Nuremberg e Regensburg (Baviera) - Alemanha - 2010
- Roberto Caldas
- 28 de ago. de 2022
- 17 min de leitura

Heilig-Geist-Spital (hospital com início da construção em 1332), visto a partir da antiga Königsbrücke (Ponte Real). Nuremberg, região administrativa da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
De Bamberg fomos para Nuremberg.
1 - Nuremberg
A primeira referência a Nuremberg, então conhecida como Norenberc, foi feita em 1050 pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico Henrique III, o Negro, da Dinastia da Francônia, também conhecida como Sálica. Pelo que se conhece até agora, a localidade teria sido uma criação político-militar do referido imperador como ponto de reabastecimento e pouso de suas tropas quando de suas campanhas militares contra o Duque da Boêmia.
A cidade antiga se estendeu ao sul, a partir do Castelo de Nuremberg (Schloss Nürnberger), que está assentado em uma espécie de falésia, colado na muralha norte da localidade.
Na primeira metade do século XI, foi estabelecido o Burgraviato de Nuremberg, governado pela casa nobre austríaca Raabs. A partir de 1091, o conde Frederico III, de Hohenzollern tornou-se, por aliança matrimonial, o burgrave (governador de uma cidade fortificada) de Nuremberg com o nome de Frederico I de Nuremberg. O castelo foi ampliado, de 1140 a 1180, durante o reinado do imperador Frederico I, o Barba-ruiva.
Em 1219, o futuro imperador Frederico II, conhecido como Stupor Mundi, neto de Barba-ruiva, tornou Nuremberg cidade imperial, com liberdade aduaneira; assim, acabou transformando-se, a partir daí, em um dos grandes centros de comércio na rota Norte da Europa-Itália.
A importância de Nuremberg na história alemã é reconhecida pelo fato de ela ter sido, na época, vista como a capital não-oficial do Sacro Império Romano-Germânico, em razão de ter sediado várias dietas imperiais (assembleias em que participavam os chefes dos diversos estados que compunham o império), com a reunião das cortes no castelo da cidade. Cabe relevar, particularmente, as dietas de 1522, 1524 e 1532, ocorridas na cidade, tão importantes para a Reforma Protestante.
A partir de 1806, como consequência das guerras napoleônicas no território alemão, Nuremberg, quando da formação da Confederação do Reno (Rheinbund), foi incorporada ao Reino da Baviera, do qual nunca mais se tornou independente.
O período mais dramático para a cidade ocorreu quando o regime nacional-socialista, conhecido como nazista, escolheu-a, a partir de 1933, como centro de suas gigantescas manifestações e reuniões, normalmente realizadas no complexo chamado Reichsparteitagsgelände (um "mar de gente", que pode ser visto em filmes que registraram esses eventos, particularmente a serviço da propaganda oficial do regime nazista, demonstrando a disciplina e o "irrestrito" apoio da opinião pública aos atos do Führer alemão).
Saliente-se que as leis antissemitas de 1935 foram promulgadas pelo regime nazista em Nuremberg, e, em 1936, ela recebeu o título honorífico de "cidade das sessões do partido nazista", sendo promovida por Hitler à capital ideológica do Terceiro Reich.
Em razão de tudo isso, os Aliados, no final da Segunda Grande Guerra, a bombardearam vigorosamente, particularmente no dia 2 de janeiro de 1945, quase destruindo completamente o centro histórico da cidade.
Também não é por outro motivo que, simbolicamente, Nuremberg foi escolhida para sediar o Tribunal Militar Internacional (Schwurgerichtssaal), conhecido como Tribunal de Nuremberg, com competência extraordinária para processar e julgar os maiores responsáveis pelo regime e as oito organizações nazistas, dentre as quais a Gestapo e a SS, pelos crimes de guerra e contra a humanidade cometidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Confessamos que fica difícil entender como Nuremberg tornou-se centro do Nazismo; nossa experiência no local foi muito agradável; o povo que reside na cidade, diversamente do que se vê em outras regiões da Alemanha, é simpático e bastante hospitaleiro, não transparecendo nenhum sinal de racismo ou de xenofobia.
É interessante também observar que Nuremberg é a cidade natal do grandioso pintor, gravador, ilustrador e matemático renascentista Albrecht Dürer (1471-1528), considerado o primeiro grande mestre da técnica de aquarela.
Dentre as inumeráveis obras deixadas pelo artista, temos algumas famosas, espalhadas por museus do mundo, como "Autorretrato com a idade de 22 anos" (Museu do Louvre, Paris), "São Jerônimo penitente" e "A Virgem com o Menino" (National Gallery, Londres), "Autorretrato com a idade de 26 anos" e "Adão e Eva" (Museu do Prado, Madrid), "Adoração dos Magos" (Museu dos Ofícios, Florença), "Retrato de uma jovem veneziana" e "A Adoração da Santíssima Trindade" (Museu de História da Arte, Viena) "Virgem com o Menino e Santa Ana" (Metropolitan, Nova Iorque), "São Jerônimo" (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa), "Festa do Rosário" (Galeria Nacional de Praga), "Autorretrato com a idade de 28 anos" e "Quatro apóstolos" (Pinacoteca Antiga, Munique) e "O imperador Carlos Magno e o imperador Sigismundo" e "Retrato de Michael Wolgemut" (Museu Nacional Germânico, Nuremberg).

1515 Rhinocervs (Rinoceronte de Dürer), xilogravura realizada por Albrecht Dürer em 1515, com base no rinoceronte indiano, dado de presente ao rei de Portugal, Manuel I, pelo sultão de Cambay (Índia), Muzaffar Shah II, e enviado pelo governador da Índia Portuguesa, Afonso de Albuquerque, a Lisboa, em 1515; o rei português, por sua vez, resolveu presentear o animal ao papa Leão X, porém nunca chegou a Roma, pois morreu em um naufrágio em 1516, no mar Mediterrâneo. Par Albrecht Dürer — Web Gallery of Art: Image Info about artwork, Domaine public, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2656460
Há um museu na cidade, dedicado ao artista, que funciona na casa estilo enxaimel, construída em 1420, onde ele morou de 1509 a 1528, conhecida como Albrecht-Dürer-Haus.

Mapa da cidade de Nuremberg em 1642. Nele já se pode observar, bem ao sul, o Frauentor (Portão da Mulher) (n. 33), incrustado na muralha exterior, com três bastiões de defesa à frente; na sequência, tem-se o antigo arsenal, entre muralhas, ao lado da Frauentorturm (Torre do Portão da Mulher), hoje batizado de Handwerkerhof; depois, à esquerda, a Igreja de Santa Clara (n. 13), na Königstrasse (rua do Rei), a mais larga no sentido sul-norte; em seguida, na continuação da rua do Rei, a monumental Igreja de São Lourenço (n. 10), com torres bem altas; continuando, na ponta da ilha do rio Pegnitz, o Heilig-Geist-Spital (Hospital do Espírito Santo) (n. 7); prosseguindo, temos a praça do Mercado Principal (Hauptmarkt) (n. 20), onde se têm, à direita (leste), Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora) (n. 4), ao norte, a Rathaus (Prefeitura) (n. 2) e na frente dela Schöne Brunnen (Fonte Linda); ao noroeste, ao lado da prefeitura, o prédio da Nürnberger Börse (Bolsa de Valores de Nuremberg), atual Câmara de Comércio e Indústria, e atrás dela a parte posterior da enorme Sebalduskirche (Igreja de São Sebaldo) (n. 1), na Winklerstrasse, 26; por fim, no norte da cidade, colado à muralha, o Kaiserburg (Castelo Imperial) ou Schloss Nürnberger (Castelo de Nuremberg) (n. 25).https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nuernberg_merian.JPG#/media/Fichier:Nuernberg_merian.JPG
A primeira via férrea do Reino da Baviera (e da Alemanha), conhecida como estrada de ferro bávara Luís (Bayerische Ludwigseisenbahn), em homenagem ao rei da Baviera Luís I, foi concluída em 1835, ligando Fürth a Nuremberg, o que impulsionou a industrialização da cidade e seu entorno.
O prédio atual da Estação Central de Nuremberg (Nürnberg Hauptbahnhof) foi erguido de 1900 a 1906, observando, em grande parte, o estilo neobarroco, obra do arquiteto Karl Zenger.
Para a construção da fachada exterior foi empregada argamassa tendo como matéria-prima o calcário de conchas marítimas - muschelkalk - (resultante da deposição geológica de moluscos marinhos, que, em razão do recuo do mar, restam acessíveis em terra firme).

Estação Central Ferroviária de Nuremberg (Nürnberg Hauptbahnhof), estilo neobarroco, 1900-1906, obra de Karl Zenger. Nuremberg, região administrativa de Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
O Frauentor (literalmente Portão da Senhora), no sudeste da cidade velha, é um dos portões mais bonitos das muralhas de Nuremberg, que foram erguidas provavelmente entre o século XIV e XVI. Há registro do portão em 1386, o que dá a entender que ele foi terminado nesse ano. À sua direita, ao lado do portão interno que vem na sequência, encontra-se a Frauentorturm (Torre do Portão da Senhora), uma torre redonda, reconstruída em 1558 por Jörg Unger. Hoje, o portão serve de entrada apenas de pedestres.

Frauentor (Portão da Senhora), provavelmente erguido em 1386; sobre o portão, vê-se o brasão de armas do Sacro Império Romano-Germânico. Nuremberg, região administrativa de Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Após ultrapassar o portão interno, que vem em sequência do Frauentor, o visitante se depara com o Handwerkerhof (literalmente, Estaleiro de Artesanato), um espaço que ocupa o antigo arsenal da cidade, composto de pequenas casas de enxaimel, onde os artesãos expõem suas mercadorias à venda e se pode comer as iguarias típicas da região, como a famosa salsicha de Nuremberg (Nürnberg Rostbratwürst) - fininhas, grelhadas, pequenas e saborosas - e beber as cervejas locais, em restaurantes rústicos.

Handwerkerhof (próximo ao Frauentor), inaugurado em 1971, espaço ocupado por casas em enxaimel, com exposição de artesanatos, comidas típicas e cervejas locais; ao fundo, no centro, vê-se a base da Frauentorturm (Torre do Portão da Senhora). Nuremberg, região administrativa de Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Na sequência, nos deparamos com a Kirche St. Klara (Igreja de Santa Clara), templo católico, consagrado em 1274; em 2007, St. Klara foi completamente reformada, tornando-se um oásis de paz no meio da agitação da cidade velha; hoje, é administrada pelos jesuítas.

Kirche St. Klara (Igreja de Santa Clara), predominantemente de estilo gótico, mas mantendo alguns elementos românicos. Königstrasse, 64, Nuremberg, região administrativa de Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
No nosso passeio, seguimos pela Königstrasse, até encontrarmos a Museumsbrücke (Ponte do Museu), antiga Königsbrücke (Ponte Real). Antes da ponte de alvenaria, existia uma de madeira, conhecida como Barfüßerbrücke (Ponte dos Pés Descalços) porque ligava o Mosteiro dos Franciscanos à cidade.
Por conta de inundações sucessivas, que destruíam a estrutura predominantemente de madeira, em 1699, decidiu-se construir uma ponte inteiramente de alvenaria. Terminada em 1700, a obra, com duas aberturas em arco de pedra, recebeu o nome de Königsbrücke (Ponte do Rei), em homenagem a José I, imperador do Sacro Império Romano-Germânico e rei da Boêmia, Hungria e Croácia. Ela é adornada com dois púlpitos barrocos, com grades de ferro forjado, dispostas no pilar fincado no leito do rio Pegnitz.

Königsbrücke (Ponte Real), construída em 1700, atual Museumsbrücke, onde se veem em destaque os dois púlpitos barrocos, com grade de ferro forjado, sobre o pilar central, tendo ao fundo o Heilig-Geist-Spital (Hospital do Espírito Santo), gravura sobre couro de Johann Adam Delsenbach, por volta de 1730. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Delsenbach-Br%C3%BCcke_%C3%BCber_die_Pegnitz.jpg#/media/Fichier:DelsenbachBrücke_über_die_Pegnitz.jpg
O Heilig-Geist-Spital (Hospital do Espírito Santo) teve sua fundação autorizada pelo bispo de Bamberg em 1332, mas foi oficialmente inaugurado em 1339; na época, era um dos maiores da Idade Média, com capacidade para cerca de 200 internos. No final do século XV, em razão da necessidade de ampliar fisicamente o hospital para receber mais internos, iniciou-se a construção de prédios sobre o leito norte do rio, mas, devido ao terreno pantanoso, a obra tornou-se cara, arriscada e demorada, somente sendo terminada em 1527.
Um fato curioso é que as joias imperiais, incluindo coroa imperial, orbe, cetro, lança imperial, espada imperial e cerimonial, foram guardadas no hospital desde 1423 até 1796, inicialmente por ordem de Sigismundo, imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Antes de cada coroação imperial, as joias eram levadas para Frankfurt am Main, e depois retornavam, em uma procissão cerimonial, bem escoltada. Atualmente, elas se encontram no Palácio Imperial de Hofburg, em Viena, Áustria.
Hoje, no local, funciona um restaurante e bar de vinhos, com oferta de especialidades regionais e vinhos locais, e um lar de idosos.

Heilig-Geist-Spital (hospital com início da construção em 1332), visto a partir da antiga Königsbrücke (Ponte Real), mais conhecida como Ponte dos Pés Descalços, hoje Museumsbrücke (Ponte do Museu). Nuremberg, região administrativa de Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Caminhando em direção ao norte da cidade velha, deparamo-nos com o Hauptmarkt (Mercado Central), que, hoje, é uma praça, onde, na época natalina, é cenário da famosa Christkindlesmarkt (Feira de Natal).
A sua principal atração é a Schöne Brunnen (Fonte Bela ou Linda), erguida provavelmente entre 1385 e 1396, que foi substituída no início do século XX por uma réplica. Trata-se de um obelisco em forma de torre gótica que alcança 19 metros, com belos entalhes, dentro de uma piscina octogonal. O fato pitoresco é o famoso "anel de ouro", instalado na grade do monumento, sobre o qual há uma tradição local de que quem girá-lo completamente três vezes tem os desejos atendidos.
No entorno da praça há diversos edifícios de importância histórica.
A Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora), de culto católico, que foi erguida por ordem de Carlos IV, futuro imperador do Sacro Império Romano-Germânico entre 1352 e 1361, sobre uma sinagoga destruída quando de um pogrom (palavra de origem russa que significa movimento popular violento, com pilhagens e massacres, dirigido contra uma comunidade étnica ou religiosa, especialmente a judaica, com o beneplácito das autoridades) ocorrido em 1349, no qual pelo menos 562 judeus foram queimados vivos e a sinagoga destruída. Uma das atrações desse templo católico é o Männleinlaufen (relógio mecânico), montado por Adam Kraft, em 1509, no qual, todos os dias, ao meio-dia, há uma procissão de autômatos representando os sete príncipes-eleitores (os arcebispos de Mainz, Colônia e Trier, o rei da Boêmia, o duque da Saxônia, o margrave de Brandemburgo e o conde palatino do Reno) rendendo homenagem ao imperador do Sacro Império Romano-Germânico, uma lembrança da "Bula de Ouro", a lei imperial promulgada em Nuremberg em 1356, estipulando que o monarca eleito deveria realizar sua primeira assembleia imperial (Reichstag) em Nuremberg.
Os edifícios da Rathaus (Prefeitura) ficam ao norte da praça, destacando-se o prédio de estilo gótico, datado do século XIV, e o palácio renascentista, da fachada leste, erguido entre 1616 e 1622, obra de Jacob Wolff, o Jovem.
A Sebalduskirche (Igreja de São Sebaldo), originalmente católica, então no estilo românico tardio, foi concluída na primeira metade do século XIII; nos séculos XIV e XV, houve ampliações, já no estilo gótico. Em 1525, o templo tornou-se luterano.

Hauptmarkt, em 1594, pintura de Lorenz Strauch, onde se têm, à direita (leste), Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora) (n. 4), ao norte, a Rathaus (Prefeitura) e na frente dela Schöne Brunnen (Fonte Bela): à noroeste, ao lado da prefeitura, o prédio da Nürnberger Börse (Bolsa de Valores de Nuremberg), atual Câmara de Comércio e Indústria, e atrás dela a parte posterior da Sebalduskirche (Igreja de São Sebaldo), na Winklerstrasse, 26. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Strauch_Der_Markt_zu_N%C3%BCrnberg_1594.jpg#/media/Datei:Strauch_Der_Markt_zu_Nürnberg_1594.jpg
No noroeste do Hauptmarkt, observa-se o edifício da Nürnberger Börse (Bolsa de Valores de Nuremberg), também conhecido como Herrenmarkt, no qual, a partir de 1566, a mesa de negociação da bolsa passou a realizar suas deliberações, com início às 11 horas e encerramento às 17 horas, assinalados pelos toques do sino do mercado, instalado em um dos contrafortes da Igreja de São Sebaldo.

Nürnberger Börse (Bolsa de Valores de Nuremberg), prédio pertencente atualmente à Câmara de Comércio e Indústria de Nuremberg; na fachada leste, tem-se a pintura de Georg Kellner, realizada em 1910, conhecida como a Procissão dos mercadores de Nuremberg com escolta. Waaggassen, 2, com Hauptmarket; ao fundo, a parte posterior da Sebalduskirche (Igreja de São Sebaldo). Nuremberg, região administrativa de Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
No dia seguinte, já partindo para Regensburg, nos deparamos com o Kongresshalle (Salão de Congressos), um dos maiores exemplares preservados da arquitetura nacional-socialista (nazista), edifício em forma de U, projetado de acordo com a tradição dos antigos teatros; alguns dizem que foi inspirado no Coliseu romano; projeto de Ludwig Ruff e Franz Ruff, sua construção se iniciou em 1935, mas não foi concluído.
O Kongresshalle fazia parte do conjunto de equipamentos conhecido como Reichsparteitagsgelände (Campos de Desfiles do Partido Nazista), também composto por Luitpold Arena (Arena Luitpold), Luitpoldhalle (Salão Luitpold), Große Straße (Grande Rua), Deutsches Stadion (Estádio Alemão), Märzfeld (Campo de Março ou Campo de Marte), Städtisches Stadion/Stadion der Hitlerjugend (Estádio Municipal/Estádio da Juventude Hitlerista) e Zeppelinfeld (Campo Zeppelin).
No referido complexo, ocorriam os grandes congressos e desfiles organizados pelo Partido Nazista entre 1933 e 1938, dos quais participavam tropas da Schutzstaffel (SS), da Sturmabteilung (SA), da Hitlerjugend (Juventude Hitlerista) e do Wehrmacht (Exército Alemão).
Esses eventos anuais, realizados em setembro, tinham como objetivo propagandístico afirmar o papel salvador de Hitler e do Partido Nazista na retomada do Império Alemão, como herdeiro do Sacro Império Romano-Germânico, em seguida à derrota na Primeira Guerra Mundial e ao caos comunista, implantado pela República de Weimar.
Alguns desses eventos foram filmados pela cineasta Leni Riefenstahl (1902-2003), dentre eles um documentário sobre o VI Congresso do Partido Nacional-Socialista, realizado no complexo em 1934, que foi denominado Triumph des Willens (Triunfo da Vontade - 1935).

Zeppelinfeld, Desfile do Partido Nazista, no grande apelo dos líderes, 1937. Reichsparteitagsgelände, Nuremberg. Von Autor/-in unbekannt oder nicht angegeben - U.S. National Archives and Records Administration, Gemeinfrei, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=16454143

Luitpold Arena. Evento comemorativo com a presença de Hitler, em 1934. Reichsparteitagsgelände, Nuremberg. Von Bundesarchiv, Bild 102-04062A / Georg Pahl / CC-BY-SA 3.0, CC BY-SA 3.0 de, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5414071

Kongresshalle (Salão de Congresso - Partido Nazista). Nuremberg, região administrativa de Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.

Kongresshalle (Salão de Congresso - Partido Nazista). Nuremberg, região administrativa de Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
2 - Regensburg
Regensburg, em celta Ratisbona, é uma das mais antigas cidades da Alemanha.
Inicialmente ocupada pelos celtas, o lugar tornou-se um campo militar romano por volta de 79 a.C, servindo de ponto de vigilância da embocadura de dois afluentes do rio Danúbio: Regen e Naab. Em torno do campo se formou uma pequena cidade. Ambos foram destruídos por volta de 165, durante as guerras marcomanas (tribos germânicas). Após a expulsão dos marcomanos, em 170, o imperador romano Marco Aurélio, por volta de 175, ordenou a construção de um novo campo, em pedra, que ficou conhecido como Castra Regina, com muralhas de cerca de 10 metros de altura, quatro portas e várias torres, inaugurado em 179. O campo serviu de fortaleza para a Legio III Italica (III Legião Itálica), tendo essa tropa mantido sua sede no local até o século V, quando então foi abandonado no curso das invasões bárbaras.
Na era merovíngia, Regensburg foi capital dos bávaros (tribo germânica) e sede da dinastia dos Agilolfingos, que governou o Ducado da Baviera de 555 a 788.
Em 788, o imperador dos francos, Carlos Magno, derrubou o último duque da Baviera, Tassilão III, da dinastia dos Agilolfingos, e permaneceu dois invernos consecutivos (791 a 793) em Regensburg para assegurar pessoalmente a incorporação da Baviera ao reino da França.
A partir do Tratado de Verdun, de 843, Regensburg passou a integrar a região conhecida como França Oriental.
Com a ascensão de Oto, filho de Henrique I, o Passarinheiro, da Saxônia, como rei da Alemanha (antiga França Oriental), em 936, e depois imperador dos romanos, em 962, já como Oto I, Regensburg passou a fazer parte do Sacro Império Romano-Germânico.
A cidade atingiu seu apogeu político e econômico nos séculos XII e XIII, quando se encontrava na encruzilhada das grandes rotas comerciais, ligando particularmente Paris, Veneza e Kiev. Foi nessa época que ocorreu a construção da Steinerne Brücke (Ponte de Pedra) sobre o rio Danúbio, tendo, em 1182, o imperador Federico Barba-ruiva autorizado, sob pressão dos cidadãos da cidade, o privilégio de cobrar, autonomamente, taxas sobre a circulação de mercadorias na ponte, ou seja, na prática, a gestão dos negócios da cidade estava colocada nas mãos da administração local.
O também imperador Frederico II, neto do Barba-ruiva, concedeu importantes privilégios a Regensburg, em 1230, o que lhe permitiu alcançar o status de cidade livre do império (Freie Stadt), outorgado por Frederico em 1245, fazendo com que os duques da Baviera deixassem a cidade para se instalar em Landshut.
Durante as guerras napoleônicas, em 1810, a cidade foi anexada pelo novo Reino da Baviera, tornando-se uma cidade de segunda linha, mantendo alguma importância por que foi escolhida capital da região administrativa do Alto Palatinado.
Curiosidades sobre a cidade: aqui nasceu, em 1545 ou 1547, Dom João de Áustria, filho ilegítimo de Carlos I da Espanha e V do Sacro Império Romano-Germânico e de sua amante, a alemã Barbara Blomberg, e, portanto, meio-irmão paterno do futuro rei da Espanha Filipe II, em cuja corte fez parte da família real e serviu como militar e diplomata, tendo participado da batalha de Lepanto, da qual saiu como herói, e foi Governador dos Países Baixos espanhóis; Joseph Ratzinger, futuro papa Bento XVI, foi professor de teologia de 1969 a 1977, na Universidade de Regensburg, titular da cadeira de dogmática e de história dos dogmas, tendo recebido o titulo de cidadão honorário da cidade.
A Steinerne Brücke (Ponte de Pedra), notável exemplo de engenharia medieval, foi construída por iniciativa dos ricos comerciantes de Regensburg, provavelmente de 1135 a 1146. Por séculos, foi a única travessia do famoso rio Danúbio entre Ulm e Viena. A vetusta estrutura atravessa o rio em 16 arcos redondos com extensão de aproximadamente 310 metros. Teria servido de modelo para a famosa Ponte Carlos, em Praga, na República Tcheca.

Steinerne Brücke (Ponte de Pedra) - 1135-46 -, em destaque os arcos e as sapatas dos pilares, com pontas agudas. Regensburg, região administrativa do Alto Palatinado, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Chegando na cidade velha, no extremo sul da ponte, encontram-se a Brückturm (Torre da Ponte) e o Brückentor (Portão da Ponte), provavelmente herdeiros dos originais erguidos no final do século XIII e início do século XIV, como parte das fortificações da cidade medieval. Ao lado esquerdo da torre de quem vem pela ponte, vê-se o Salzstadel (Celeiro de Sal), construído entre 1616 e 1620, espaço necessário para armazenagem do produto, em razão de o imperador ter autorizado que a cidade comercializasse o mineral, que era transportado pelo Danúbio, um negócio muito lucrativo para Regensburg.

A partir da Steinerne Brücke (Ponte de Pedra), podem ser vistos, da direita para esquerda, o Brückentor (Portão da Ponte), a Brückturm (Torre da Ponte) e o Salzstadel (Celeiro de Sal); ao fundo, à esquerda do celeiro, as agulhas da Dom St. Peter (Catedral de São Pedro). Regensburg, região administrativa do Alto Palatinado, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Atrás do Salzstadel (Celeiro de Sal), tem-se a Historische Wurstküche ou Historische Wurstkuchl (Cozinha Histórica de Salsichas), que funciona no local há pelo menos 500 anos. Anteriormente servia carne cozida, mas, por volta do final do século XVIII para o início do século XIX, passou a oferecer as famosas salsichas de Regensburg, grelhadas no carvão de madeira de faia e acompanhadas de chucrute e sua excelente mostarda, a receita histórica de Elsa Schricker.

Historische Wurstküche ou Historische Wurstkuchl (Cozinha Histórica de Salsichas), em funcionamento desde, pelo menos, o século XVI; à direita, o prédio do Salzstadel (Celeiro de Sal). Thundorferstrasse, Regensburg, região administrativa do Alto Palatinado, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
A Altes Rathaus (Prefeitura Velha) foi erguida, na segunda metade do século XIII, após o imperador Frederico II, da dinastia do Hohenstaufen e neto do lendário imperador Frederico Barba-ruiva, tornar Regensburg cidade imperial livre, em 1245.
No século XIV, foi acrescentado ao prédio o Salão de Baile, depois Reichssaal (Salão Imperial), um espaço com rica decoração, tendo alcançado seu auge quando foi empregado, a partir de 1663, para sediar a Assembleia Imperial Perpétua ou Parlamento Imperial Perpétuo (Reichstag) até 1806, quando o Sacro Império Romano-Germânico acabou, com a criação da Confederação do Reno por Napoleão Bonaparte.

Altes Rathaus (Prefeitura Velha), ao fundo, parede amarela, com seu balcão em estilo gótico tardio na lateral do prédio. Rathausplatz, Regensburg, região administrativa do Alto Palatinado, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Como já dito acima, os romanos ocuparam o local no século I, e, por volta de 179, no governo do imperador Marco Aurélio, concluíram um novo acampamento militar conhecido como Castra Regina, do qual restam como uma das lembranças mais impressionantes a Porta Praetoria, que era a saída do campo dos legionários para o norte, onde estavam os inimigos. O portão, com seus poderosos blocos de pedras, dão a ideia de quão fortificado era o campo militar. Há indícios de que até 932 o portão ainda era utilizado, conhecido na época como Porta Aquarum. É considerado o edifício de pedra mais antigo da Alemanha.

Porta Praetoria (portão do campo militar romano Castra Regina), construção romana de 179 d.C.. Unter den Schwibbogen, Regensburg, região administrativa do Alto Palatinado, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
A enorme Dom St. Peter (Catedral de São Pedro), em estilo gótico francês (radiante - rayonnant), projeto do mestre-construtor Ludovico, foi erguida entre 1275 e a primeira metade do século XVI, mas pode-se dizer que a sua construção durou cerca de 600 anos, pois suas torres somente foram erguidas entre 1859 e 1869, com o generoso apoio dos reis bávaros Luís I e Maximiniano II, e a empena do transepto que faltava, em 1872, no reino de Luís II da Baviera.
As grandes atrações do templo católico são seu altar-mor de prata, suas 39 janelas de vidro, instaladas de 1310 a 1450, com mais de 1.100 vitrais, que permitem que a catedral seja banhada com a "luz sagrada"; na fachada externa da igreja, quase tudo que a crença medieval tem a oferecer em esculturas: santos, dragões, demônios, leões, pássaros, macacos, porcos, dentre outros; e o destaque artístico, o "Grupo da Anunciação", com Maria e o Anjo Risonho, feitas pelo mestre-construtor Ludovico, por volta de 1280.

Dom St. Peter (Catedral de São Pedro), estilo gótico radiante, iniciada em 1275. Domplatz, Regensburg, região administrativa do Alto Palatinado, Estado Livre da Baviera, Alemanha.

Dom St. Peter (Catedral de São Pedro), entrada principal. Domplatz, Regensburg, região administrativa do Alto Palatinado, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Uma das maiores atrações das missas da Catedral de Regensburg são os Domspatzen (Pardais de Catedral), que tem origem na fundação da escola catedral, em 975, por iniciativa do então bispo de Regensburg, São Wolfgang, que, além da educação geral, dava ênfase à formação musical. Na época, formado apenas por meninos, o coro realizava o canto litúrgico durante as missas na Catedral de Regensburg, que estava sediada em um edifício anterior ao atual.
Com a atuação do maestro Dr. Theobald Schrems à frente do grupo musical, que exerceu a função de 1924 a 1963, houve uma expansão nas atividades do coro, que passou a ser mundialmente famoso, a partir da década de 1930.
Hoje, os meninos cantores de Regensburg fazem papel também de "Embaixadores Júnior dos Direitos da Criança", do UNICEF.
Com mais de mil anos de existência, o coro vai do canto monofônico, passando pelas canções dos períodos renascentista, barroco, clássico, romântico até a música contemporânea.

Os famosos Domspatzen (Pardais da Catedral), à frente do altar-mor de prata, realizando o canto litúrgico, durante uma missa na Dom St. Peter (Catedral de São Pedro). Domplatz, Regensburg, região administrativa do Alto Palatinado, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Na sequência, partimos para Dachau e Munique, ainda na Baviera.
Fontes:
Wikipedia;
"Alemanha", Guia Visual, PubliFolha, São Paulo, SP, 7ª edição, 2012; 1ª reimpressão: 2013.
"Frommer's Alemanha Dia a Dia", por George McDonald e Donal Olson, Alta Books, Rio de Janeiro, RJ, 1ª edição, 2014.
https://www.regensburg-bayern.de/erleben/sehenswuerdigkeiten-regensburg
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