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La Spezia e Porto Venere - Região da Ligúria - Norte da Itália - 2023

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 19 de mar. de 2024
  • 11 min de leitura

Chiesa di San Pietro, na ponta do Promotorio dell'Arpaia, a partir da muralha sudoeste do Castello Doria. Porto Venere, Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.


Continuamos nossa viagem pelo Norte da Itália, visitando La Spezia e Porto Venere, na Região da Ligúria.


1 - La Spezia


La Spezia é a capital da província de mesmo nome, pertencente à Região da Ligúria, com mais de 92 mil habitantes, sendo a segunda cidade mais populosa da região depois de Gênova.

La Spezia foi citada pela primeira vez num documento de 1160: um ato comercial no qual Bonus Johanes e Baldus de Specia fizeram acordos entre si.


Em 1253, Niccolò Fieschi, membro de um poderosa família genovesa, adquiriu numerosos territórios no Levante, inclusive La Spezia, que se tornou a capital do efêmero feudo, posto que, em 1276, o aristocrata foi forçado a vendê-los à República de Gênova, depois da derrota que sofrera em La Spezia três anos antes.


O primeiro doge de Gênova, Simon Boccanegra, em 1343, criou a Podesteria della Spezia, em razão de sua importância como centro de produção e comércio de sal (riqueza mineral muito valiosa na época), o que atraiu a atenção das potências inimigas, o que fez com que se decidisse, em 1371, pela construção de uma sólida muralha defensiva.


Em 1571, oitenta galés espanholas, comandadas por João de Áustria, irmão do rei Filipe II da Espanha, fundearam no Golfo della Spezia à espera da frota da Santa Liga para participarem juntos da Batalha Naval de Lepanto, que representou uma grande vitória cristã sobre os muçulmanos e o fim da expansão islâmica no Mediterrâneo; infelizmente, durante essa batalha, o grande escritor espanhol Miguel de Cervantes, autor de "Dom Quixote de La Mancha", sofreu vários ferimentos que lhe fizeram perder o movimento do braço esquerdo.


Em 1797, o exército revolucionário francês, comandado por Napoleão Bonaparte, ocupou o território da então República de Gênova, e La Spezia tornou-se parte da República da Ligúria e sede do Departamento de Venere; em 1805, junto com a Ligúria, La Spezia foi incorporada ao Império Francês.


Com a derrota de Napoleão em 1814, no ano seguinte La Spezia tornou-se parte do Reino da Sardenha/Piemonte, e, a partir de 1861, do Reino da Itália.


Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade foi muito danificada por bombardeios aliados em 1944.


Começamos nosso passeio pela Piazza Europa, e, ao adentramos na Via Vittorio Veneto, número 19, nos deparamos com o prédio, originalmente residencial, conhecido como Grattacielo di Via Vittorio Veneto ou Grattacielo Bibbiani, datado de 1927-28 e erguido na área destinada, no início do século XX, à ampliação de novos edifícios.


O projeto, dos arquitetos Raffaello Bibbiani, cujo sobrenome batizou o edifício, e Giorgio Guidugli, caracteriza-se por um estilo Art Déco eclético, com algumas referências neogóticas; para acentuar a sua verticalidade, três pisos apresentam janelas salientes.


O aparato decorativo, de autoria de Augusto Magli, caracteriza-se por representações zoomórficas nos cachorros (mísulas) das varandas e janelas salientes, nos vincos que acompanham a fachada e nos pilares do frontão: avistam-se caranguejos, monstros acorrentados, vitórias aladas.


Cinco pilastras sustentam o mesmo número de estátuas de mármore redondas, intercaladas com medalhões esculpidos. O frontão, apoiado por cinco colchetes zoomórficos, sustenta uma série de oito telamones (ou atlantes).


O pórtico de frente para a rua ainda conserva a decoração original do teto.




Grattacielo di Via Vittorio Veneto ou Grattacielo Bibbiani, edifício datado de 1927-28, estilo Art Déco eclético, com elementos góticos; destaque para as cinco pilastras encimadas por esculturas de mármore, as três janelas sacadas nos três pisos centrais e o frontão com oito telamones (atlantes). Via Vittorio Veneto,19, La Spezia, Província de mesmo nome, Região da Ligúria, Itália.


Continuando pela Via Vittorio Veneto, encontramos a Piazza Giuseppe Verdi, na qual nos deparamos com o edifício Palazzo Boletto, construído em 1927 a partir de projeto do arquiteto Vincenzo Bacigalupi, em claro estilo Art Nouveau.


Na verdade, em 1927, o edifício original era apenas a porção oeste à qual foi acrescentando, em 1933, o corpo leste, também obra de Bacigalupi.




Palazzo Boletto, corpo oeste, erguido em 1927, estilo Art Nouveau; na esquina, n. 25 e 26, vê-se no térreo a Pasticceria Fiorini. Piazza Giuseppe Verdi, 16-26, La Spezia, Província de mesmo nome, Região da Ligúria, Itália.


Passeando pela Via Giovanni Sforza, na altura do n. 21, observamos uma estátua em homenagem ao grande compositor de óperas alemão Richard Wagner.


A escultura, criada em 1978, em Moscou, e doada pelo artista russo Aidyn Zeinalov, foi inaugurada em 15 de março de 2019, por ocasião do vigésimo aniversário da geminação (cidades-irmãs ou gêmeas) entre a cidade de La Spezia e a cidade de Bayreuth, na Alemanha, torrão natal de Wagner.


A razão para a homenagem é que Wagner, no início do mês de setembro de 1853, hospedou-se na Locanda Universo, que funcionava, na época, no térreo do antigo Palazzo della Famiglia Doria Pamphili, na Via del Prione, 45, edifício histórico construído pelos Dorias na cidade, no século XV, quando obtiveram autorização da República de Gênova para instalar uma fábrica de sabão em La Spezia.


Richard Wagner ficou na locanda durante a sua viagem à Itália, que o levou a La Spezia, precisamente no período em que os melhores hotéis da cidade estavam ocupados pela família real e sua comitiva; era o verão de 1853, e Wagner encontrou uma acomodação num sofá, na lotada Locanda Universo, ocasião em que aconteceu uma coisa estranha: no torpor do meio sono, ele percebeu os vários sons vindos da Via del Prione que se fundiam num único som confuso, quase o ruído de uma corrente líquida; no livro "Mein Leben" (Minha Vida), sua autobiografia, ele escreveu: "o ruído da corrente logo assumiu um caráter musical: era o acorde em Mi bemol maior ressonante e oscilante em arpejos ininterruptos; depois estes se transformavam em figuras melódicas com movimento cada vez mais rápido, sem, no entanto, o acorde puro em Mi bemol maior ter sido modificado; na verdade, sua persistência parecia conferir um significado profundo ao elemento líquido em que eu parecia mergulhar. De repente tive a sensação de que as águas se aproximavam de mim e acordei sobressaltado. Reconheci imediatamente que o motivo do prelúdio de Rhinegold  [O Ouro do Reno] se revelou subitamente para mim, como eu já tinha em mente há algum tempo, sem contudo ter podido dar-lhe forma até então”.




Estátua de Richard Wagner, o grande compositor de óperas alemão; a imagem reproduz o momento em que Wagner, numa noite mal dormida, acomodado num sofá, escuta o barulho que vem da rua e nele se inspira para escrever o prelúdio da obra "O Ouro do Reno", que faz parte da sua tetralogia operística "O Anel dos Nibelungos", baseada na mitologia nórdica. Largo Torquato Enrico Cavallini ( rodeado das ruínas de uma "Ferida de Guerra", prédio destruído durante bombardeio da II Guerra Mundial), Via Giovanni Sforza, 21, La Spezia, Província de mesmo nome, Região da Ligúria, Itália.


Fomos à marina do Porto della Spezia, no golfo de mesmo nome, para tomar a embarcação do Consorzio Marittimo Turistico 5 Terre, com a finalidade de visitar Porto Venere e Cinque Terre.




Embarcando por meio do píer do Consorzio Marittimo Turistico 5 Terre. Banchina Thaon di Revel, La Spezia, Província de mesmo nome, Região da Ligúria, Itália.




Aguardando a partida do barco turístico no píer do Consorzio Marittimo Turistico 5 TerreBanchina Thaon di Revel, La Spezia, Província de mesmo nome, Região da Ligúria, Itália.




Saída do porto/marina de La Spezia, vendo-se, ao fundo, dois navios de cruzeiros ancorados no Golfo della Spezia. Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.


2 - Porto Venere ou Portovenere


A origem do topônimo Porto Venere está documentada a partir do século II d.C., quando, num antigo itinerário náutico, “Portus Veneris” é indicado como estação naval dos trirremes romanos (embarcações propulsadas a remo) destinados às rotas para a Gália e a Espanha, mas há indícios de que a povoação do promontório provavelmente é bem anterior à essa época. Possivelmente o nome está ligado à deusa romana Venere (Vênus), que teria um templo em sua homenagem no local onde se ergue hoje a Chiesa di San Pietro.


Por volta de 1113, a então aldeia tornou-se um posto militar avançado de Gênova no Mar Tirreno, após a transferência de propriedade dos senhores de Vezzano (signori di Vezzano) para a república marítima; foram os genoveses, durante seu domínio, que construíram a aldeia fortificada tal como a conhecemos hoje: o Castello Doria, a Grotta Arpaia-Byron, a Chiesa di San Lorenzo, a Chiesa di San Pietro, a Palazzata di Case-torri em frente ao mar, a muralha circundante e a porta da aldeia.


Assim, desde a época medieval, o destino de Porto Venere esteve ligado à grande república marítima, particularmente durante a longa guerra entre Gênova e Pisa, que durou de 1119 a 1290, depois a invasão francesa, em 1396, e o ataque dos aragoneses, em 1494, que provocou sérios danos nas duas igrejas locais.


Após o aperfeiçoamento das armas de fogo de longo alcance (canhões), a vila perdeu a sua "invulnerabilidade" proporcionada por sua posição empoleirada e fortificada, até mesmo de ataques que viessem do mar, mas continuou a ser um porto importante nos itinerários marítimos comerciais.


Após a chegada das tropas revolucionárias francesas, lideradas por Napoleão Bonaparte, ao Golfo della Spezia, e a proclamação da República da Ligúria, em 1797, iniciou-se outro período de abusos, com a ocupação de Porto Venere pelas milícias austro-russas e francesas que desfiguraram bastante as duas igrejas. No final do século XIX, estando a comuna já incorporada ao Reino da Itália, iniciaram-se as obras de restauro, que prosseguiram com perseverança, permitindo a conservação de um espaço histórico-cultural de excepcional valor.


Porto Venere e seu arquipélago foram declarados Patrimônio Mundial pela UNESCO, em 1997, e, em 2001, a Região da Ligúria criou o Parco Naturale Regionale di Porto Venere (Parque Natural Regional de Porto Venere).




Porto Venere vista do mar; posição fortificada, na qual se vê, ao longo da praia, a Palazzata di Case-Torri (conjunto de "palácios" (casas-torre), que impediam o acesso livre do inimigo à vila); à direita, a muralha iniciada pela Torre Capitolare (erguida por volta de 1161), protegendo a parte norte da cidade, e chegando até o Castello Doria, no alto; na parte central, veem-se a cúpula e o campanário da Chiesa di San Lorenzo. Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.




Porta de entrada do recinto amuralhado de Porto Venere. Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.




Via Giovanni Capellini, principal de Porto Venere. Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.


No final da via principal, nós encontramos um largo e, próximo ao mar, uma estrutura com fachada de pedras que é conhecida como Grotta Arpaia ou di Lord Byron.


O famoso poeta e aventureiro britânico Lord George Gordon Byron passou uma longa temporada em 1822 em Porto Venere; conta-se uma estória sobre o poeta de que certa vez ele atravessou o Golfo até Lerici, uma distância de cerca de 7,5 quilômetros, hoje conhecido como Golfo dei Poeti, para visitar seu amigo e poeta Percy Bysshe Shelley, que morreu pouco depois numa tempestade, na costa de Viareggio; abaixo da Chiesa di San Pietro, é possível visitar a gruta de Byron, onde o poeta costumava ir em busca de inspiração para suas composições.




Grotta Arpaia ou di Lord Byron; sobre o portão vê-se uma placa de mármore com a seguinte inscrição: "Questa grotta ispiratrice di lord Byron ricorda l'immortale poeta che ardito nuotatore seido le onde del mare da Porto Venere a Lerici" (Esta inspiradora caverna de Lord Byron relembra o poeta imortal que, como um ousado nadador, desafiou as ondas do mar de Porto Venere a Lerici - tradução livre do italiano). Porto Venere, Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.




Vista do mar a partir da Grotta Arpaia ou di Lord Byron. Porto Venere, Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.


Subimos pela via em direção ao Castello Doria e, no caminho, próximo à muralha do castelo, encontramos dois antigos moinhos desativados.




Um dos antigos moinhos desativados. Porto Venere, Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.

Logo em seguida nos deparamos com o Castello Doria di Porto Venere, construído originalmente por volta de 1160, renovado por diversas vezes entre os séculos XV e XVII, e que se ergue majestosamente atrás da vila.


A parte mais significativa foi construída no século XVI, mas, durante o século XVII, levantou-se uma cortina amuralhada para garantir a defesa dos edifícios mais antigos. Os baluartes permitiam a vigilância do mar, enquanto a parte frontal, que remonta ao século XVI, era responsável por prevenir possíveis ataques vindos de terra.


A fortaleza tem uma planta pentagonal quase regular, estendendo-se o baluarte sul em direção ao mar, alterando assim o esquema básico simples; a porta de entrada dá acesso a uma ampla sala com teto abobadado, de altura variável; a muralha norte do castelo possui amplos passadiços com guaritas e fendas ali dispostas, para defesa convencional com arcabuzes e outras armas próprias para repelir sitiantes; o acesso ao passadiço de patrulha ou cortina superior faz-se através de um terraço lateral com vista para o mar, desenvolvendo-se de sudoeste para noroeste e composto por dois trechos, que têm como cume uma grande e maciça torre circular com uma guarita inserida.




Entrada do Castello Doria, depois de passar pelas muralhas inferiores da fortificação. Porto Venere, Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.



Passadiço da muralha norte do Castello Doria, com guaritas e fendas para abrigar os defensores e possibilitar o emprego de armas com segurança. Porto Venere, Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.




Vista da Marina Pontile Ignazio e das belas residências ao longo do golfo a partir da muralha norte do Castello Doria. Porto Venere, Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.


A partir do sudoeste da muralha do castelo, pudemos ver a Chiesa di San Pietro, localizada na ponta do Promotorio dell'Arpaia.


Situada sobranceira ao mar, é composta por dois edifícios interligados: um de estilo gótico mais recente; o outro românico, muito mais antigo; o mais antigo, inserido no perímetro da igreja e dela parte integrante, tem planta retangular com abside semicircular e eixo longitudinal orientado a nascente; a mais recente, iniciada em 1256 e concluída em 1277, segundo a concepção original, teria três naves acima da área aberta da antiga igreja, mas esse projeto foi alterado, e os dois templos foram ligados por dois arcos de volta perfeita abertos no parede da antiga igreja; a fachada principal e o interior são decorados com largas faixas pretas e brancas, e o presbitério possui duas capelas laterais quadradas cobertas por abóbadas ogivais; o campanário, ao contrário do corpo do edifício que é mesquinho de vazios, abre-se para o exterior apresentando fiadas sobrepostas de janelas abertas que iluminam a sua imponente massa.




Chiesa di San Pietro, na ponta do Promotorio dell'Arpaia, a partir da muralha sudoeste do Castello Doria. Porto Venere, Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.


Descendo do Castello Doria, após passar a muralha da fortificação, encontramos a Chiesa di San Lorenzo.


No ano de 1116, os genoveses, pouco depois de tomarem posse da aldeia, desejaram construir outra igreja que, à semelhança da sua catedral metropolitana, queriam dedicar a San Lorenzo. Construída em estilo românico pela famosa companhia dos Mestres Antelami, foi consagrada em 1130 pelo Papa Inocêncio II.


Tem formato de basílica, com três naves com grandes arcos de volta perfeita originalmente sustentados por colunas de pedra negra local, tendo algumas, posteriormente, sido substituídas por colunas redondas brancas com capitéis dóricos.


A cúpula construída no século XVI, sobre os restos de uma torre de estilo românico, tem forma octogonal com janelas retangulares.


A fachada, que se abre para o adro aberto, com três portais, um para cada nave, apresenta a antiga planta basílica de quatro águas, harmonizada com a estrutura interna da igreja, com corpo central em faixas pretas e brancas; o portal central é românico com colunas retas e torcidas com capitéis contendo escudos heráldicos. Na luneta acima do portal central, para simbolizar o martírio de San Lorenzo, foi colocada uma escultura com evidentes toques góticos, na qual o santo é representado sobre uma grelha em brasa.




Chiesa di San Lorenzo; em destaque, o corpo central vertical com faixas brancas e pretas; o portal central, ladeado de colunas torcidas, tem, na sua luneta, uma escultura representando San Lorenzo sobre uma grelha, que remete ao seu martírio. Porto Venere, Província de La Spezia, Região da Ligúria, Itália.


Em seguida, embarcamos novamente para visitar as cinco aldeias conhecidas como Cinque Terre; mas isso é para o próximo post.



Fontes:


Wikipedia;


Guide: Fabuleuse Italie du Nord: Rome, Florence, Venise, pesquisa e redação de Louise Gaboury, direção de Claude Morneau, versão eletrônica, 2019, Guides de Voyage Ulysse, Québec, Canada.









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