Comunidade de Madrid - Parte II -2009
- Roberto Caldas
- 11 de abr. de 2021
- 19 min de leitura
Atualizado: 20 de mai. de 2021

Puerta de Madrid, Plaza de Toros de Las Ventas, Madrid, Comunidade de mesmo nome, Espanha.
Continuamos na cidade de Madrid.
O Museo del Prado foi inaugurado em 19 de novembro de 1819, com o nome de Museo Real de Pinturas, por ordem do rei Fernando VII. A instituição compartilhava com o Museu do Louvre, inaugurado em 1793, o objetivo de permitir ao público em geral conhecer os tesouros artísticos que, até aquele momento, eram acessíveis a um reduzido grupo de pessoas, pertencentes, normalmente, à realeza, à aristocracia ou à Igreja.
O prédio, em estilo neoclássico, não fora projetado, inicialmente, para abrigar o museu. O edifício, concluído em 1785, por iniciativa do primeiro secretário de Estado de Carlos III, Conde de Floridablanca, estava destinado ao Gabinete de História Natural y Academia de las Ciencias, mas, como nunca fora utilizado para esse propósito, terminou por se tornar sede do Museo Real de Pinturas, que, em razão da localização, passou, posteriormente, a se chamar del Prado.
A história de seu acervo começa quatro séculos antes, com o colecionismo real a partir dos Reis Católicos, Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão. No início, predominavam as obras dos artistas flamengos (grupo étnico germânico da porção norte da Bélgica: Flandres), que eram os preferidos deles. Carlos I (Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico) continuou acumulando pintores flamengos, como Van der Weyden e Antonio Moro, mas incluiu alguns italianos, como Tiziano, que, inclusive, seria o retratista dele e de seu filho Felipe II. Este também herdou de seus ascendentes o gosto pela arte flamenga, tendo comprado obras de Van der Weyden, Bouts, Gossaert e, principalmente, de Hieronymus Bosch (Bosco, para os espanhóis)
Mas, como salienta o próprio "La Guía del Prado", o grande incentivador foi Felipe IV:
"O outro grande marco do colecionismo real foi o reinado de Felipe IV, desenvolvido entre 1621 e 1665, que coincidiu com um dos momentos culminantes da pintura espanhola. Felipe IV não somente foi o protetor de Velázquez, senão um colecionista infatigável que contratou expressamente numerosas obras como as que decoravam os sítios reais, criando amplos conjuntos decorativos para a Torre de la Parada, onde foi fundamental a intervenção de Rubens e Velázquez, ou para o novo Palacio del Bueno Retiro. O afã colecionista de Felipe IV se vê claramente nas obras que adquiriu no leilão de Carlos I da Inglaterra, outro dos grandes colecionistas da história, cujas obras foram vendidas em Londres a partir de 1649, após sua execução. No citado leilão, Felipe IV adquiriu obras tão significativas como 'El Tránsito de la Virgen', de Mantegna; 'El lavatorio', de Tintoretto; el 'Autoretrato', de Durero; 'La Sagrada Familia' ou 'La Perla', de Rafael; ou o 'Moisés salvado de las aguas', de Veronés". (tradução livre do espanhol - pág. 11) - "La Guía del Prado", de vários autores, organização María Dolores Jiménez-Blanco, Museo Nacional del Prado, impressão Brizzolis, Madrid, segunda edição, maio de 2009.
Os Bourbons mudaram o gosto artístico. Trouxeram com eles artistas franceses e tiveram um maior interesse pela arte italiana mais clássica. Felipe V adquiriu a coleção de Carlo Maratta, com pinturas de Carracci, Sacchi e Poussin. Sua segunda esposa, a italiana Isabel de Farnesio acrescentou obras de artistas flamengos e holandeses do século XVII e outros italianos clássicos Guercino e Guido Reni. Durante sua estadia em Sevilha, a italiana comprou um grande número de pinturas de Murillo.
Outro destaque foi Carlos IV, sobre o qual nos servimos do texto do "La Guía del Prado":
"O reinado de Carlos IV, que teve lugar entre 1788 e 1808, foi outro dos grandes momentos da coleção de pintura. Este monarca, além de proteger Goya e Paret, enriqueceu as Coleções Reais com obras clássicas de Barocci, Andrea del Sarto e Rafael, a que acrescentou obras de artistas espanhóis como Ribera, Ribalta ou Juan de Juanes. Carlos IV foi sucedido por sua filho Fernando VII, quem, como já foi visto, foi o fundador do Museo del Prado" (tradução livre do espanhol - pág. 12) - "La Guía del Prado", de vários autores, organização María Dolores Jiménez-Blanco, Museo Nacional del Prado, impressão Brizzolis, Madrid, segunda edição, maio de 2009.
O museu abriu com 311 obras de artistas espanhóis, mas logo foram incorporadas rapidamente outras que se encontravam nos palácios e sítios reais. No inventário de 1827, a instituição já tinha um acervo de mais de 4.000 quadros.
Em razão de seu caráter real, os primeiros administradores faziam parte da alta nobreza espanhola. O primeiro diretor foi o Marquês de Santa Cruz.
Infelizmente, na época, nós não podíamos "sacar fotos". Mas o museu, na nossa opinião, é imperdível, além de ser muito bem organizado, respeitando a cronologia e a origem das obras, as pinturas são magníficas, obras-primas dos maiores mestres da arte em todos os tempos: "La resurrección de Lázaro", de Juan de Flandes (1510-18); "La Ultima Cena", de Juan de Juanes (1562); "El Príncipe Don Carlos", de Alonso Sánchez Coello (1558); "La Trinidad" (1577-79), "El caballero de la mano en el pecho" (1580). "El Bautismo de Cristo" (1597-1600) de El Greco; "Cristo abrazando a San Bernardo", de Francisco Ribalta (1628); "Isaac y Jacob", de José Ribera (1637); "Santa Isabel de Portugal", de Francisco de Zurbarán (1640); "Cristo muerto sostenido por un ángel", de Alonso Cano (1646); "Felipe IV" (1623-27), "El triunfo de Baco" (1628-29), "La fragua de Vulcano" (1630), "Cristo crucificado" (1631-32), "Don Gaspar de Guzmán, conde-duque de Olivares" (1634), "Las meninas" (1656), "Las lanzas" ou "La rendición de Breda" (1634-35), "El príncipe Baltasar Carlos, a caballo" (1635-36), todos de Diego Velázquez; "Aparición de la Virgen a san Bernardo" (1660), "La Inmaculada Concepción de los Venerables o 'de Soult'" (1678), ambas de Murillo; "Las parejas reales", de Paret (1770); "Cristo crucificado" (1780), "La familia de Carlos IV" (1828), "La maja desnuda" (1797-1800), "La maja vestida" (1800-05); "El dos de mayo de 1808 en Madrid" (1814), "El tres de mayo de 1808 en Madrid" (1814), "Saturno devorando a uno de sus hijos" (1821-23), todas de Francisco de Goya; "Niños en la playa", de Joaquín Sorolla (1910); "La Anunciación", de Fra Angelico (1425-28); "El cardenal" (1510-11), "Sagrada Familia" ou "La Perla" (1518), ambas de Rafael Sanzio; "Venus recreándose en la música" (1550), "El emperador Carlos V, a caballo, en Mülhberg" (1548), "Felipe II" (1551), "Venus y Adonis" (1554), todas de Tiziano; "El lavatorio", de Tintoretto (1547); "La disputa con los doctores en el Templo", de Veronés (1548); "David vencedor de Golias", de Caravaggio (1600); "Inmaculada Concepción", de Giovanni Battista Tiepolo (1767-69); "El Descendimiento", de Van der Weyden (1435); "El Jardín de las Delícias" (1500-05), "La Adoración de los Magos" (1495), "El carro del heno" (1515), de Hieronymus Bosch (Bosco); "El triunfo de la Muerte", de Pieter Bruegel, o Velho (1562-63); "María Tudor, reina da Inglaterra, segunda mujer de Felipe II", de Antonio Moro (1554); "Las tres Gracias" (1635), "La Adoración de los Reyes Magos" (1628-29), "Retrato ecuestre del duque de Lerma" (1603), "El jardín del Amor" (1633-34), todas de Paulo Rubens; "La Coronación de espinas", de Van Dyck (1618-20); "Artemisa", de Rembrandt (1634); "La familia de Felipe V", de Van Loo (1743); "Autorretrato" (1498), "Adán" (1507), "Eva" (1507), de Albrecht Dürer (Durero); "Carlos III" (1761) "Maria Luisa de Parma, Princesa de Asturias" (1765), ambas de Anton Raphael Mengs.

Museo del Prado, estilo neoclássico, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
Francisco José de Goya y Lucientes, ou simplesmente Francisco de Goya, foi o artista europeu mais importante de seu tempo. Nascido em 1746, em Fuendetodos (Aragão), foi estudar pintura em Zaragoza e, logo em seguida, se transferiu para Madrid, em 1775. Lá, passou a ser retratista das famílias da aristocracia local, trabalho que lhe deu prestígio e lhe permitiu ingressar na Real Academia de San Fernando. Em 1789, foi nomeado pintor de câmara de Carlos IV. Na época do seu ingresso na arte, imperava o rococó, mas ele soube evoluir para o neoclássico e, logo depois, adiantou-se e apontou para onde a arte iria no futuro: o romantismo, o impressionismo, o expressionismo e o surrealismo.
O Museo del Prado detém importante coleção das obras de Goya, mas duas se destacam pela energia e dramaticidade, representando eventos históricos ocorridos durante a ocupação francesa:
- "El dos de mayo de 1808 en Madrid" (1814) - na obra, Goya representou o começo da sublevação do povo de Madrid contras as tropas francesas, retratando o ataque dos patriotas aos mamelucos, guerreiros egípcios incorporados à Guarda Imperial de Napoleão, e aos Dragões da Imperatriz, que custodiavam a saída do Palacio Real do último dos infantes espanhóis, Dom Francisco de Paula.

"El dos de mayo de 1808 en Madrid", de Francisco de Goya - Museo del Prado, Madrid, Dominio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=6342190
- "El tres de mayo de 1808 en Madrid" (1814) - é a representação da reação francesa ao levante do povo espanhol: na mesma tarde de dois de maio do levante popular e durante a noite/madrugada de dois para três de maio, o exército francês fuzilou muitos dos sublevados, em vários lugares de Madrid.

"El tres de mayo de 1808 en Madrid", de Francisco de Goya, de El_Tres_de_Mayo,_by_Francisco_de_Goya,_from_Prado_in_Google_Earth.jpg: Francisco de Goyaderivative work: Papa Lima Whiskey 2 - Este archivo deriva de: El Tres de Mayo, by Francisco de Goya, from Prado in Google Earth.jpg:, Dominio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=18777858.

Monumento aos heróis de 2 de mayo, que comemora o levante popular de Madrid contra a invasão francesa em 1808, Paseo del Prado, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
Por conta de sua importância, ao lado do Museo del Padro, foi colocada uma estátua de bronze em homenagem a Goya, realizada por Mariano Benlliure y Gil, em 1902. Inicialmente instalada no Parque del Retiro, depois colocada na Calle Goya e, finalmente, em 1946, foi transferida para o local atual.

Estátua de Francisco de Goya; no pedestal, uma escultura representando a famosa pintura de Goya: "La maja desnuda". Museo del Prado, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
Diego de Silva Velázquez nasceu em Sevilha (Andaluzia), em 1599, de uma família de origem portuguesa pelo lado paterno, os Silva, do Porto. Cedo, Velázquez mostrou dom extraordinário para pintura. Iniciou sua carreira como aprendiz no ateliê de seu futuro sogro Francisco Pacheco. Vai parar na corte espanhola, em 1623, por conta da origem sevilhana da família do Conde-Duque de Olivares, o valido de Felipe IV. Pouco depois, foi nomeado pintor de câmara do rei. Em agosto de 1629, por iniciativa de Felipe IV, Velázquez empreendeu uma viagem pela Itália, percorrendo Gênova, Milão, Veneza, Florença e Roma, com o fim de estudar a arte renascentista e conhecer a pintura italiana da sua época. Por sua contribuição à pintura espanhola e seu trabalho como retratista da família real, foi nomeado por Felipe IV Cavaleiro da Ordem de Santiago.
Assim María del Hierro salientou a importância de Valázquez na arte mundial:
"Não obstante, seu estilo naturalista, a diversidade de suas técnicas, suas sutis harmonias de cor e seu magistral emprego da luz o converteram em um dos mais insignes pintores da história. Tanto é assim que sua influência se prolongou ao longo dos séculos e chegou na pintura moderna por meio dos impressionistas franceses ou mesmo Picasso. Os primeiros, influenciados por Manet, encontraram em Velázquez o ideal a que aspirar por seu singular tratamento da luz." (tradução livre do espanhol - pág. 115) "Historia de España", de María Pilar Queralt del Hierro, Susaeta Ediciones S.A., Tikal Ediciones, Madrid, 2006.
Vejamos a opinião do respeitado filósofo espanhol Ortega y Gasset:
"Foi dito sobre Velázquez que era um homem de poucas ideias. Não entendemos bem o que se quer dizer com isso. Provavelmente a observação se origina por não saber ver quais são as ideias de um pintor naturalista. Velázquez pintou pouco porque nunca sentiu sua arte como ofício, mas quando repassamos sua obra do ponto de vista da originalidade, da fertilidade no modo de encontrar novos temas ou novas maneiras de tratar os temas usuais, surpreende-nos perceber que não existiu nenhum pintor com mais ideias. Quase cada uma de suas telas é uma ideia nova. Com exceção dos retratos da realeza, Velázquez não se repete nunca. E o fato inquestionável é que seus três grandes quadros - 'As lanças', 'Las meninas' e 'As fiandeiras' - são três criações imprevistas na pintura, que revelam o poder mais genial de invenção" (pág. 182) - "Velázquez", de José Ortega y Gasset, tradução e organização Célia Euvaldo, Editora WMF Martins Fontes, São Paulo, 2016.
Interessante, também, é o desdém de Velázquez diante dos invejosos, até de forma jocosa, segundo Ortega y Gasset:
"A conduta de nosso pintor ante esse permanente trabalho da inveja é exemplar. Ignora-a; não se ocupa dela, a não ser que chamemos o desdém de ocupação. Velázquez foi um gênio do desdém. Poucos homens lograram desdenhar tão integramente, tão naturalmente como Velázquez. A falta de reação à inveja em seu redor é tal, que em um primeiro momento pensaríamos que obedece à falta de brio, de combatividade. Mas o fato é que, quando a inveja se acerca em demasia e alguma resposta é inevitável, Velázquez escancara a mandíbula e dá uma dentada de leão à sua volta. Sabia-se que suas 'saídas' eram mortíferas. Um dia, não muito tempo depois de ser nomeado pintor de câmara, Filipe VI, interessado em que Velázquez defendesse sua fama, comunica-lhe o que as pessoas dizem dele, que não sabe pintar nada além de cabeças. O jovem e doce Velázquez sacode então um instante sua longa juba negra e responde ao rei: 'Senhor, pois me fazem um grande honra, porque ainda não vi uma única cabeça bem pintada'. Essa é uma das três ou quatro frases que nos chegaram, e, como as demais, em sua sentenciosa brevidade nos orienta, a uma só vez, sobre seu caráter, sobre a consciência clara com que seguia seu desígnio artístico e sobre a intenção pictórica que o guiava. Velázquez é o homem saturado de talento, a quem não interessa o que as pessoas sem talento opinem sobre ele". (pág. 17) - "Velázquez", de José Ortega y Gasset, tradução e organização Célia Euvaldo, Editora WMF Martins Fontes, São Paulo, 2016.
Pela sua importância na história da arte espanhola e mundial, a estátua de Velázquez está exatamente na frente da entrada principal do Museo del Prado. A estátua, projeto de Aniceto Marinas, é de bronze e representa a figura sentada de Velázquez, com seu pincel e sua paleta em posição de descanso. O pedestal foi obra de Vicente Lampérez e tem quase 2 metros. O monumento foi inaugurado em 14 de junho de 1899, em comemoração aos 300 anos de nascimento do pintor.

Estátua sentada de Velázquez em frente ao Museo del Prado, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
A obra maior de Velázquez, "Las meninas" ou "La familia de Felipe IV", no olhar do próprio museu:
"Las meninas é sem dúvida a pintura mais conhecida do Museo del Prado, a mais famosa de seu autor e a que melhor resume as características de sua arte. É uma obra aberta e complexa, que se nos apresenta como instantâneo da vida, mas que encerra numerosos níveis de leitura atrás de sua aparente claridade. Em uma ampla sala del Alcázar de Madrid aparece a infanta Margarita flanqueada por duas donzelas - às que se denomina 'meninas' - que lhe atendem: María Augustina Sarmiento, que lhe oferece água em uma vasilha, e Isabel de Velasco. À esquerda desta, e um pouco adiante, a anã Maribárbola e um mastim ao que pertuba o pequeno bufão Nicolasito Pertusato. Atrás, e um pouco em penumbra, se situam um guarda-damas não identificado e Marcela de Ulloa e, no outro lado da composição, o próprio Velázquez. Ao fundo da sala vemos a silhueta a contraluz de José Nieto, aposentador real, e um espelho em que se refletem os reis, que portanto se situam fora do quadro, no espaço do espectador. As numerosas figuras se organizam em uma equilibrada composição em que adquire uma grande presença o espaço de prodigiosa profundidade que parece abrir-se mais, além do quadro" (tradução livre do espanhol - pág. 120)- "La Guía del Prado", de vários autores, organização María Dolores Jiménez-Blanco, Museo Nacional del Prado, impressão Brizzolis, Madrid, segunda edição, maio de 2009.

"Las meninas", de Diego Velázquez - Galería online, Museo del Prado., Dominio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=15474596
O Museo Thyssen-Bornemisza fica muito próximo do del Prado e reúne, basicamente, a coleção de arte construída pelo Barão Heinrich Thyssen-Bornemisza e seu filho Hans Heinrich. Trata-se da coleção de arte privada mais importante do mundo. O objetivo deles era ilustrar a história da arte ocidental a partir dos primitivos italianos e flamengos até o expressionismo e a pop art. A coleção passou a ocupar, em 1992, o Palacio de Villahermosa, do séc. XVIII, após sua remodelação pelo arquiteto Rafael Moneo. Entre os destaques do museu, têm-se: "Venus y Cupido" (1606-11) de Rubens; "Santa Casilda" (1640-45), de Zurbarán; "Mata Mua" (1892), de Gauguin; "Habitación de hotel" (1931), de Edward Hope; "Arlequín con espejo" (1923), de Pablo Picasso.
No dia em que fomos ao museu, havia uma exposição temporária de algumas obras de Matisse, que tivemos a oportunidade de visitar. Foi espetacular.

Anexo modernista do Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.

Exposição temporária de Matisse, Museo Thyssen-Bornemisza; no cartaz da propaganda, a reprodução do quadro de Matisse "Odalisque au fauteuil" - "Odalisca na poltrona" (1928) Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
Continuando no Paseo del Prado, no cruzamento da Calle de Alcalá, tem-se a célebre Plaza de Cibeles, onde se encontra instalada a Fuente de Cibeles desde 1782, dentro do plano de reurbanização de Madrid empreendido por Carlos III, da era da "Ilustração".
A deusa e o carro foram esculpidos por Francisco Gutiérrez, os leões, por Roberto Michel, e os adornos, por Miguel Ximénez, baseados no desenho de Ventura Rodriguez.
A fonte representa a deusa Cibele, símbolo da fecundidade e mãe dos deuses, sobre um carro puxado por leões. Estes eram Hipomene e Atalanta, que, segundo a lenda, eram jovens enamorados que resolveram fazer amor em um templo de Cibele. Ela (ou Zeus) se enfureceu por conta disso e transformou os jovens em leões, com a obrigação de puxar o carro de Cibele.

Fuente de Cibeles, Plaza de mesmo nome, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
No entorno da Plaza de Cibeles, há importantes prédios, dentre eles o Palacio de Linares e o Banco de España, do final do século XIX, de estilo eclético.
O Palacio de Linares foi construído por iniciativa de José de Muarga y Reolid e Raimunda de Osorio y Ortega, primeiros Marqueses de Linares. Em 1877, as obras foram encomendadas ao arquiteto Carlos Colubi, seguindo os desenhos do arquiteto francês Adolf Ombrecht. Os marqueses ocuparam o prédio, de construção sólida e com materiais nobres, em 1884, porém este somente foi concluído em 1900.

Palacio de Linares, Plaza de Cibeles, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
Na segunda metade do séc. XIX, com o incremento das atividades, o Banco de España precisava de uma nova sede. Assim, em 1884, foi contratado o projeto, em estilo eclético, dos arquitetos Eduardo Adaro e Severiano Sainz de la Lastra, e, ainda no mesmo ano, foi colocada a pedra fundamental pelo rei Alfonso XII. A sede do banco foi inaugurada em 1891, por Alfonso XIII e sua mãe María Cristina, então regente.

Sede do Banco de España, Plaza de Cibeles, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha
Seguindo agora pela Calle de Alcalá sentido oeste, encontramos a famosa bifurcação onde, à esquerda continua-se na Alcalá e, à direita, na Gran Vía. Exatamente nesse ponto, nos deparamos com o Edificio Metrópolis, concluído em 1910 e inaugurado em 1911, com base no projeto dos arquitetos franceses Jules e Raymond Février, e execução do arquiteto espanhol Luis Esteve Fernández-Caballero, para o funcionamento da companhia de seguros "La Unión y el Fénix".
O edifício pode ser classificado como eclético historicista francês. O andar inferior, bem austero, contrasta com os andares superiores, em estilo neorrenascentista com detalhes neobarrocos, adornados com colunas coríntias e entablamentos que servem de plataforma para as estátuas alegóricas do Comércio, da Agricultura, da Indústria e da Mineração, dos escultores Benlliure e Landowski. A torre circular é coroada por uma cúpula de ardósia com incrustações douradas, conhecida como estilo pompier. No alto, fica a figura de "Vitória Alada".

Edificio Metrópolis, Calle de Alcalá, n. 39, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
Em razão da grande comunidade islâmica na Espanha, em 1992, foi inaugurado, à margem da via M-30, o Centro Cultural Islámico de Madrid (conhecido como Mezquita de la M-30), considerada como a maior instituição muçulmana do país. Seu interior é inspirado em Alhambra (Granada), e são 12.000 metros quadrados em seis andares, contando com um colégio, uma biblioteca, um museu, um auditório, um ginásio, salas de exposição, restaurante, cafeteria e os aposentos do diretor e ímã.

Porta de entrada do Centro Cultural Islámico de Madrid (Mezquita de la M-30), via M-30, lateral, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.

Minarete do Centro Cultural Islámico de Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
A Plaza de Toros de Las Ventas, em estilo neomudéjar (inspirado no estilo antigo que continha elementos arquitetônicos e decorativos hispano-muçulmanos) em ladrilho, foi projetada por José Espelius, iniciada em 1919, e, com a morte dele, terminada por Manuel Muñoz Monasterio em 1929. Sua inauguração ocorreu em 1931. A decoração é com base no azulejo do ceramista Alfonso Romero Mesa, representando todas as províncias espanholas e outros motivos ornamentais.
É a maior plaza de toros da Espanha e a segunda do mundo; a primeira encontra-se no México.

Puerta Grande ou de Madrid (arco de ferradura), Plaza de Toros de Las Ventas, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.

Plaza de Toros de Las Ventas, revestimento de ladrilho (neomudéjar), Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.

Lateral da Plaza de Toros de Las Ventas, em destaque, torre. Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.

Puerta de Autoridades, Plaza de Toros de Las Ventas, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.

Estatua del torero Jose Cubero El Yiyo, em frente à Plaza de Toros de Las Ventas, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
A tauromaquia ou corrida de touros ou tourada é, basicamente, a arte de lidar com touros bravos.
As corridas de touros já eram praticadas na Península Ibérica, com alguma frequência, desde a Idade Média, mas o que se conhece por tauromaquia moderna se organizou no século XVIII.
Ao longo do século XVIII foram estabelecidas as bases da tourada moderna. Na Espanha, passou a predominar o toureio a pé. Houve o estabelecimento dos matadores, bandarilheiros e picadores.
O pioneiro foi Francisco Romero, de Ronda, de quem se fala que foi o formulador do estoque (espada curvada) e o emprego e aperfeiçoamento da muleta. Mas foi em Sevilha que se solidificaram as bases da tourada moderna, como se conhece hoje.
Basicamente, uma corrida de touros se dá nesse sequência, composta em "Tercios", separados por toques de clarins:
O "Primer Tercio" ou "Tercio de Varas", o toureiro emprega o capote (uma capa grande e grossa com um lado rosa e outro amarelo), medindo a bravura do touro. Na continuação, os picadores, montados a cavalo, ferem o touro com a pontas das lanças.
O "Segundo Tercio" ou "Tercio de Banderillas", três "bandarilheiros", a pé, cravam, cada um, um par de "bandarilhas" no dorso do touro, com o objetivo de acordá-lo para o que vem em seguida.
O "Tercio Final" ou "Tercio de Muerte", na denominada "suerte suprema", o toureiro usa a muleta, um pequeno pano vermelho preso a um pau. Na última parte da corrida, o toureiro deve demonstrar controle sobre o touro, estabelecendo uma relação simbiótica entre ambos, para, ao fim, matá-lo com a espada (ou ser ferido ou morto pelos cornos do touro).
Embora a lide a pé seja conhecida como uma arte espanhola, ela é praticada, ainda, na França, Espanha, Portugal, México, Peru, Venezuela, Equador e Colômbia.

Ruedo de la Plaza de Toros de Las Ventas, local onde ocorrem as corridas de touros, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.

Muleta de torero, ruedo de la Plaza de Toros de Las Ventas, utilizada pelos toureiros para, por meio de movimentos feitos com o pano, irritar o touro de forma que este lance um ataque. Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.

Capote de torero, utilizado antes da muleta para avaliar o grau de bravura do miura, Plaza de Toros de Las Ventas, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
Agora, no Paseo de la Castellana, fomos a um dos templos do futebol mundial, o estádio do Real Madrid, Santiago Bernabéu.
O estádio, por iniciativa do então presidente do Real Madrid, Santiago Bernabéu, foi inaugurado sob o nome "Estadio Real Madrid Club de Fútbol", em 14 de dezembro de 1947, com a partida amistosa entre o time anfitrião e C. F. Os Belenenses de Portugal.
Em 4 de janeiro de 1955, por decisão da Asamblea General de Socios Compromisarios, o estádio passou a se chamar Santiago Bernabéu, homenageando o ex-presidente do clube e artífice do equipamento.
O estádio, durante todos esses anos, passou por várias reformas, inclusive uma antes da nossa visita, entre 2001 e 2006. Por conta disso, em 2007, o equipamento recebeu da UEFA a categoria "estadio de élite" ou "cinco estellas".

Estadio Santiago Bernabéu, Avda. Concha Espina, 1, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
A Plaza de España é um dos lugares mais populares de Madrid, centro do tráfico e ponto de encontro, e está nas proximidades do Palacio Real. Embora seja uma praça desde o início do século XX, ela somente tomou sua conformação com a construção do Edificio España, entre 1948 e 1953.
O Monumento a Miguel de Cervantes, projetado pelos arquitetos Rafael Martínez Zapatero e Pedro Muguruza Otaño e executado pelos escultores Lorenzo Coullaut-Valera e seu filho Federico Coullaut-Valera Mendiguti, foi inaugurado em 13 de outubro de 1929, no centro da praça, mas ainda inacabado. Do jeito que se encontra hoje, considerou-se terminado somente em 1960.
O monumento foi elaborado em torno de um grosso obelisco, emoldurado, nos seus cantos, por quatro pilastras.

Face principal do obelisco do Monumento a Miguel de Cervantes, no qual, obra de Lorenzo Coullaut-Valera, se vê a escultura do homenageado sentado e de aspecto severo, tendo em sua mão direita o livro de Dom Quixote e guardando, sob a capa, o braço esquerdo, cobrindo os danos sofridos na Batalha de Lepanto. A cruz vermelha e azul que aparece abaixo da escultura é a marca da Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos ou Ordem dos Trinitários; foi a ordem que interveio para a libertação de Cervantes após ficar preso cinco anos preso em Argel.
À frente, têm-se os personagens mais célebres de Miguel de Cervantes, Don Quijote de la Mancha e Sancho Panza, realizadas em bronze pelo escultor Lorenzo Coullaut-Valera, como se estivessem percorrendo os campos de La Mancha.

Esculturas de Don Quijote de la Mancha e Sancho Panza, Monumento a Miguel de Cervantes, Plaza de España, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
O Templo de Debod, que hoje fica no Parque Oeste ou Parque de la Montaña, em Madrid, foi doado à Espanha, em 1968, pelo governo egípcio como forma de agradecimento à ajuda espanhola, após o chamamento internacional da UNESCO com o fim de salvar os templos da Núbia, em perigo de desaparecimento devido a construção da Represa de Assuã. Foram doados, na época, além deste, o Dendur aos Estados Unidos (hoje no Metropolitan Museum de Nova Iorque), o Ellesiya à Itália (hoje no Museu Egípcio de Turim), e o Taffa aos Países Baixos (Holanda) (hoje no Rijksmuseum van Oudheden de Leiden).
A primeira parte do santuário provavelmente foi construída entre os anos 200 e 180 a.C., por ordem do rei núbio Adijalamani (Azakeramón), em honra da deusa Iris. Sua construção completa teria ocorrido ao longo de duzentos anos, em três etapas: a Meorítica, com edificação da Capela de Adijalamani, núcleo do templo atual; a segunda, a Ptolomaica, em que os faraós dessa dinastia fizeram uma série de ampliações transformadoras, inclusive em homenagem ao deus Amón; e por fim, a Etapa Romana, em que foram limitadas a fachada principal e o átrio, encontrando-se neles relevos com os imperadores Augusto e Tibério.
A desmontagem do santuário no Egito e sua montagem na Espanha, em 1970, pedra a pedra, foi um processo lento e trabalhoso, sendo inaugurado apenas em 1972, com visitação pública.

No coração de Madrid, na Puerta del Sol, está o símbolo da cidade: "O Oso y el Madroño". A escultura é baseada nas figuras que se encontram no centro do escudo da cidade de Madrid: em terminologia heráldica: um urso de sable (negro) apoiado em um medronheiro de sinople (verde) frutado de goles (vermelho).
A escultura foi realizada por Antonio Navarro Santafé e inaugurada, na Puerta del Sol, em 1967.
Hoje, tem-se uma discussão, que beira à idiotice, se se trata de um urso ou uma ursa.

"O Oso y el Madroño", Puerta del Sol, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
Por fim, em Madrid, não podemos de deixar de visitar o Museo del Jamón (Museu do Presunto), para desfrutar dos diversos presuntos maravilhosos produzidos pela Espanha, além de outras delícias.
E aqui precisa esclarecer a diferença entre os jamóns famosos da Espanha: o serrano e o ibérico.
O serrano é o mais comum, que pode ser encontrado nos supermercados e consumido habitualmente (pelo menos na Europa). É produzido com carne dos porcos brancos de diferentes raças, como duroc, pietrain. Os animais podem ser criados e alimentados em ambientes fechados ou, às vezes, em liberdade.
O serrano vem do fato de esse presunto ser curado em clima de serra seco e frio; por conta do tempo do processo de cura, os presuntos são classificados em: "jamón de bodega" (9 a 12 meses); "jamón reserva" (12 a 15 meses); e "jamón gran reserva" (mais de 15 meses).
A carne é rosada e tem menos manchas de gordura que o ibérico, sendo, em razão disso, mas seca e menos brilhante. O gosto é menos acentuado, pela menor quantidade de gordura, e é mais salgado, por conta da maior quantidade de sódio.
Já o jamón ibérico vem dos porcos de raça ibérica (pretos).
A alimentação e a forma como ela é administrada têm reflexos na qualidade do presunto, podendo ser dividida em: "etiqueta blanca" (porcos alimentados com ração para criação intensiva); "etiqueta verde" (alimentação igual, mas livres, como na pecuária extensiva, podendo comer pasto); "etiqueta roja" (carne procedente de porcos que não são cem por cento ibéricos, criados livres e que se alimentam de bolota e de pastos somente durante sua última fase de engorda); e "etiqueta negra" (carne de porcos de raça pura, criados em liberdade e alimentados somente com bolotas e pasto).
A bolota ou "bellota" é o fruto de árvores que pertencem à família dos carvalhos.
O processo de cura do ibérico dura entre 2 a 4 anos; a carne tem um tom vivo e brilhante com muitas manchas brancas de gordura, o que lhe confere um gosto saboroso e suculento; também não é tão salgado, porém tem um cheiro bem forte e característico.
Portanto, o "top of the top" dos presuntos espanhóis é "jamón ibérico de bellota" ou "pata negra".

Museo del Jamón, Calle Mayor, 7, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.

Museo del Jamón, Madrid, Província de mesmo nome, Espanha.
Vamos agora para Toledo, na Castela-Mancha. Hasta luego.
Fontes: Wikipedia e "España" Guías Visuales, DK El Pais Aguilar, Octava edición, Santillana Ediciones Generales, S. I. Madrid, 2011.
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