorda Gertrudis" ou “La Gorda Botero”, a representação de uma mulher volumosa deitada de lado.


A escultura pesa cerca de 650 quilos e veio de Florença, Itália, em 2000, doada pelo próprio escultor durante a administração da então prefeita de Cartagena de Indias Gina Benedetti de Vélez.




“La Gorda Gertrudis" ou “La Gorda Botero”, obra do escultor colombiano Fernando Botero doada à cidade em 2000. Plaza de Santo Domingo, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


Na Plaza de Santo Domingo também encontramos a Iglesia y Convento de Santo Domingo.


A Iglesia de Santo Domingo teve sua construção iniciada por volta de 1570, e as obras foram aceleradas graças ao esforço do frei dominicano Esteban de Ovalles, chegado em Cartagena em 1580; mesmo assim, houve algum atraso, tendo o templo ficado praticamente concluído somente no início do século XVII.


Quando a igreja estava quase concluída, os freis verificaram que as fundações da edificação, particularmente às voltadas para a calle de Nuestra Señora de la Luz, corriam risco de ruir; assim, para dar-lhes mais firmeza, os religiosos determinaram, no início do século XVII, que fossem levantados contrafortes, no interior da igreja, e, na parte externa, estribos; por conta disso, a calle de Nuestra Señora de la Luz passou a ser chamada callejón de los Estribos (atual calle 35).


Na fachada da igreja se destaca sua portada, composta de dois corpos de colunas dóricas, arrematados por um frontão entrecortado com um óculo no centro, no estilo do renascimento espanhol do final do século XVI.


De acordo com uma lenda popular, quando se estava para concluir as torres da igreja, o diabo resolveu que elas não deveriam ficar de pé; assim, um dia, o demônio apareceu na praça, em frente à igreja, e, dando um grande salto, alcançou uma das torres; pendurada nela, o diabo balançou-a com a intenção de derrubá-la, mas, para sua infelicidade, esta tinha sido bem edificada e não desabou; no entanto, dizem os habitantes, desde aquele dia a torre ficou um pouco fora de sua base e torta; frustrado, o diabo saltou da torre e mergulhou no poço que havia no meio da praça, utilizado pelas mulheres para seus afazeres domésticos; depois disso, dizem, as águas do poço ficaram com um gosto sulfuroso, e, por essa razão, foi necessário fechá-lo.


De fato, a torre-campanário está desalinhada da fachada principal da igreja, mas, de acordo com as pesquisas dos arquitetos, a frente da igreja segue a linha da rua, que é a mesma desde 1594, enquanto a torre, na verdade, foi construída em alinhamento com a estrutura original do convento, que formava um ângulo obtuso com o templo.


No interior da igreja, há uma grande nave central, ladeada de capelas; o altar-mor foi remodelado em estilo moderno, talhado em mármore procedente da Itália, conforme projeto do arquiteto francês Gastón Lelarge, por volta da década de 1920.


No convento ao lado, os dominicanos deixaram suas marcas, como o brasão da ordem, sobre a portaria do mosteiro, e a representação do cão (dois), com o qual sonhou a mãe de Santo Domingo de Guzmán, sobre o frontão partido.


Sobre o cão, diz a tradição que a beata Juana de Aza, mãe de Santo Domingo Guzmán, sonhou, antes do nascimento dele, que um pequeno cão saía de seu ventre levando uma tocha acesa na boca; como não entendesse o significado da visão, procurou ajuda com Santo Domingo de Silos, fundador de um mosteiro beneditino nas proximidades; o religioso disse à mulher que seu filho iria acender o fogo de Cristo no mundo, por meio da pregação; em agradecimento ao esclarecimento recebido, Juana deu ao filho o nome de Domingo, em homenagem ao santo de Silos.




Iglesia y Convento de Santo Domingo; a primeira concluída em 1559; sua portada é composta de dois corpos de colunas dóricas arrematados por um frontão entrecortado com um óculo no centro; observa-se, à direita, sobre a portaria do convento, o brasão da Ordem Dominicana, e, acima do frontão partido da entrada do convento, a representação de dois cães com tochas na boca, em referência ao pequeno cão com o qual sonhou a mãe de Santo Domingo Guzmán, antes de ele nascer. Plaza de Santo Domingo, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.




Alta Mayor de la Iglesia de Santo Domingo, em mármore importado, obra do francês Lelarge, por volta da década de 1920. Plaza de Santo Domingo, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


Um dos mais preciosos objetos religiosos expostos na Iglesia de Santo Domingo é a imagem denominada Cristo de la Expiración.


Diz a tradição que alguns noviços do mosteiro encontraram um tronco na beira do mar e o pegaram com a ideia de talhá-lo para fazer a imagem de Cristo; como havia um estranho talhador pernoitando no convento há alguns dias, os religiosos lhe pediram que executasse a obra, mas aquele lhes disse que a madeira era muito curta; assim, os freis a devolveram ao mar; alguns dias depois, os religiosos voltaram à praia e lá encontraram o mesmo tronco, mas agora este tinha o tamanho ideal para ser talhado; desta feita, o talhador aceitou o encargo, mas exigiu que não fosse nunca interrompido, e a comida lhe fosse passada através de uma janela da cela, onde se trancou vários dias; após algumas semanas, os monges deixaram de ouvir o barulho dos instrumentos empregados na obra; preocupados com o silêncio, decidiram ingressar na cela, ocasião em que se depararam com a imagem de Cristo no momento de morrer, mas nem rastro do artesão; por conta disso, acredita-se que se tratava de um anjo enviado por Deus para executar a venerada e milagrosa imagem de Cristo.


A imagem é de especial devoção dos cartageneros católicos em razão de se crer que, em 1754, quando uma epidemia de varíola assolou a cidade, esta foi detida somente depois de rezar-se durante nove dias ao Cristo de la Expiración.




Imagem do Santo Cristo de la Expiración, possivelmente do século XVIII. Iglesia de Santo Domingo, Plaza de Santo Domingo, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


A Iglesia de Santo Domingo conta também com um convento ao lado, provavelmente concluído parcialmente no final do século XVII; tudo leva a crer que o imponente e elegante claustro que conhecemos hoje é, em grande parte, obra da segunda metade do século XVIII, com seu marcante estilo neoclássico nas arcadas de tijolos que estão em volta do pátio, com colunas quadradas.


O Convento de Santo Domingo, como mosteiro dos Dominicanos, foi efetivamente extinto em 1825, passando o prédio a acolher um seminário; em 1849, a comunidade religiosa de Santo Domingo é expulsa da Colômbia, e o edifício torna-se um quartel; em 1868, volta a ser um seminário.

Em novembro de 1999, foi estabelecido um convênio de cessão de uso entre a Arquidiocese de Cartagena de Indias e a Agencia Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo, no qual esta se comprometeu em restaurar, manter e adequar o edifício do antigo convento para servir de sede do Centro de Formación de la Cooperación Española en Cartagena de Indias; após a conclusão dos trabalhos, passou o prédio a abrigar o referido centro em 2004.




Claustro de los Dominicos, Convento de Santo Domingo; em estilo neoclássico, ressaltam-se suas elegantes arcadas de alvenaria, existentes nos dois andares, suportadas por colunas quadradas; atualmente abriga o Centro de Formación de la Cooperación Española. Plaza de Santo Domingo, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.


No post a seguir, continuamos em Cartagena de Indias, visitando a Iglesia de San Pedro Claver.



Fontes:


Wikipédia;








Dos iglesias cartageneras del siglo XVI: la Catedral y Santo Domingo (páginas 50-63); Juan Luis Isaza Londoño; 14 de marzo de 2005;












Comments


Obrigado por se subscrever!

SUBSCREVER

bottom of page