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Comunidade de Madrid - Parte I - 2009

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 11 de abr. de 2021
  • 18 min de leitura

Atualizado: 20 de mai. de 2021


Estátua do Papa São João Paulo II, Catedral de la Almudena, Madrid, Comunidade de mesmo nome, Espanha.


Comunidade de Madrid é, entre as 17 autônomas da Espanha, a que possui apenas uma província (de mesmo nome). É semelhante ao Distrito Federal do Brasil: Brasília (capital do país) e cidades satélites. Aqui, é a cidade de Madrid (capital do Reino de España) e diversos outros municípios.


a - San Lorenzo de El Escorial


Começamos por San Lorenzo de El Escorial. Este município fica localizado à noroeste de Madrid, na Sierra de Guadarrama.


Sua história é vinculada à construção do Monastério de mesmo nome, por ordem de Felipe II, iniciada em 1563 e concluída em 1584.


O Monasterio de San Lorenzo de El Escorial, em estilo classicista, projetado por Juan Batista de Toledo e reorganizado por Juan de Herrera, é um complexo, abrangendo um palácio real, uma basílica, um panteão, uma biblioteca, um colégio e um convento. Em razão da intervenção do arquiteto Herrera, ele passou a ser reconhecido como representativo do estilo herreriano, cujas características principais são o rigor geométrico, a sobriedade e a severidade, com pouca ornamentação, em contraste com o renascentista plateresco. É Patrimônio da Humanidade.


A construção do monastério resultou de um pedido do pai de Felipe II, Carlos I (Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico), que, alterou seu testamento, para, ao invés de ser enterrado em Granada, onde se encontravam os restos mortais de seus pais (Felipe I e Juana I de Castela) e de seus avós maternos (Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela), que fosse construído um edifício novo para sua tumba, em um lugar diferente. Em meados do séc. XVI, Felipe II traslada a capital do reino de Espanha de Toledo para Madrid e, em 1561, encomenda aos monges jerônimos a construção do Monastério de El Escorial.


Os princípios basilares do projeto são a hierarquização, a ordem e a relação perfeita entre todas as partes do conjunto, integrando monarquia, religião, ciência e cultura em um eixo principal.


Basicamente, se se olhar o Monastério pela fachada principal, à esquerda, estão os prédios civis (colégio e palácio), ao centro, o pátio dos reis e a basílica, e, à direita, o convento.


No Panteão Real de El Escorial estão os restos mortais de quase todos os reis e rainhas espanhóis, de Carlos I (V do Sacro Império Romano-Germânico) aos avós paternos do atual Rei da Espanha, Felipe VI: Juan de Borbón e María de las Mercedes de Borbón y Orleans, Condes de Barcelona. Não se encontram os de Felipe V e Fernando VI, enterrados no Palacio de La Granja, Amadeo I de Saboya, na Basílica de Superga, em Turim, e José I (Bonaparte), nos Inválidos, em Paris.


A Ordem dos Jerônimos cuidou do monastério durante quase três séculos, mas, em 1836, houve a supressão das ordem religiosas na Espanha. A partir de 1885, El Escorial passou a ser ocupado pelos freis da Ordem de Santo Agostinho, que o conservam até hoje.


Há muitas atrações espetaculares para ver no El Escorial, mas não foi possível, na época, fotografar algumas porque não era permitido: interior da Basílica, Palacio de los Borbones, Sala de las Batallas, Patio de los Evangelistas (claustro do convento), Museo de Pintura, Panteão Real, Panteão de Infantes, Real Biblioteca, Palacio de los Austrias, Casa del Rey, Patio de los Mascarones, Escada Principal e Jardim dos Freis.


Fachada principal do Monasterio de San Lorenzo de El Escorial, Província de Madrid, Espanha.


O Portal Principal de El Escorial parece muito com uma fachada de uma igreja; é como se fosse uma antecipação da fachada da Basílica, que se encontra depois do Patio de los Reyes. San Lorenzo de El Escorial, Província de Madrid, Espanha.



A fachada principal da Basílica, a partir do Patio de los Reyes, é imponente, formada de seis colunas dóricas, entablamento, outro piso arrematado por um frontão triangular, flanqueado por duas torres-campanário. Sobre o entablamento, seis estátuas dos Reis de Judá que participaram na construção ou reconstrução do Templo de Salomão: Josafá (com cetro e machado, ao lado de um cordeiro); Ezequias (com cetro e navio, ao lado de uma cabra); Davi (com centro e espada); Salomão (com centro e livro); Josias (com cetro e leis); e Manassés (com cetro e esquadro). As estátuas medem cinco metros, são de pedra berroqueña (tipo de granito da região de Madrid), as cabeças e mãos são feitas em mármore branco e os atributos reais e as coroas, em bronze. San Lorenzo de El Escorial, Província de Madrid, Espanha.


O Patio de los Mascarones, que fica no centro do Palacio de los Austrias, atrás da Basílica; leva esse nome em razão das duas fontes de mármores com mascarões (carrancas). San Lorenzo de El Escorial, Província de Madrid, Espanha.


Agora para Madrid.


b - Madrid


Antes de ingressar no assunto Madrid, para situá-los quando falarmos sobre os reinados da Espanha, faremos uma rápida explanação.


Até o reinado de Juana I, não havia uma verdadeira união das Coroas de Castela e Aragão, ou seja, uma Espanha.


Isabel I, a Católica, era Rainha da Coroa de Castela, que englobava os Reinos de Castela, de Leão, de Galiza, de Sevilha, de Córdoba, de Jaén, de Murcia, Principado de Astúrias e Senhorio de Biscaia.


Já seu esposo, Fernando II, o Católico, era Rei da Coroa de Aragão, que era composta pelo Reino de Navarra, Aragão, Catalunha e Valência.


Em 2 de janeiro de 1492, os Reis Católicos ocuparam a cidade de Granada, último bastião dos muçulmanos na Península Ibérica, e, em consequência, anexaram o Reino de mesmo nome à Coroa de Castela. Mas, embora casados, não havia um estado unificado; cada um governava sua coroa.


Assim observou José Nieto em seu livro "Historia de España - de Tartessos al Siglo XXI":


"O enlace de Isabel e Fernando teve como consequência a união das Coroas de Castela e Aragão. Convém, no entanto, considerar esta união na sua justa realidade. Durante o reinado de Isabel e Fernando, Aragão e Castela uniram suas vontades nas pessoas dos monarcas, mas esta unidade não trouxe a criação de um estado centralizado e unificado para todo o conjunto dos territórios. Castela e Aragão conservaram suas próprias instituições, com o que se pode mais falar de uma federação que de uma verdadeira unificação. Algumas mostras são a manutenção das fronteiras com suas correspondentes taxas aduaneiras entre Castela e Aragão, a existência de duas Cortes de características distintas e a conservação dos sistemas monetários próprios de cada reino. Como a única instituição comum a ambos os reinos foi a Inquisição, é possível defender que a personalidade das diversas nacionalidades hispânicas pode preservar-se" (tradução livre do espanhol - pág. 157) - "Historia de España - de Tartessos al Siglo XXI", de José A. Nieto Sánchez, Editorial libsa, Madrid, 2008.


Em 1504, morreu Isabel I.


Não foi seu esposo, Fernando II, que ascendeu à Coroa de Castela, mas a filha deles, Juana I, contudo, não tinha condições mentais para efetivamente governá-la, ficando o pai administrando-a como governador perpétuo. Hostilizado pelos castelhanos, Fernando renunciou à regência, assumindo o esposo de Juana I, Felipe, o Belo. Porém, este faleceu em 1505, voltando Fernando de Aragão à regência de Castela.


Com a morte de Fernando, em 1516, verificou-se a união das Coroas de Castela e Aragão (Espanha) sob o cetro de Juana I, a Louca, mas, na prática, ela não podia governar, em razão de seus problemas mentais, ficando como regente o Cardeal Cisneiros, em nome de Carlos I, filho de Felipe, o Belo, e Juana I. Em 1517, na prática, Carlos I assumiu o comando das Coroas unificadas, agora Espanha.


Aí começa a Dinastia dos Austrias:


- Carlos I;

- Felipe II;

- Felipe III;

- Felipe IV; e

- Carlos II


Carlos II era o Enfeitiçado e morreu em 1700, sem deixar descendência:


Inicia, então, a Dinastia dos Bourbons:


- Felipe V (abdicou em favor de seu filhos Luis I);

- Luis I (morreu com um ano no governo);

- Felipe V (voltou com a morte do filho);

- Fernando VI;

- Carlos III;

- Carlos IV;


Interrupção em razão da invasão francesa:


- José I (irmão de Napoleão);


Volta dos Bourbons:


- Fernando VII;

- Isabel II


Mais uma interrupção com a Revolução Setembrina (1868-1870)


Rei da Casa de Saboia


- Amadeo I de Saboya;


Primeira República (1873-74)


Segunda restauração dos Bourbons:


- Alfonso XII;


- Alfonso XIII;


Segunda República (1931-39)


Governo de Franco (1939-1975)


Terceira restauração dos Bourbons:


- Juan Carlos I (abdicou); e


- Felipe VI (atual).


Após essa pequena introdução, vamos a Madrid.


O primeiro assentamento estável na região de Madrid se deu na época da ocupação muçulmana. Dizem que o caudilho árabe Muhammad ben Abd al-Rahman (emir Muhammad I) mandou levantar, no séc. IX, uma fortaleza em um promontório junto ao rio Manzanares, com a finalidade de vigiar as passagens da Sierra de Guadarrama e proteger Toledo dos ataques dos reinos cristãos.


Ao lado da fortaleza, se desenvolveu o povoado para o sul e para o leste, tendo sido chamado de Magerit. Um hispano-árabe, nascido em Magerit no séc. X, que teve reconhecimento foi Maslama al-Mayriti, alcunhado de "Euclides andaluz", astrônomo e fundador de uma escola de matemática em Córdoba.


Magerit caiu nas mãos de Alfonso VI de Leão em 1085, após a queda do reino taifa de Toledo.


As Cortes de Castela se reuniram a primeira vez em Madrid em 1309, no reinado de Fernando IV. Como a Corte castelhana era itinerante, construiu-se um Alcázar (palácio-castelo) em um alto, à margem do rio Manzanares.


Durante a Guerra das Comunidades, na primeira metade do séc. XVI, Madrid, sob a liderança de Juan de Zapata, se sublevou contra Carlos I. Com a derrota dos comuneiros, a vila foi sitiada e ocupada por tropas reais em maio de 1521.


Felipe II, na segunda metade do séc. XVI, transfere a capital do Reino de Espanha de Toledo para Madrid, instalando aqui a sua Corte.


O Alcázar dos Austrias foi ocupado, posteriormente, pelos Bourbons, tendo sofrido várias reformas até que, em 1734, sofreu um incêndio, tendo restado apenas escombros. Sobre o lugar, os Bourbons construíram o atual Palacio Real de Madrid, sendo concluído em 1764 e ocupado pela primeira vez por Carlos III.


Em razão da escolha de Madrid, por Felipe II, para ser a capital da Corte, a fim de capacitá-la para exercer tão importante função, houve um amplo programa de obras públicas, dentre elas a construção da Casa de la Villa, Plaza Mayor, e o Palacio del Buen Retiro


A Plaza de la Villa é uma das praças mais pitorescas e características de Madrid. Foi um dos principais núcleos urbanos de Madrid medieval. Há vários edifícios importantes no seu entorno: a Casa y Torre de los Lujanes, a Casa de Cisneros e a Casa de la Villa (Ayuntamiento).


Casa y Torre de los Lujanes, um dos prédios mais antigos da cidade, do início do séc. XV, estilo gótico-mudéjar (toledano); o nome se refere aos primeiros proprietários, de origem aragonesa. Diz-se que Francisco I da França, após sua derrota em Pavía, em 1525, ficou em cativeiro aqui. Plaza de la Villa, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Entrada principal da Casa y Torre de Los Lujanes, estilo gótico, com três escudos esquartelados de los Lujanes: nos primeiro e quarto, em ouro, uma faixa de goles (vermelho); nos segundo e terceiro, também em ouro, um pedaço de muralha de azure (azul) colocado em faixa; ao redor do escudo, uma borda de prata com quatorze castelos de azure (azul), cada um sobre três arcos de ponte da mesma cor. Plaza de la Villa, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Casa de la Villa (antigo Ayuntamiento), projetada na década de 1640, por Juan Gómez de Mora, o autor da Plaza Mayor, substituído, após a sua morte, em 1648, por José de Villarreal, que deu os traços definitivos em 1653; em 1670, Teodoro Ardemans colocou os portais estilo barroco e os escudos; por fim, Juan de Villanueva, arquiteto del Prado, acrescentou, em 1789, a colunata neoclássica, voltada para Calle Mayor, de cujo balcão a família real assistia a procissão de Corpus Christi. Plaza de la Villa, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


A primeira construção na área da Plaza Mayor foi a Casa de la Panadería, iniciada em 1590 sob a responsabilidade de Diego Sillero. Mas a configuração final foi dada por Juan Gómez de Mora, a mando de Felipe III, e concluída em 1619. A primeira grande festa na praça foi em homenagem à beatificação de San Isidro, padroeiro de Madrid, em 15 de maio de 1620. Em 1790, ocorreu um incêndio que causou grandes danos na Plaza Mayor, ficando sua reconstrução sob o encargo de Juan de Villanueva, que rebaixou a altura do casario de cinco para quatro andares e fechou as esquinas, criando arcadas para seu acesso, como os Arcos de Cuchilleros e de Cofreros.


É uma belíssima praça retangular, com um caráter muito castelhano, onde se organizavam, no passado, múltiplas atividades, como corridas de touros, festas e autos de fé da Santa Inquisição.


A Casa de la Panadería é o pavilhão mais atraente pela sua arquitetura imponente e seus afrescos alegóricos, criados por Enrique Guijo, em 1914, e, que, em 1992, em razão da deterioração avançada, foram substituídos pelos realizados por Carlos Franco, representando figuras mitológicas como Cibele, Proserpina, Baco e Cupido, e outras criadas pelo artista.


A Casa de la Panadería, com os afrescos alegóricos de Carlos Franco; na frente, em destaque, a estátua equestre de Felipe III, começada pelo italiano Juan de Bolonia e terminada por seu discípulo Pietro Tacca, em 1616. Plaza Mayor, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Afrescos alegóricos da Casa de la Panadería; em destaque, no centro, o Escudo de Armas de Carlos II, o Enfeitiçado: as armas de Castela e Leão, no primeiro quadrante; as armas de Aragão e Sicília, no segundo; as armas da Áustria (Habsburgo) e da Borgonha Antiga, no terceiro; as da Borgonha Moderna e de Brabante, no quarto; as de Flandres e do Tirol, no sobre-escudo de baixo; e o símbolo de Granada, no centro do escudo. Plaza Mayor, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Plaza Mayor, vista do pavilhão fronteiriço à Casa de la Panadería; em destaque, a estátua equestre de Felipe III, que foi trasladada para a praça em 1848, procedente da Casa de Campo. Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Com Felipe III, a Espanha presenciou impotente o princípio do fim do império, enquanto sofria as consequências de uma crise econômica. A Coroa e a Corte viviam no luxo e deram as costas à realidade. O monarca, ao contrário do pai, não exerceu efetivamente o poder, se mantendo à margem dos assuntos de Estado. Para isso, cedeu o poder ao primeiro de seus favoritos (valido, em espanhol), Francisco de Sandoval y Rojas, Duque de Lerma, que foi sucedido por Rodrigo Calderón e pelo Duque de Uceda. O problema é que, segundo o que dizem os historiadores, o primeiro e terceiro validos eram corruptos, mais preocupados em aumentar sua fortuna pessoal do que afiançar um política capaz de impedir a ruína do império.


"A figura do valido foi uma das principais características não somente do governo de Felipe III, mas também dos seus sucessores, Felipe IV e Carlos II. Sua origem não é outra que a paulatina privatização de determinadas competências da Coroa, imposta pela necessidade de reduzir o gasto público. Esta delegação gradual de poderes acabou por incorporar-se ao terreno da política através da figura do valido, um personagem que contava com a amizade e confiança do rei e que, ainda que nunca tenha gozado de estatuto jurídico algum, supervisionava os Conselhos de Estado, atuava como conselheiro real e organizava a burocracia oficial. Era um cargo próximo às funções do que hoje seria um primeiro-ministro" (tradução livre do espanhol - págs. 94 e 95) "Historia de España", de María Pilar Queralt del Hierro, Susaeta Ediciones S.A., Tikal Ediciones, Madrid, 2006.


Felipe II, dizem, tinha um presságio em relação ao filho, diante de sua inapetência pelo poder: "Deus que me deu tantos reinos me negou um filho capaz de governá-los".


O Arco de Cuchilleros é um dos dez acessos à Plaza Mayor, ficando no seu canto sudoeste. Deve o seu nome à rua a que dá saída, ou seja, Calle de Cuchilleros, porque lá havia oficinas do grêmio dos cuchilleros (fabricantes de cutelos), que forneciam os seus artigos ao grêmio dos açougueiros concentrados no interior e nos arredores da praça. Por lá se acessa o autodeclarado restaurante mais antigo do mundo em atividade: "Sobrino de Botín", fundado em 1725.


No "Sobrino de Botín", nada como um porquinho assado.


O Arco de Cuchilleros, Calle de Cuchilleros, Plaza Mayor, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


O Palacio del Buen Retiro, projeto de Alonso Carbonell, foi iniciado, por ordem de Felipe IV, em 1632, como um luxuoso conjunto palaciano com jardins, seis ermidas, tanques e lagos, destinado a ser mansão de retiro e descanso dos soberanos. O conjunto era de uso exclusivo da família real, que ali organizava representações teatrais, corridas de touro, jogos equestres, naumaquias (espetáculos que representam batalhas navais) e outras diversões. Além desses entretenimentos, os integrantes da família real também assistiam a cerimônias religiosas nas ermidas e disfrutavam da bela natureza, navegando pelo tanque grande, flanando nos jardins, decorados com estátuas, fontes, piscinas e pergolados .


Com a conclusão do Palácio Real, em 1764, no reinado de Carlos III, acabou o tempo de esplendor do Buen Retiro.


Durante a invasão napoleônica, o Buen Retiro sofreu muitos danos, ao ponto de estar arruinado em 1812, quando os franceses se retiraram. Assim, na época de Fernando VII, as ruínas do palácio foram demolidas, restando apenas em pé, até hoje, o Casón e o Salón de Reinos.


Os terrenos se converteram em longos jardins, nos quais foram, ao longo dos séc. XIX e XX, acrescentados adornos com caprichos paisagísticos, como Casita del Pescador, Casa del Contrabandista, Montaña Artificial e Fuente Egípcia.


Após a Revolução de 1868, quando se instalou um governo civil, o lugar foi municipalizado, passando a chamar-se Parque de Madrid.


No final do séc. XIX, foi palco de diversas exposições internacionais, moda na época, quando foram projetados o Palacio de Velázquez e o Palacio de Cristal.


No primeiro terço do séc. XX, foram construídos um embarcadouro novo, no Tanque Grande, e vários monumentos comemorativos, dentre os quais o dedicado a Alfonso XII, projeto de José Grases Riera, que ocupa a margem leste do Tanque Grande, a partir de 1922.


Hoje, o lugar é denominado Parque del Retiro; vale a pena visitá-lo, pela beleza dos prédios, ornamentos e natureza.


Salón de Reinos, construído entre 1630-35, era parte do Palacio del Buen Retiro, e tinha esse nome porque estavam pintados os escudos dos vinte e quatro reinos que compunham a Monarquia Espanhola na época de Felipe IV. Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Entrada do Parque del Retiro, ainda com a denominação antiga, Parque de Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Monumento a Alfonso XII no Tanque Grande do Parque del Retiro, inaugurado em 1922; o conjunto mede 30 metros de altura, 86 de comprimento e 58 de largura, e participaram de sua elaboração mais de vinte escultores; a estátua equestre do rei, fundida em bronze, foi realizada por Mariano Benlliure, em 1904. Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Palacio de Cristal é uma estrutura de metal e cristal construída em 1887, projetada por Ricardo Velázquez Bosco para a Exposição das Ilhas Filipinas. Parque del Retiro, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.



Detalhe do Palacio de Cristal; a decoração com cerâmica, obra de Daniel Zuloaga, é utilizada nos pequenos frisos e arremates; nela se destacam as figuras de grutescos com cabeça de pato selvagem. Parque del Retiro, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Próximo ao Parque del Retiro, tem-se a Puerta de Alcalá.


Nas cidades fortificadas, o acesso para o exterior da muralha eram as portas, que levavam o nome, normalmente, da cidade para qual a via da saída levava. No caso específico, Alcalá de Henares, na Província de Madrid.


A Puerta de Alcalá atual, estilo neoclássico, foi construída entre 1769 e 1778, projeto de Francisco Sabatini, por ordem de Carlos III, como forma de valorizar a zona oriental da cidade. A porta substituiu a barroca que Felipe III mandou construir para receber sua esposa Margarita de Austria.


Na fachada oeste da Puerta de Alcalá, são três corpos, sendo o central mais alto, com cinco vãos no total. Sobre os vãos mais externos, estão esculpidas cornucópias com frutos e vegetais, significando abundância. Sobre os vãos internos, com arcos de meio ponto, mascarões (carrancas) em forma de cabeça de leão. No alto dos três corpos, seis armaduras vazias acompanhadas de bandeiras, obras do escultor francês Roberto Michel, homenageando a paz. Por fim, no frontão sobre o vão central, uma inscrição em latim: REGE CAROLO III, ANNO MDCCLXXVIII (Rei Carlos III, ano 1778).


Puerta de Alcalá, fachada oeste. Até meados do séc. XIX, esta porta marcava o limite oriental da atualidade. Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Como já explanado acima, o Palácio Real de Madrid foi construído no mesmo lugar onde se encontrava o Alcázar Real, que ardeu em chamas em 1734. Felipe V mandou levantar o novo palácio, com projeto do arquiteto italiano Fillipo Juvara, substituído, após sua morte, por Giovanni Battista Sacchetti, também italiano, e sua construção foi iniciada em 1738, no estilo barroco. Com a demora na construção, o primeiro monarca a ocupar o palácio como residência foi Carlos III, em 1764.


Na época de nossa visita, fotografias somente eram permitidas na parte exterior. Assim, os belíssimos aposentos não têm registros fotográficos, mas nós recomendamos a visita interna: Comedor de Gala; Salón de Porcelana; Salón de Columnas; Salas de Gasparini; Salón de Billares; Farmacia; Real Armería e Salón del Trono.


Fachada principal do Palacio Real de Madrid, corpo sustentado por pilastras dóricas; no chamado ático, flanqueando o relógio, figuram as estátuas de Felipe V e sua primeira mulher Maria Luisa Gabriela de Saboya, nos extremos, e as de Fernando VI e sua esposa Bárbara de Braganza, no centro. Província de Madrid, Espanha.


Novo ângulo da fachada principal do Palacio Real de Madrid; em destaque no alto, sobre o relógio, o escudo de armas de Felipe V: Castela e Leão, Aragão, Granada, Sicília, Áustria, Borgonha, Flandres, Brabante, Tirol e a Casa de Bourbon. Província de Madri, España.


A Plaza de la Armería ou de Armas é uma praça que fica entre a Catedral de la Almudena e a fachada sul (principal) do Palacio Real. Desenhada por Narciso Pascual y Colomer com a colaboração de Enrique Maria Repullés y Vargas, foi concluída em 1892.


Plaza de la Armería ou de Armas; destaque para o belíssimo poste de iluminação; Palacio Real, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Ao lado do Palacio Real, encontra-se a Plaza de Oriente. A abertura do espaço começou por iniciativa do irmão de Napoleão, o Rei José I, que deu a ordem para demolir os prédios no entorno do palácio, como parte do plano urbanístico de modernização da rede viária, o que lhe rendeu o apelido de Pepe Plazuelas (Zé das Pracinhas). A planta final da praça foi feita por Narciso Pascual y Colomer, em 1844, levando em consideração, no seu contorno, o Teatro Real e dois edifícios habitacionais. A última reforma ocorreu em 1996, quando se construiu um estacionamento subterrâneo.


Plaza de Oriente; ao fundo, a fachada oriental do Palacio Real, tendo como destaque o escudo de armas da Espanha, flanqueado de dois grifos e dos reis visigodos Recaredo I e Liuva II. Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


No centro dos jardins da Plaza de Oriente está a estátua equestre de Felipe IV. Ela foi transferida do Palacio del Buen Retiro, por ordem de Isabel II, para a praça e inaugurada aqui em 1843, após a construção de um suporte monumental, ao encargo dos escultores Francisco Elías Vallejo e José Tomás.


A estátua equestre de Felipe IV, de bronze, foi feita pelo escultor italiano Pietro Tacca, entre 1634 e 1640. Dizem que o escultor teve o auxílio do cientista Galileo Galilei para que o cavalo pudesse manter-se sobre suas patas traseiras; a solução foi fazer-se maciça a parte traseira e oca a dianteira; teria sido a primeira estátua equestre do mundo com esta forma.


Estátua equestre de Felipe IV; os quatro leões de bronze nos cantos do monumento foram realizados por Francisco Èlías Vallejo; já os baixo-relevos laterais foram esculpidos por José Tomás e representam, um, o monarca colocando o hábito da Ordem de Santiago no pintor Velázquez, o outro, uma alegoria da proteção concedida pelo rei às artes e às letras; na base, há duas fontes em forma de concha. Plaza de Oriente, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Felipe IV, dizem alguns historiadores, no terreno da política, guardava muita semelhança à seu pai, Felipe III. Foi um monarca culto e refinado, mas pouco dotado para a política, deixando-a nas mãos de seu valido Gaspar de Guzmán y Pimentel, Conde-Duque de Olivares. Mas, em compensação, foi um mecenas das artes, sendo sua coleção de pinturas a maior da Europa, na sua época. E, tudo leva a crer, foi com o apoio do rei que um dos maiores pintores espanhóis, Diego de Silva Velázquez, desenvolveu uma carreira tão brilhante.


"O influxo que a monarquia exerce sobre Madrid converte a Coroa e a cidade de Manzanares no centro do colecionismo europeu. Da mão de Felipe IV e Olivares, a arte se converte em razão de Estado e a pinacoteca real cresce sem freio aproveitando-se dos leilões de arte que se sucederam após a decapitação do rei inglês Carlos II (compras de Tintoreto, Rafael, Mantegna, Andrea de Sarto, Durero) ou a morte de pintores e colecionadores elegantes como Rubens ou o cardeal Ludovisi. Ao mesmo tempo, a magnanimidade e o bom gosto de Felipe IV, e a construção do Palacio del Buen Retiro dão trabalho aos melhores pintores do momento. Somente para o Salón de Reinos deste palácio, Velázquez pinta a famosa 'Rendición de Breda' e alguns retratos do rei e sua família; Zurbarán, 'Las Fuerzas' ou 'Trabajos de Hércules' e 'El socorro de Cádiz'; e Juan Batista Maino e o italiano Vicente Carducho colaboram também com obras que simbolizam um canto ao poder constituído. Os pintores recebem inclusive um tratamento maravilhoso, como revela o mimo da monarquia aos pintores tão originais como Velázquez, permitindo-lhe adquirir uma cultura internacional, da que esteve privado o também genial Zurbarán pela redução das encomendas dos conventos sevilhanos". (tradução livre do espanhol - págs. 244 e 245) - "Historia de España - de Tartessos al Siglo XXI", de José A. Nieto Sánchez, Editorial libsa, Madrid, 2008.


A Catedral Metropolitana de Santa María la Real de la Almudena teve suas obras iniciadas, por determinação de Alfonso XII, em 1883, com projeto inicial de Francisco de Cubas y González-Montes, sendo concluídas mais de cem anos depois, em 1993. A construção foi muito lenta e restou paralisada durante a Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939. O interior é neogótico, como previsto por Francisco Cubas, porém, em 1950, por intervenção dos arquitetos Fernando Chueca Goitia e Carlos Sidro, a fachada cinza e branca foi construída em estilo neoclássico, se integrando ao conjunto do Palacio Real, que está na frente dela. Em 15 de junho de 1993, o Papa São João Paulo II foi a Madrid para consagrar a catedral.


Catedral de la Almudena, a partir da Plaza de Armería; em destaque, a cúpula central com detalhes barrocos. Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Catedral de la Almudena; grande pórtico de colunata dupla, o andar inferior de inspiração toscana e o superior de ordem jônica; o conjunto neoclássico está arrematado por um nicho barroco, abrigando a Virgen de la Almudena; ao lado dela, foram colocadas quatro estátuas representando santos espanhóis: San Isidro Labrador; Santa María de la Cabeza, Santa Teresa de Jesús e San Fernando; no balcão, quatro estátuas que representam os evangelistas; na parte inferior das torres, dois grandes escudos, trabalhos do escultor José Luis Parés, o da esquerda do Papa que consagrou a catedral, São João Paulo II, e o da direita o das armas da Casa Real Española.


Nave central da Catedral de la Almudena, em estilo neogótico; no presbitério em trabalhos dirigidos por Kiko Argüello, estão os sete mistérios da salvação: o Batismo de Jesus; a Transfiguração; a Morte; a Ressureição; a Ascensão ao Céu; e Pentecostes; no centro, a imagem de Jesus Pantocrator. Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Altar da Virgen de la Almudena; a imagem, em estilo gótico tardio, é provavelmente do séc. XV ou XVI; está incorporada em um belo retábulo de Juan de Borgoña. Catedral de la Almudena, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


Arca funerária (séc. XIII) onde repousou o corpo incorruptível de San Isidro Labrador, Capilla Central; atualmente seus restos então na Colegiata de San Isidro. Catedral de la Almudena, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.


No próximo post, nós continuamos em Madrid.


Fontes: Wikipedia e "España" Guías Visuales, DK El Pais Aguilar, Octava edición, Santillana Ediciones Generales, S. I. Madrid, 2011.

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