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Maranello e Módena- Norte da Itália - Região Emilia-Romagna - 2023

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 12 de jun. de 2024
  • 19 min de leitura

Sede do Museo Ferrari Maranello. Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


1 - Maranello


De Parma fomos a Maranello, visitar um dos museus da famosa escuderia e fabricante de veículos esportivos de luxo Ferrari.


Seu fundador, Enzo Anselmo Ferrari, nascido em Módena, era piloto de automobilismo e, em 17 de junho de 1923, dirigindo um Alfa Romeo RL 3000, venceu a prova do Circuito de Savio; em sua homenagem, a condessa Sarà Paolina, mãe do aviador italiano Francesco Baracca, herói da Primeira Guerra Mundial, entregou ao vencedor o símbolo que o filho utilizava no seu avião de combate, um "cavalinho empinado" negro, dizendo-lhe: "Coloque-o em seus carros, isso lhe trará sorte."


Francesco Baracca, um ás da aviação italiana, que também era apaixonado por provas hípicas, empregava o brasão modificado - um cavalinho empinado - do 2º Reggimento Piemonte Reale, no qual servira anteriormente, na sua aeronave militar, a bordo da qual faleceu em combate aéreo contra um piloto austríaco em 19 de junho de 1918.


Enzo continuou a pilotar carros da Alfa Romeo nas competições, sem o cavalinho, até que, em 1929, a empresa disse-lhe que organizasse uma equipe oficial de competição; a partir daí surgiu a Scuderia Ferrari, a qual passou a empregar como símbolo o Cavallino Rampante.


“O cavalinho – escreveria Enzo Ferrari em suas memórias – era e continua sendo negro. Eu acrescentei o fundo amarelo canário, que é a cor de Módena."


A empresa Alfa Romeo, em 1937, se retirou das corridas; logo em seguida, estourou a Segunda Guerra Mundial, que trouxe dificuldades para continuação das competições automobilísticas, mas em 1947, Enzo Ferrari passou a construir, ele mesmo, os carros da Scuderia: o primeiro, o 125 Sport, um pequeno bólido com motor V12 de 1.500 cilindradas, saiu naquele ano dos portões de Maranello e foi imediatamente vitorioso no Grande Prêmio de Caracalla, em Roma.


Enzo Ferrari desenvolveu a convicção de que as corridas poderiam proporcionar um estímulo contínuo à evolução técnica, bem como teve a ideia extraordinária de que um carro também podia ser entendido como uma obra de arte.


Daí em diante, uma série interminável de vitórias ao longo dos mais de 90 anos de atividade da Scuderia: mais de 5000 vitórias com pilotos oficiais e privados nas categorias Sport, Sport Prototipo, Endurance e Gran Turismo, conquistando 14 títulos mundiais no Campeonato Mundial de Marcas; na Fórmula 2, conquistou a Copa da Tasmânia em 1969 e, na Fórmula 1, única equipe sempre presente na largada desde 1950, conquistou 16 Campeonatos Mundiais de Construtores aos quais se somam os 15 Títulos Mundiais na classificação reservada aos pilotos.


O Museo Ferrari Maranello conta a história da Ferrari, mergulhando na extraordinária história do Cavallino Rampante (Cavalinho Empinado) e levando o visitante numa viagem pelos mais famosos e vitoriosos carros de Fórmula 1, os lendários modelos das categorias Sport e Gran Turismo (GT), sem esquecer os carros de estrada que se tornaram referência no mundo automotivo.




O Cavallino Rampante (Cavalinho Empinado), símbolo empregado nos aviões de combate do ás da aviação militar italiana Francesco Baracca, herói da Primeira Guerra Mundial, morto em combate em 1918, adotado em 1929 por Enzo Ferrari para representar a Scuderia Ferrari. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Ferrari 250 LM, ano 1963. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




F40, ano 1987, velocidade máxima 324 km/h. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




F50, ano 1995, velocidade máxima 325 km/h. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Ferrari 150 LM, (protótipo), ano 2014. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Ferrari FXXKevo, ano 2017. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Ferrari F12 Tour de France, ano 2017, velocidade máxima 340 km/h, criada em homenagem à famosa competição francesa 24 Horas de Le Mans. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Ferrari 812 GTS, ano 2020, velocidade máxima 340 km/h. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Ferrari KC23, ano 2023, velocidade máxima > 300 km/h. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


Em seguida, nos dirigimos à sala onde se encontram os carros de corrida da Ferrari que foram campeões mundiais da Fórmula 1, bem como as fotografias dos pilotos que os conduziram.




Espaço de exposição de carros de corrida da Ferrari, campeões da Fórmula 1. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




F2001 e F1-2000, carros utilizados pelo piloto alemão Michael Schumacher, nas temporadas 2001 e 2000, respectivamente, nas quais foi campeão mundial da F1. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




F1-2000, ano 2000, o carro do primeiro título mundial de Michael Schumacher com a Ferrari. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




F2001, ano 2001, o carro do segundo título mundial de Schumacher com a Ferrari, com quatro corridas de antecipação, alcançando nove vitorias e onze pole position na temporada, . Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




F2004, ano 2004, o carro do último título mundial de Michael Schumacher, o quinto com a Ferrari e o sétimo pessoal (13 vitórias de Schumacher na temporada e 2 de Barrichello). Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


Alguns pilotos campeões da F1 pela Ferrari.




Juan Manuel Fangio, piloto argentino, uma lenda do esporte, campeão pela Ferrari na F1 em 1956 (foi campeão mundial da F1 cinco vezes). Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Niki Lauda, piloto austríaco, campeão pela Ferrari na F1 em 1975 e 1977 (em 1976, sofreu um grave acidente no circuito de Nürburgring, na Alemanha, tendo ficado com sequelas estéticas em razão das queimaduras sofridas). Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Michael Schumacher, piloto alemão, outra lenda do esporte, campeão pela Ferrari na F1 em 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004 (sete vezes campeão da categoria, as outras duas pela equipe Benetton, em 1994 e 1995, mas em 2013 sofreu um acidente de esqui nos Alpes franceses, não tendo, até hoje, se recuperado totalmente). Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Kimi Räikkönen, piloto finlandês, campeão mundial de F1 pela Ferrari em 2007; atualmente corre na categoria NASCAR, dos Estados Unidos da América. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


Carros da Ferrari que participaram de outras competições automobilísticas.




Ferrari 340 MM, ano 1953, velocidade máxima superior a 142 km/h; o piloto Gigi Villoresi foi vencedor do Giro di Sicilia (Volta da Sicília), em 1953, pilotando esse modelo. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Ferrari 340 MM, ano 1953, visto lateralmente. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Ferrari 268 SP, ano 1962, debutou na prova das 24 Horas de Le Mans com Lorenzo Bandini. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Ferrari 430 GT3, ano 2009, velocidade máxima 330 km/h; esse modelo foi empregado em várias competições do FIA GT, no SPA Francorchamps, na Bélgica, e no Zolder, nos Países Baixos (Holanda), em 2010 e 2011, com os pilotos Franch Thiers e Hans Thiers. Museo Ferrari Maranello, Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Fachada do Museo Ferrari Maranello. Via Alfredo Dino Ferrari, 43, Maranello, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


Seguimos para Módena, terra do famoso aceto balsamico.


2 - Módena


A colônia romana que tornou-se o núcleo de Módena chamava-se Mutina e foi fundada em 183 a.C. no local de assentamentos pré-históricos anteriores. Logo a cidade tornou-se grande e rica: em 43 a.C. aqui foi travada a famosa batalha de Mutina, na qual as tropas do então cônsul romano Marco Antônio (que foi amante de Cleópatra) se confrontou com as forças lideradas pelo governador da Gália Cisalpina, Décimo Bruto, e pelo jovem Otaviano, futuro cônsul da República Romana e, posteriormente, fundador do Império Romano e seu primeiro imperador, com o nome de Augusto.


Os últimos séculos antes da queda do Império Romano foram um período de importante declínio para Módena, não obstante tenha sido precisamente nesse período que São Geminiano (falecido em 31 de janeiro de 397) foi seu bispo tornando-se, posteriormente, padroeiro da cidade.


O renascimento se deu a partir do ano 1000, sendo, que, em 9 de junho de 1099, foram iniciadas as obras de construção da nova Catedral românica; tornou-se município livre por volta de 1126 e, em 1175, foi implantado um dos estudos universitários mais antigos do mundo ocidental.


Por conta das lutas intestinas de facções locais, tomou-se a decisão de colocar Módena sob o controle do marquês de Ferrara Obizzo d'Este (1289): assim começou a relação secular entre a cidade e a família Este.


O papa Júlio II conquistou Módena em 1510, colocando Francesco Guicciaridini como governador até que, depois de alguns anos, a cidade voltou para o controle da família Este.


O Renascimento foi um período muito próspero para Módena do ponto de vista artístico e cultural, do qual o centro histórico ainda hoje é testemunho.


Módena tornou-se verdadeiramente a "cidade d'Este" somente em 1598, quando o duque César I mudou a capital do seu ducado de Ferrara para Módena.


O Ducado de Módena passou a ocupar uma posição estratégica para o comércio, se estendendo, ao longo do tempo, até Reggio Emilia e ao Mar Tirreno, numa posição estratégica para o comércio; assim começou a longa história de Módena como sede de uma corte de nível europeu, que se prolongou até 1858: isto explica as grandes obras de renovação dos edifícios, as pessoas ilustres alojadas na cidade e o esplendor artístico dos seus palácios e igrejas.


Durante a ocupação da França revolucionária, no final do século XVIII e início do século XIX, Módena, em razão de seu papel como capital d'Este na geopolítica do Vale do Pó, foi sede do congresso da República Cispadana e, posteriormente, fundida à República Cisalpina; Napoleão Bonaparte esteve na cidade vários vezes, primeiro como cônsul e depois como imperador.


Durante os anos da restauração monárquica, após a expulsão dos franceses, foram notáveis ​​pelo governo paternalista e conservador dos duques Francisco IV e V da Áustria-Este, época de renovação urbana e também de revoltas populares do Risorgimento.


Depostos os duques definitivamente em 1859, após a ditadura de Luigi Carlo Farini e os plebiscitos que confirmaram a anexação ao Reino da Sardenha-Piemonte, da Casa Saboia, Módena foi incorporada definitivamente ao novo Reino da Itália.


Começamos nossa visita à cidade pela Piazza Grande, onde se encontram importantes prédios públicos e religiosos: Palazzo Comunale, Palazzo Arcivescovile, Duomo e a Torre Ghirlandina.


O Palazzo Comunale di Modena é constituído por um conjunto do século XVII que uniu edifícios erguidos com diferentes funções na Idade Média; o elemento unificador da fachada principal é o longo pórtico com colunas de mármore, construído respeitando o módulo original adotado por Raffaele Rinaldi, conhecido como Menia, no projeto seiscentista, e foi finalizado em 1825 com o acréscimo de três pequenos arcos aos cinco já existentes no lado direito.


A Torre dell'Orologio (Torre do Relógio) fica no local onde provavelmente existiu a antiga torre que serviu de Arengario del Popolo (na Idade Média, local onde os cidadãos que se rebelavam contra os senhores feudais se reuniam para deliberar) e assumiu o aspecto atual entre o final do século XV e início do XVI; a cúpula octogonal, no topo da torre, foi erguida em 1508, segundo projeto de Bartolomeo Bonascia, e, em 1520, foi construída a balaustrada que coroa a massa quadrangular; os relevos com os quatro ventos e o friso acima do mostrador do relógio foram criados em meados do século XVI por Ambrogio Tagliapietre; um novo relógio, obra de Ludovico Riva, foi instalado em 1730; a balaustrada de mármore que envolve a varanda da Imaculada Conceição foi construída, em 1761, por Domenico Puttini; a estátua de Nossa Senhora foi colocada na varada, em 1805, em substituição a outra estátua de Nossa Senhora com o Menino e São João, uma obra em terracota de Antonio Begarelli, hoje preservada no Museu de Arte Cívica de Módena.




Palazzo Comunale di Modena (Prefeitura de Módena), conjunto de prédios medievais unificado pelo pórtico, projetado no século XVII, uma loggia com colunas de mármore; em destaque, a Torre dell'Orologio, com sua estrutura básica concluída por volta do início do século XVI, a cúpula octogonal de 1508, o relógio de 1730; a imagem da Imaculada Conceição foi instalada na varanda, sob o relógio, em 1805. Piazza Grande, 16, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


O Palazzo Arcivescovile di Modena está localizado no centro histórico de Modena, próximo ao Duomo.


O Palácio do Arcebispo foi provavelmente construído por volta do final do século XIV, ao mesmo tempo que a construção da primeira catedral pelo bispo Teodoro


As inovações morfológicas da fachada do palácio voltada para a Piazza Grande, realizadas em meados do século XV, são atribuídas ao bispo Nicolò Sandonnini; por conta disso, o brasão/busto, feito em 1482, existente no canto do prédio seria do referido religioso (há controvérsia, alguns dizem que se trata de referência ao bispo Gian Andrea Boccaccio). Na década de 1760, as reformas promovidas pelo Monsenhor Giuseppe Maria Fogliani deram o aspecto atual do edifício como um todo.




Fachada do Palazzo Arcivescovile di Modena a partir da Piazza Grande, com aspecto final provavelmente do século XV, de planta retangular, com quatro pisos acima do solo mais o sótão; apresenta no térreo janelas de perfil arquivoltado com arco rebaixado. Acima, em linha com as montras, existe uma fiada de janelas quadrangulares, enquanto os dois pisos superiores são pontuados por cinco janelas retangulares com portadas duplas de madeira; no canto direito do prédio, vê-se uma estrutura de mármore, de 1482, contendo o brasão/busto do bispo Sandonnini (ou bispo Boccaccio). Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


O Sítio Unesco de Módena, constituído pela Piazza Grande, Cattedrale di Modena e a Torre Civica (Ghirlandina), foi declarado Patrimônio da Humanidade em 1997.


Assim, na mesma Piazza Grande, encontra-se o mais importante edifício religioso da cidade, a Cattedrale Basilica di Santa Maria Assunta (Duomo di Modena); fundada em 1099 e consagrada em 1106; projeto original do arquiteto Lanfranco; o transepto e o presbitério foram modificados pela oficina da família Campionesi, na segunda metade do século XII; a fachada, com frisos de Wiligelmo, realizados por volta de 1106, é um dos mais importantes exemplos da arquitetura românica europeia.


O campanário do templo é conhecido como Torre Ghirlandina (batizada assim pelo povo de Módena, em razão das balaustradas de mármore que coroam a torre, “graciosas como guirlandas”), chamada também de Torre di San Geminiano; iniciada provavelmente na primeira metade do século XII e terminada em 1319 pela oficina da família Campionesi (Enrico da Campione), tem altura aproximada de 89 metros; os zeladores da torre, no passado, eram os responsáveis, com emprego dos sinos, por sinalizar a abertura dos portões da cidade e pela preservação do arquivo municipal, localizado no seu interior. Na base da torre, há um memorial dedicado aos tombados da Resistência (organização de combatentes irregulares (partigiani) que lutaram contra os nazistas durante a Segunda Grande Guerra).




Duomo di Modena, iniciado no século XI com projeto de Lanfranco; a fachada é um dos mais importantes exemplos da arquitetura românica, particularmente os painéis em baixo-relevo realizados por Wiligelmo, por volta de 1106; ao fundo, à esquerda, vê-se a Torre Ghirlandina. Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


A estrutura do Portal Principal (Portale Maggiore) da catedral é muito sóbrio, mas ao mesmo tempo caracterizado por uma extraordinária vitalidade plástica. Os elementos decorativos nos batentes do portal são de autoria do escultor Wiligelmo, provavelmente realizados na primeira década do século XII.




Portale Maggiore (Portal Principal), que está assentado em dois pilares lisos nos quais as ombreiras são inseridas rentes à parede da fachada; sustentam a arquitrave, que por sua vez é encimada por uma arquivolta; junto às duas ombreiras erguem-se pequenas colunas retorcidas coroadas por meios capitéis figurados à altura da arquitrave. O efeito de concha criado pelas pequenas colunas é continuado ao longo de toda a curva da arquivolta por um toro trabalhado com motivo de dupla pelta; aderindo a ele e às colunas retorcidas corre um friso de densas palmetas; destacando-se à frente do portal, vê-se um pórtico sustentado por dois leões estilóforos (que seguram as colunas com capitéis coríntios) provavelmente de tempos antigos (possivelmente cópias de esculturas romanas). Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


Na fachada do Duomo di Modena, veem-se os painéis em baixo-relevo, conhecidos como Rilievi della Genesi (Relevos do Gênesis), realizados pelo escultor italiano Wiligelmo por volta de 1106, representando a criação e a expulsão do paraíso de Adão e Eva, o assassinato de Abel por Caim e o dilúvio e a Arca de Noé.




Baixo-relevo representando o Pai Eterno em mandorla, a Criação de Adão, a Criação de Eva; e o pecado original, sobre o portal esquerdo: 1) a figura frontal do meio busto do Criador encerrado por uma mandorla sustentada por dois anjos colocados de perfil e simétricos. A cabeça está rodeada pelo nimbo cruzado e o Criador tem aberto nas mãos um livro no qual estão gravados os versos latinos “Lux ego sum mundi, via verax, vita perennis” (“Eu sou a luz do mundo, o verdadeiro caminho, a luz perene”), extraído do Evangelho de João; 2) o Criador, figura completa de perfil e três quartos do rosto, cria Adão, que com o corpo meio dobrado, os braços meio cruzados, a expressão quase incrédula, parece ser chamado à vida pelo nada, pela matéria surda; 3) a criação de Eva; a figura do Criador abre novamente a cena com a cabeça e o corpo em três quartos, o braço direito em ângulo reto e com a mão esquerda segura a de Eva, retratada a meio corpo, emergindo da carne adormecida de Adão, cujo corpo está obliquamente em primeiro plano; e 4) os dois progenitores em posição vertical consumam o pecado original ao provar o fruto proibido; a cena condensa diferentes momentos da história bíblica, nomeadamente a tentação da serpente a Eva, o momento em que Eva convence Adão a deixar-se seduzir, a súbita vergonha que advém de ter provado o fruto proibido. Rilievi della Genesi, Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Baixo-relevo representando o Criador repreendendo Adão e Eva, a Expulsão dos Progenitores e Adão e Eva lavrando a terra, à esquerda do portal central da fachada: 1) a cena apresenta as duas figuras de Adão e Eva lado a lado, retratados em posturas quase idênticas, com a mão direita ao longo do corpo segurando a folha de figueira, a mão esquerda apoiada na bochecha em sinal de desespero, enquanto o Criador, colocado à frente, aponta o dedo indicador para eles e segura um pergaminho com a inscrição “Dum deambularet Dominus in Paradisum” (“Enquanto Deus caminhava no Paraíso”); 2) um anjo com asas estendidas e uma espada desembainhada expulsa os progenitores do Paraíso. As figuras de Adão e Eva voltam a ser esculpidas como um casal quase idêntico, com poucos atributos a diferenciar: os mesmos gestos com as mãos, expressam bem o seu desespero pelo exílio do Paraíso terrestre; e 3) Eva e Adão são retratados como imagens espelhadas dispostas a cavar a terra: fortemente vestidos e calçados, enfrentam os rigores das estações, longe da inocente nudez do Éden. Rilievi della Genesi, Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.ovíncia de mesmo nome, Itália.




Baixo-relevo representando o sacrifício de Caim e Abel, Caim matando Abel e o Pai Eterno repreendendo Caim, à direita do portal central da fachada: 1) a primeira cena, bastante dilatada, mostra o sacrifício de Abel e Caim, descendentes de Adão e Eva. A iconografia particular presente em Módena caracteriza-se por uma inversão dos atributos habituais dos dois irmãos: é Caim quem tem as mãos enroladas num pano de onde emerge o molho de joio, enquanto Abel segura um cordeiro com as próprias mãos. As figuras dos dois irmãos ocupam cada uma um bloco de pedra e voltam-se para a cena central onde a imagem quase miniaturista do Criador é esculpida em mandorla sustentada por um Télamon que tem uma estreita relação com os dois esculpidos na base do friso do portal central; 2) a segunda, tem-se o assassinato de Abel por Caim; o monte de joio transformou-se num bastão com que Caim bate na cabeça de Abel, cujo corpo se torce numa queda rígida, com os joelhos dobrados para a direita, em direção ao chão; e 3) a última abre novamente com a figura de Caim em pé que encontra o Pai Eterno após o fratricídio: excepcionalmente sua figura supera em proporções a do Criador que o enfrenta, segurando um pergaminho com as palavras gravadas “Ubi est Abel frater tuus?” (“Onde está Abel, seu irmão?”). Rilievi della Genesi, Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Baixo-relevo representando Lameque matando Caim, a Arca de Noé e a saída da arca de Noé e de seus filhos, sobre o portal direito: 1) a história chega ao fim com o episódio do assassinato de Caim pelo cego Lameque; há uma mudança radical na aparência de Caim, aqui retratado com cabelos longos, barba e bigode; atingido pela flecha do caçador, ele se agarra a uma árvore exuberante com folhas encaracoladas delicadamente esculpidas; 2) segue a representação da arca, na qual se veem as cabeças de Noé e da sua mulher; a água sobre a qual flutua é representada pelo motivo da dupla pelta, enquanto a arca é representada como um edifício religioso, com uma dupla ordem de arcos e colunas equipadas com os seus minúsculos capitéis, encimados por um telhado. 3) a última cena representa Noé e seus filhos finalmente emergindo da arca. Rilievi della Genesi, Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




O Altar das Estatuetas, obra de Michele da Firenze, 1440-41: grandioso políptico em terracota, localizado na nave lateral esquerda, apresenta dois registos principais com figuras em nichos enquadrados por colunas torcidas, coroada com frontões triangulares, com pequenas figuras no topo, alternando com pináculos; em destaque, no campo inferior, veem-se, no centro, a padroeira do templo, Nossa Senhora com o menino Jesus, ladeada, interiormente, à esquerda, por São Geminiano, padroeiro de Módena, e, à direita, por São Pedro; exteriormente, à esquerda, por São João Batista e, à direita, São Nicolau de Bari. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Presépio em terracota policromada, conhecido como Madonna della Pappa, de autoria de Guido Mazzoni, por volta de1480-1485; têm-se a figura da Virgem sentada e elegantemente alongada, segurando o Menino nos braços numa atitude de grande ternura; à sua direita está uma figura feminina, conhecida como “Irmã Papina”, que sopra a sopa na colher antes de entregá-la ao Menino que segura uma rosquinha na mão, gesto que contribui para fortalecer a intimidade doméstica da cena; os dois personagens ajoelhados, que se acredita serem São José ou São Joaquim e Santa Ana, estão numa atitude de adoração. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Vista da nave central da catedral tendo ao fundo o presbitério sobre a pontile-tramezzo. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Monumental Crucifixo de madeira pendurado na abóbada, da segunda metade do século XIII. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




O altar-mor, também do século XIII, é sustentado por seis pares de colunas e uma espiral maior, representando os Apóstolos em torno de Cristo; a pintura da abside central (a coroação da Virgem Maria, Santos e os quatro Evangelistas), apesar das aparências, remonta ao século XIX e retoma temas clássicos dos mosaicos romanos (inspiração bizantina, obra de Fermo Forti e Giuseppe Migliorini). Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


À frente da nave central encontra-se o pontile-tramezzo (pontão-divisória), uma estrutura elevada do recinto do presbitério, que serve de local para leituras litúrgicas; elevado sobre colunas, se presta também como pórtico de acesso à cripta.




Fachada do pontile-tramezzo (pontão-divisória), em mármore pintado, com baixos-relevos representando cenas da Paixão de Cristo, provavelmente realizada entre 1165 e 1225: da esquerda para direita: 1) Jesus lava os pés de seus discípulos; 2) celebração da Última Ceia; e 3) o beijo de Judas Iscariotes em Jesus. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Os leões das colunas do pontile-tramezzo (pontão-divisória) representados de forma altamente dramatizada, parecendo impor o seu domínio avassalador sobre os homens, os animais e as coisas; em destaque, o leão estilóforo subjuga o cavaleiro com armadura e espada. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


A cripta é uma verdadeira igreja subterrânea de nove naves, à qual se acede a partir da nave central da catedral, descendo alguns degraus; exceto a parte com o túmulo de São Geminiano, modificado em 1700, o lugar manteve-se inalterado desde a sua construção entre 1099 e 1106.




A cripta da Catedral. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




O altar da cripta da catedral. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


São Geminiano nasceu em Cognento (a 5 km de Modena) por volta de 313, ano em que o imperador Constantino pôs fim à perseguição aos cristãos. Seus pais o enviaram para estudar na cidade, na escola da catedral, onde conheceu o bispo Antônio. Tendo sentido o chamado a seguir mais de perto a Cristo, tornou-se diácono e dedicou-se à caridade para com os pobres e sofredores, nos quais via o Senhor. Após a morte de Antônio, o povo de Módena o convenceu a aceitar ser consagrado bispo.


Enquanto o paganismo e a heresia ariana dominavam, negando Jesus como Filho de Deus, Dom Geminiano evangelizava as terras de Módena, tornando-se o pai na fé da diocese. Em 390 esteve ao lado de Santo Ambrósio no Concílio de Milão para defender a virgindade de Maria negada pelo herege Joviniano.


Sua vida santa e sua oração ardente permitiram-lhe ser visto como um grande intercessor diante de Deus. Faleceu em 31 de janeiro de 397 e foi sepultado na necrópole, fora dos muros da cidade. Por volta do ano 400, foi construída sobre o túmulo do santo uma igreja que, aliás, foi também a primeira catedral; possivelmente, em meados do século VIII, foi construída uma nova catedral que, no início do século XII, foi substituída pela atual, a terceira, que se chama "casa de San Geminiano" e que sempre foi o coração de Modena.




Imagem de São Geminiano; feita de madeira, do início do século XIV, nave esquerda. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


A urna que guarda os restos mortais do santo, excluindo os movimentos de algumas dezenas de metros devido às diferentes dimensões dos edifícios que se sucediam, nunca foi significativamente retirada do local original.




Urna que guarda os restos mortais de São Geminiano, padroeiro de Módena, na cripta da catedral. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.



Políptico com a Coroação da Virgem entre os Santos Nicolau e Cristóvão, Geminiano e Antônio Abade, a Crucificação e a Anunciação, 1385, madeira dourada e pintada, de autoria de Serafino de'Serafini, sobre placa de mármore do século IX, tendo uma cruz no centro e animais voltadas para ela, proveniente da catedral medieval. Duomo di Modena, Piazza Grande, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


Por fim, visitamos o Mercato Albinelli, em estilo Art Nouveau, que foi inaugurado em 28 de outubro de 1931, um elegante abrigo para os então vendedores ambulantes da Piazza Grande.


O projeto, inovador para a época, prestou especial atenção à higiene, disponibilizando bancadas de mármore para as peixarias, garantindo o abastecimento de água corrente a cada posto de vendas e projetando o chão para facilitar a limpeza.


Com as volutas de ferro que ligam as colunas de sustentação e, no centro, a bela fonte da “menina com cesta de frutas”, obra de Giuseppe Graziosi, o Mercado Albinelli é o coração pulsante da cidade.




A bela estrutura de ferro trabalhado que cerca o Mercato Albinelli, estilo Art Nouveau, Via Luigi Albinelli, 13, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Fonte com a escultura em bronze “Ragazza con cesto di frutta” (menina com cesto de frutas), obra de Giuseppe Graziosi, centro Mercato Albinelli, Via Luigi Albinelli, 13, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Loja da Monari Federzoni, uma das fabricantes de um dos produtos mais famosos da província, o aceto balsamico tradizionale di Modena (vinagre balsâmico de Módena). Mercato Albinelli, Via Luigi Albinelli, 13, Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


Por fim, resolvemos provar a culinária de Módena e escolhemos um restaurante bem acolhedor: Cappuccino da Angiolina.




Cappuccino da Angiolina, restaurante de comida típica da região da região de Emilia-Romagna. Vicolo Forni, 5,  Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Cappuccino da Angiolina, restaurante de comida típica da região da região de Emilia-Romagna. Vicolo Forni, 5,  Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.




Pratos: acima, um Tortelloni Ricotta e Spinaci al Burro e, embaixo, um Tortellini in Crema di Parmigiano. Cappuccino da Angiolina, Vicolo Forni, 5,  Módena, província de mesmo nome, região de Emilia-Romagna, Itália.


Seguimos, no próximo post, para Mântua, na região da Lombardia.



Fontes:






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