Mântua - Parte I - Região da Lombardia - Norte da Itália - 2023
- Roberto Caldas
- 11 de ago. de 2024
- 15 min de leitura

Castello di San Giorgio, erguido no final do século XIV, por ordem de Francesco I Gonzaga, Senhor de Mântua, em terracota; detalhe para o fosso que contorna toda a fortaleza. Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Mântua - I
A origem do nome da cidade é atribuída à divindade infernal etrusca Mantu, em referência aos antigos assentamentos etruscos na área de Mântua, como evidenciado pelo próximo sítio arqueológico de Forcello (em Bagnolo San Vito); outros dizem que deve seu nome à sua fundadora mítica, a profetisa grega Manto; a cidade etrusca de Mântua ocupava uma área insular que emergia do rio Mincio, correspondendo a pouco mais do que a área atual da Piazza Sordello.
Em razão de sua posição elevada, este espaço também foi habitado no período romano, possivelmente a partir do século I a.C.; recentes descobertas de paredes perimetrais e mosaicos na Piazza Sordello, juntamente com numerosos outros achados preservados no Museu Arqueológico Nacional, testemunham o local de uma domus romana (casa de patrício, elite romana),
Por volta do ano 1000, Mântua passou a fazer parte das posses da família Canossa e, sob o governo de Bonifacio III di Canossa, tornou-se a capital dos territórios dessa família; este foi sucedido por sua filha, a famosa Matilde di Canossa, poderosa feudatária e aliada dos papas (partido guelfo) na luta contra Henrique IV, imperador do Sacro Império Romano-Germânico de 1084 a 1105.
Com a morte de Matilde, Mântua tornou-se município livre, ocorrendo sua primeira grande expansão na administração do prefeito e engenheiro Alberto Pitentino, que, por volta de 1190, regularizou o curso do rio Mincio, formando os lagos que circundam a cidade. Também são desse período importantes construções feitas na cidade, como suas numerosas torres, dentre as quais se destaca a Torre Acerbi, conhecida também como "della Gabbia", o Palazzo del Podestà, reformado no século XV por Luca Fancelli, mas que mantém a fachada do século XIII, e o Palazzo della Ragione.
Os Gonzagas tornaram-se Senhores de Mântua em 1328, após expulsarem a família Bonacolsi; foram os responsáveis por uma nova expansão urbana e pelo maravilhoso florescimento artístico de Mântua; sob o domínio do marquês Ludovico II Gonzaga, governante de 1444 a 1478, iniciou-se a renovatio urbis (renovação urbana), no auge do Renascimento Italiano; muitos artistas trabalharam para modernizar e embelezar a cidade, incluindo Andrea Mantegna, que pintou a Camera Picta ou “Camera degli Sposi”, no interior do Castello di San Giorgio, e Leon Battista Alberti, que projetou a reforma da Basilica di Sant’Andrea e a construção do Tempio di San Sebastiano na zona de expansão renascentista, voltado para a ilha de Te, onde se ergueria, em seguida, o Palazzo Te, uma vila de delícias, projetado por Giulio Romano; a cidade, em 1530, tornou-se a capital do Ducado de Mântua.
Com a queda da família Gonzaga, por volta de 1707, Mântua ficou sob domínio austríaco; em 1775, o Palazzo Accademico (Palácio Acadêmico) foi ampliado e tornou-se sede da Reale Accademia di Scienze e Belle Lettere (Real Academia de Ciências e Belas Letras), fundada por Maria Teresa da Áustria, imperatriz e corregente do Sacro Império Romano-Germânico e arquiduquesa da Áustria, hoje Accademia Nazionale Virgiliana (Academia Nacional Virgiliana); no mesmo palácio já funcionava o Teatro Scientifico (Teatro Científico), uma pequena joia barroca projetada pelo arquiteto Antonio Galli Bibiena: poucos dias depois da inauguração do teatro, o famoso músico e compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, então com quatorze anos, realizou, em 16 de janeiro de 1770, um concerto.
No final do século XVIII e início do século XIX, Mântua foi invadida por tropas napoleônicas e anexada à República Cisalpina; durante a dominação francesa, houve uma intervenção urbanística, transformando a área da atual Piazza Virgiliana em jardim público, com a estátua do poeta Virgílio; a atual, data de 1926 ou 1927.
Com a expulsão das forças francesas, em 1814, a Áustria voltou a dominar Mântua, mas, com o Risorgimento Italiano, alguns locais se rebelaram contra os austríacos; entre 1851 e 1855, patriotas mantuanos foram executados em Belfiore.
Após a vitória das tropas piemontesas e lombardas sobre as austríacas, finalmente Mântua passou a ser parte do Reino da Itália, em 1866.
Mapa de Mântua de 1630, obra de Matthäus Merian, na qual se vê, logo após a Ponte de São Jorge, o Castello di San Giorgio, e continuando pela via da direita, contornando, dá-se na atual Piazza Sordello, onde se encontra, à esquerda, o Palazzo Ducale, à direita, a Cattedrale di San Pietro Apostolo, com sua fachada ainda em estilo românico http://www.lombardiabeniculturali.it/stampe/schede/M0230-00264/?view=istituti&hid=861&offset=53&sort=sort_date_inthttp://www.museodarcomantova.it/sito/le-stampe/mantova-m.merian.html, Dominio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=28192389
Nossa primeira passagem foi na "Casa di Rigoletto", o bufão protagonista da ópera "Rigoletto" de Giuseppi Verdi, uma das obras mais famosas do compositor italiano; o edifício residencial data da Idade Média (século XII), porém a loggia e o pórtico foram acrescentados no século XV.
Em 1851, o prédio foi escolhido para ser retratado na cenografia da estreia de "Rigoletto" como a casa do imaginário bobo da corte Gonzaga, no século XVI. Uma estátua de bronze representando o personagem de Verdi foi colocada no pequeno jardim em 1978, obra do escultor Aldo Falchi.
A obra musical contribuiu para cidade ser mais conhecida mundialmente.

O edifício que serviu de inspiração para a "Casa di Rigoletto", na cenografia da ópera "Rigoletto", de Giuseppi Verdi. Piazza Sordello, 23, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Estátua de bronze de Rigoletto, o bobo da corte do Ducado de Mântua no século XVI; obra do escultor Aldo Falchi, 1978. "Casa di Rigoletto", Piazza Sordello, 23, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Na mesma praça deparamo-nos com a Cattedrale di San Pietro Apostolo ou Cattedrale di Mantova (Catedral de Mântua), dedicada ao Apóstolo Paulo.
O edifício religioso foi erguido no século XI em estilo românico e já na dimensão atual; sofreu alterações no período gótico, a partir do século XIV, mas mantendo o volume original; no século XVI, o cardeal Ercole Gonzaga, bispo de Mântua, encarregou Giulio Romano para projetar, após um incêndio ocorrido em abril de 1545, a reconstrução do interior da catedral, expressando-se com os cânones do classicismo greco-romano e recriando o traçado espacial das antigas basílicas romanas com cinco naves.
No entanto, Giulio Romano faleceu prematuramente em 1546, e a obra foi confiada ao seu discípulo mantuano, o arquiteto Giovanni Battista Bertani, com quem foi concluído o projeto realizado por Giulio até o transepto; as obras foram retomadas no final do século XVI, durante o episcopado do Frei Francesco Gonzaga, sob a direção do arquiteto Antonio Maria Viani, natural de Cremona.
Por iniciativa do bispo Antonio Guidi de Bagno, a fachada atual, totalmente em mármore, foi construída entre 1756 e 1761 pelo romano Nicolò Baschiera, engenheiro do exército austríaco, no estilo barroco tardio.
Ao longo do eixo central da igreja desenvolve-se, por meio das imagens, um único tema: aquele que funda a fé cristã; a completa redenção de Jesus Cristo, aqui expressa por intermédio dos personagens bíblicos e pagãos que anunciam a paixão redentora, então historicamente concretizada (os "putti" do friso e os anjos pintados na abside guardam os símbolos da paixão) e exaltada em celeste glória (a Trindade na abside). O tema está portanto ligado ao altar, sobre o qual, com a Missa, se celebra a redenção na contínua representação sacramental, para que as gerações que se sucedem no tempo possam vir a partilhar a glória do Redentor evocada na abside.

Fachada da Cattedrale di San Pietro Apostolo (Duomo di Mantova), reestruturada em meados do século XVIII, estilo barroco tardio. Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Belíssima nave central do Duomo di Mantova, em estilo renascentista; em destaque, as colunas estriadas com capiteis coríntios, influência dos cânones arquiteturais greco-romanos; a temática em todo o seu percurso, até a abside, é a redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo em benefício da humanidade. Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

As belas colunas caneladas da nave central do Duomo di Mantova. Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Abside principal do Duomo di Mantova, na qual se vê o altar-mor, e, no alto do cruzeiro do transepto, ergue-se a cúpula, com tambor octogonal e sem lanterna, pintada internamente com "O Paraíso"; Deus Pai circundados por anjos. Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Altar-mor do Duomo di Mantova, em mármore policromado, encimado por um crucifixo em madeira; na bacia da abside, sobre o coro, encontra-se o afresco intitulado "A Trindade com a Virgem e São João entre os Anjos", de autoria de Antonio Maria Viani, por volta de 1593. Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Quadro representando Santa Margarida de Antioquia, óleo sobre tela, de autoria do pintor Domenico Brusasorci, século XVI, provavelmente de 1552. Duomo di Mantova, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Capela do Santíssimo Sacramento, localizada no final do braço esquerdo do transepto, erguida no século XVII; o altar do século XVIII tem relevos dourados e colunas de lápis-lazúli e, sobre ele, está um uma cópia do quadro intitulado "Vocação dos apóstolos Pedro e André", pintada em 1798 por Felice Campi (o original, pintado por Fermo Ghisoni, provavelmente em 1546, foi levado para Paris em 1797, quando da invasão napoleônica à península itálica, para ser exposto no Louvre, mas posteriormente foi perdido); a pintura retrata a vocação dos apóstolos Pedro e André: Jesus chama os dois pescadores de irmãos “e eles largaram as redes e o seguiram” (Mateus 4,18-20). Duomo di Mantova, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Também na Piazza Sordello encontra-se o Palazzo Vescovile di Mantova (Palácio Episcopal de Mântua), também conhecido como Palazzo Bianchi, que teve seu início de construção em meados do século XVIII, aproveitando edificações antigas do século XIV, sendo concluído em 1765 pelos marqueses Bianchi com uma espetacular escadaria e tetos abobadados decorados com estuque e afrescos, estes de autoria de Giuseppe Bazzani.
Em 1823 ou 1824, o edifício foi vendido pelo marquês Alessandro Bianchi à Diocese de Mântua e, hoje, funciona como residência do bispo e os escritórios da Cúria; em 1967, o bispo Antonio Poma mandou instalar, no subsolo do prédio, o arquivo histórico diocesano.

Palazzo Vescovile di Mantova ou Palazzo Bianchi, concluído em 1756; tendo no portal da entrada duas esculturas representando o herói Hércules vestido com a pele do Leão de Nemeia; a da esquerda porta também a enorme clava que o herói utilizou para desacordar a fera e matá-la estrangulada; no balcão sobre o portal, encontra-se o brasão do bispo Gianmarco Busca; o edifício atualmente abriga a Cúria de Mântua e a residência do bispo, além do arquivo histórico no subsolo do edifício. Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Ao lado do Palazzo Vescovile, observamos o Palazzo Bonacolsi ou Palazzo Castiglioni, inteiramente em terracota encimado por ameias gibelinas (partido gibelino, favorável ao imperador do Sacro Império Romano-Germânico), que foi construído no final do século XIII por Pinamonte dei Bonacolsi, da então família poderosa da cidade; em 1328, o palácio passou a fazer parte das propriedades de Luigi I Gonzaga, o novo Senhor de Mântua; o nome pelo qual ele é conhecido hoje se deve ao fato de o edifício ter sido adquirido pela família nobre lombarda Castiglioni, no inicio do século XIX.
Hoje, ainda propriedade da família Castiglioni, funcionam nele um hotel de luxo e o escritório da Orchestra da Camera di Mantova.

Palazzo Bonacolsi ou Palazzo Castiglioni, construído no final do século XIII, pertenceu às famílias mais poderosas da cidade, os Bonacolsi e Gonzaga, tendo sido adquirido no final do século XIX pela família Castiglioni; erguido em terracota, apresenta no alto ameias gibelinas (em forma de cauda de andorinha, de senhores favoráveis ao imperador germânico). Piazza Sordello, 12, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Na mesma praça, em frente ao Palazzo Vescovile, temos o complexo de edifícios que formam o Palazzo Ducale.
O Palazzo Ducale se estende entre a antiga Piazza di San Pietro (hoje Piazza Sordello) e as margens do Lago Inferiore (Lago Inferior) ou Lago di Sotto (Lago de Baixo). Inicialmente composto por edifícios desagregados, o palácio ganhou forma orgânica na primeira metade do século XVI, quando se tornou um conjunto arquitetônico único e grandioso, correspondente ao quarteirão mais antigo da cidade.
A família Gonzaga, que governou o Senhorio, depois o Marquesado e por último, o Ducado de Mântua, fixou residência nela de 1328 a 1707, quando o último duque Ferdinando Carlo Gonzaga-Nevers, acusado de crime de felonia (seu poder era vinculado ao Sacro Império Romano-Germânico, e ele o teria traído, fazendo alianças com a França de Luís XIV), foi forçado ao exílio. Em 2 de abril de 1707, a Casa da Áustria reivindicou o domínio direto sobre o Ducado de Mântua e o governo dos Habsburgos começou.
As edificações mais antigas, com vista para a Piazza Sordello, são o Palazzo del Capitano e a Magna Domus, erguidos pela família Bonacolsi, que dominou Mântua de 1273 a 1328.
Com a assunção dos Gonzagas ao poder, em 1328, novos prédios foram anexados ao núcleo original, tornando-se o que é conhecido como Corte Vecchia (Corte Velha).
Entre 1395 e 1406, segundo projeto de Bartolino Ploti da Novara, foi construído o Castello di San Giorgio e, a partir de meados do século XV, por ordem de Ludovico II Gonzaga, passou a ser residência da família do marquês.
Não muito afastado do Castello di San Giorgio, Giulio Romano construiu para Federico II Gonzaga (elevado, em 1530, a primeiro Duque de Mântua, pelo imperador Carlos V (Carlos I da Espanha), do Sacro Império Romano-Germânico) a chamada Corte Nuova (Corte Nova), cujo primeiro núcleo foi o Appartamento di Troia (Apartamento de Troia) (1536-1539).
Após a anexação de Mântua ao reino de Itália (1866), o complexo palaciano foi alvo de importantes campanhas de restauração entre os últimos anos do século XIX e as primeiras quatro décadas do XX.
Hoje funciona nele o Complesso Museale Mantova.
O Palazzo del Capitano, com vista para a Piazza Sordello, é o edifício mais antigo do complexo Palazzo Ducale, construído por Guido Bonacolsi no final do século XIII para início do século XIV.

Palazzo del Capitano, erguido entre o final do século XIII e o início do século XIV, em terracota com ameias gibelinas (em forma de cauda de andorinha, de senhores favoráveis ao imperador germânico). Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
O Castello di San Giorgio, outro prédio que faz parte do complexo palaciano, é um poderoso solar erguido no final do século XIV pelo Capitano del Popolo (Capitão do Povo) Francesco I Gonzaga e posteriormente transformado por Ludovico II Gonzaga em residência oficial do marquês. A fortaleza, rodeada nos quatro lados por um fosso, é um dos exemplos mais representativos da arquitetura militar tardo-medieval da região e um dos monumentos mais emblemáticos da cidade.

Castello di San Giorgio, erguido no final do século XIV, por ordem de Francesco I Gonzaga, Senhor de Mântua, em terracota; detalhe para o fosso que contorna toda a fortaleza. Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
O marquês Ludovico II Gonzaga mudou-se para o Castelo por volta de 1458 e logo chamou a Mântua arquitetos toscanos competentes, como Leon Battista Alberti e Luca Fancelli, e sobretudo o pintor paduano Andrea Mantegna, para iniciar uma transformação radical do edifício.
No interior do castelo, na torre nordeste, de 1465 a 1474, o artista do Vêneto criou a obra-prima do afresco do Renascimento, aquela que foi definida como "a sala mais bela do mundo", que servia como gabinete para o príncipe, que recebia nobres, soberanos e embaixadores para discutir com eles questões políticas delicadas, e, se necessário, também como quarto e por isso conhecida por todos como Camera degli Sposi (Sala Nupcial) ou Camera Picta (Sala Pintada).

Parede da Corte, afresco na parede norte da Camera degli Sposi, de autoria do grande pintor renascentista Andrea Mantegna, entre 1465 e 1474; toda a corte está representada de forma bastante informal, surpreendida no momento em que um mensageiro, à esquerda, entrega uma carta a Ludovico II Gonzaga, ladeado pela sua esposa Bárbara de Brandemburgo; pela carta, Ludovico fica sabendo que Francesco Sforza, senhor de Milão, para quem serviu como comandante do exército, está gravemente doente. Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

"Parede do Encontro", afresco na parede oeste da Camera degli Sposi, de autoria do grande pintor renascentista Andrea Mantegna, entre 1465 e 1474; a viagem de Ludovico II Gonzaga a Milão é representada precisamente por meio do episódio do encontro, ocorrido em Bozzolo, com o seu filho Francesco Gonzaga, recém-nomeado cardeal. Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Da Camera degli Sposi seguimos para Camera dei Soli, decorada, assim como a sala posterior, em 1549, por ocasião do casamento do duque Francesco III Gonzaga e Caterina d'Austria; o duque viverá aqui menos de 1 ano em razão de sua morte prematura: logo após a chegada da mulher, ele caiu nas águas geladas do lago durante uma caçada, adoecendo com pneumonia; depois de um período em que parecia ter se recuperado, o jovem sofreu uma recaída (possivelmente devido às festas carnavalescas) e faleceu.
O nome da sala se deve aos dois sóis que foram pintados em sua abóboda; espirais fitoformes os envolvem e decoram o friso da falsa arquitrave com motivos geométricos que simulam falso mármore colorido.
Nesta sala e na seguinte, conhecida como Camera di Mezzo, estão expostas algumas obras emprestadas ao museu pelo colecionador Romano Freddi.

Abóbada pintada da Camera dei Soli; observam-se no teto um dos sóis bem no alto e as espirais fitoformes (forma de planta) que o envolvem enquanto, no friso da falsa arquitrave, os motivos geométricos, simulando um falso mármore colorido. Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Lareira do século XV; acima se vê o detalhe da abóboda pintada com espirais fitoformes e o friso da falsa arquitrave com seus motivos geométricos. Camera dei Soli, Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Prato renascentista conhecido como piatto "da pompa" (prato de pompa, de homenagem), representando três leões mordendo um cavalo, provavelmente fabricado entre 1470 e 1490; manufatura de Faenza, cerâmica maiólica. Coleção Romano Freddi, Camera di Mezzo, Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
A sala que se segue é conhecida como Sala della Cappe em razão das válvulas de concha, chamadas "cappe" em italiano antigo, que, com figuras dançantes, decoram a abóboda da sala acima da cornija.

Abóbada pintada da Sala della Cappe, na qual se veem, logo acima da cornija, as válvulas de concha (cappe). Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Na sequência, em sala não identificada, ainda no interior do Castello di San Giorgio, com bela abóboda pintada, podemos apreciar uma admirável tapeçaria de lã e seda, inspirada nas ideias de Giulio Romano e confecionada entre 1539 e 1540 pelo tecelão flamengo (da região de Flandres, hoje Bélgica) Nicholas Karcher, contratado pelo duque Federico II Gonzaga, conhecida como "Vênus, um sátiro e putti que brincam".

"Vênus, um sátiro e putti que brincam", autoria do tecelão flamengo Nicholas Karcher, confecionada entre 1539 e 1540; tapeçaria de lã e seda de grande dimensão, 410 x 450 cm; num cenário natural exuberante e florescente, vê-se, à esquerda, Vênus sendo espionado por um sátiro, escondido atrás de uma pérgula, numa imagem voyeurística, enquanto, em toda a extensão do tapete podem ser observados vários putti brincando: um tentando tirar um espinho do pé; outros estão pescando; sacudindo uma árvore para fazer cair as maçãs; pegando um peixe; ou seja, uma cena rica e dinâmica. Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Bela abóboda da sala da tapeçaria, tendo ao centro o brasão da Família Gonzaga: dividido em dois campos maiores; o primeiro campo maior prateado, com cruz vermelha patente tendo, nos cantos, quatro águias negras de voo rebaixado, voltadas para a direita heráldica (nossa esquerda), representando o Marquesado de Mântua; o segundo campo maior, esquartelado com coração, tendo nos segundo e terceiro campos em goles (vermelho) leões brancos (Reino da Boêmia), e nos primeiro e quarto, faixas douradas e pretas (Gonzaga) e, no coração, um escudo também com faixas douradas e pretas. Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Descemos a escada antiga, conhecida como Scala dei Cavalli, que preserva nas paredes vestígios de afrescos, para acessar o pátio do castelo. Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Pátio do Castello di San Giorgio, lado norte, onde se pode observar o aspecto original, quando de sua construção no século XIV; sob o pórtico vê-se um lapidário. Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Lápide em mármore com três escudos. Pátio do Castello di San Giorgio, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Saímos do castelo e nos dirigimos à outra parte do complexo palaciano, a Corte Nuova, erguida, a partir da década de 1530, por determinação do duque Federico II Gonzaga, sendo o encarregado principal Giulio Romano.

Escada de acesso à Corte Nuova, conhecida como Scalone di Enea. Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Ao fim da escada, encontramos a Sala di Manto, que está entre as maiores e mais evocativas salas do Pallazzo Ducale; foi dedicada por Gugliemo, terceiro duque de Mântua, à celebração da mítica fundadora da cidade, a profetisa Manto, filha do adivinho Tirésias, fugindo de Tebas: a hipótese também foi aceita por Dante no XX Canto do Inferno; a sala serve de suntuosa entrada ao Appartamento Grande di Castello ou del Duca Guglielmo, construído a partir do início da década de 1570 pelo prefeito das fábricas Giovan Battista Bertani e pelo pintor da corte Lorenzo Costa, o Jovem; nas diversas salas, são celebradas as origens míticas da cidade e as origens históricas da dinastia, despertando sentimentos de admiração e espanto no visitante.

Sala di Manto, erguida em homenagem à profetisa Manto, mítica fundadora da cidade de Mântua. Corte Nuova, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.

Estátua representando a deusa Atena Partenos; cópia romana da original do final do século V a.C, derivada da famosa obra de Fídias. Sala di Manto, Corte Nuova, Complexo do Palazzo Ducale, Piazza Sordello, Mântua, província de mesmo nome, Região da Lombardia, Itália.
Seguimos no próximo post o passeio pelas demais instalações da Corte Nuova, no Palazzo Ducale di Mantova.
Fontes:
Wikipedia;
Guide: Fabuleuse Italie du Nord: Rome, Florence, Venise, pesquisa e redação de Louise Gaboury, direção de Claude Morneau, versão eletrônica, 2019, Guides de Voyage Ulysse, Québec, Canada.
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