Rothenburg ob der Tauber (Baviera) e Frankfurt am Main (Hesse) - Alemanha - 2010
- Roberto Caldas
- 5 de jan. de 2023
- 18 min de leitura

Boneco Quebra-Nozes (Nussknacker), Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
1- Rothenburg ob der Tauber
Após a visita aos castelos românticos na região de Füssen-Schwangau, partimos para a cidade alemã natalina, Rothenburg ob der Tauber.

Indo para Rothenburg ob der Tauber, parada no restaurante Kunst-Raststätte Illertal-Ost, a primeira e única parada de arte da Alemanha, Autobahn (autoestrada) A7, Km 874 (trecho Ulm-Memmingen), região da Suábia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
A primeira referência que se tem sobre a futura cidade de Rothenburg ob der Tauber é que um nobre chamado Reinger, da Francônia Oriental, instalou, no final do século X, a Paróquia de Detwang, com sede na St.-Peter-und-Pauls-Kirche (Igreja de São Pedro e São Paulo) no Vale do rio Tauber, ao sul da posterior mancha urbana, que viria ser a origem da paróquia da cidade (St. Jakob), localizada hoje na St. Jakobs-Kirche Rothenburg (Igreja de São Tiago ou Sant'Iago de Rothenburg).
Mas o ponto inicial da futura urbe foi o Burgstall Essigkrug (Castelo "Jarro de Vinagre), erguido por iniciativa dos condes de Comburg, na segunda metade do século XI, por volta de 1080, que, posteriormente, foi doado ao Kloster Grosscomburg (Mosteiro beneditino de Comburg), em 1116.
Posteriormente este castelo foi substituído, como sede do poder, pelo Reichsburg Rothenburg, construído por determinação do rei da Casa de Hohenstaufen, Konrad III (Conrado III), do Sacro Império Romano-Germânico, por volta de 1142 (nunca foi sagrado oficialmente imperador).
A cidade alcançou seu auge de desenvolvimento na Idade Média após ter sido declarada "cidade imperial livre", por intermédio do Grande Privilégio de Liberdade concedido, em 1274, por Rudolf I (Rodolfo I da Germânia), da Casa de Habsburgo, (eleito "rei dos Romanos", mas não imperador). Assim, no final do século XIV, Rothemburg era uma cidade quase autônoma, que reconhecia apenas o imperador e o Império Sacro Romano-Germânico como autoridades superiores.
Porém, a partir do início da Idade Moderna, vários episódios modificaram definitivamente a vida pública e as estruturas social e religiosa da cidade: membros da outrora próspera e influente comunidade judia foram expulsos da cidade em 1521; os habitantes da região se envolveram nas agitações sociais da época, particularmente na Revolta dos Camponeses, ocorrida entre 1524 e 1525, enfraquecendo o prestígio da cidade junto à autoridade imperial; em 1544, Rothenburg rompeu seus laços com a Igreja Católica, passando a abraçar a Reforma Protestante promovida por Lutero, dissolvendo seus dois mosteiros, o que desagradou profundamente o imperador Karl V (Carlos V), da Casa de Habsburgo, do Sacro Império Romano-Germânico, o grande defensor do Catolicismo.
Por fim, durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), como cidade protestante e também imperial, Rothenburg não apenas esteve em conflito permanente de lealdade com os seus senhores católicos (imperadores Ferdinand II (Fernando II) e Ferdinand III (Fernando III), da Casa de Habsburgo), como sofreu com a passagem de exércitos, o aquartelamento de soldados, a coerção para contribuições financeiras e de meios e a pilhagem, tudo isso levando-a à ruína econômica. Em duas ocasiões, foi capturada militarmente (1631 e 1645), e parte de sua população foi dizimada por doenças.
Mesmo assim, Rothenburg manteve seu status imperial ainda por mais cento e cinquenta anos, quando, em 1803, a cidade foi incorporada ao Ducado da Baviera (futuro reino), governado pela Casa de Wittelsbach, como parte da realocação de terras promovida por Napoleão no seio do Sacro Império Romano-Germânico, que terminou por ser dissolvido em 1806, após a derrota do então imperador Franz I (Francisco I) para as tropas do Império Francês.
A cidade somente começou a se recuperar a partir de 1873, quando foi conectada à rede ferroviária alemã. Por conta da sua fama como a representante da antiga arquitetura urbana alemã, alardeada por artistas, escritores e acadêmicos (grande parte das muralhas, erguidas entre os séculos XII e XVI, ainda está preservada), o turismo passou a desempenhar um papel essencial na vida econômica da cidade.
Pode-se dizer que a Rothenburg, hoje, é a "cidade natalina alemã".
Assim, uma das grandes atrações locais é a loja de artigos natalinos Käthe Wohlfahrt Weihnachtsdorf (Vila Natalina de Käthe Wohlfahrt), criada pelo casal Wilhelm e Käthe Wohlfahrt em 1981 e situada no centro medieval da cidade; ao seu lado, temos o Deutschen Weihnachtsmuseum (Museu Alemão do Natal), inaugurado em 2000 por iniciativa do filho do casal, Harald Wohlfahrt, no qual estão expostas decorações de Natal de várias regiões da Alemanha do século XIX e início do século XX.

Carro da empresa Käthe Wohlfahrtm, especialista em decorações de Natal, estacionado em frente à loja. Herrngasse 1, Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.

Frente da loja Käthe Wohlfahrt Weihnachtsdorf (Vila Natalina de Käthe Wohlfahrt). Herrngasse 1, Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.

Interior da loja Käthe Wohlfahrt Weihnachtsdorf (Vila Natalina de Käthe Wohlfahrt); atrás, à esquerda, vê-se o acesso ao Deutschen Weihnachtsmuseum (Museu Alemão do Natal). Herrngasse 1, Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.

Boneco gigante Quebra-Nozes (Nussknacker) na frente da loja Käthe Wohlfahrt Weihnachtsdorf (Vila Natalina de Käthe Wohlfahrt). Herrngasse 1, Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Após a linda exposição de decorações natalinas, fomos visitar a St.-Jakobs-Kirche (Igreja de São Tiago Maior), inicialmente católica, mas, após a Reforma Protestante, em 1544, foi transformada em templo de confissão evangélica luterana, sendo hoje a principal igreja de Rothenburg.
A sua construção iniciou em 1311 mas a consagração se deu somente 174 anos depois, ou seja, em 1485.
O altar-mor da igreja é conhecido como Zwölf-Boten-Altar (Altar dos Doze Mensageiros ou dos Doze Apóstolos), erguido com a supervisão do artista alemão Friedrich Herlin, em 1466; há outra altar famoso, chamado de Heilig-Blut-Altar (Altar do Sangue Sagrado), obra do escultor e entalhador alemão Tilman Riemenschneider, por volta de 1500, que foi esculpido para guardar uma relíquia do Sangue Sagrado, que seria uma gota derramada do cálice durante a Última Ceia, que se tornou o sangue de Cristo por meio da consagração.
Outra atração é o grande órgão construído pela empresa austríaca Rieger Orgelbau, em 1968, que possui 69 registros e cerca de 5.500 tubos.
Cabe observar que o nome do santo padroeiro da referida igreja tem formas diversas dependendo da língua: São Tiago, em português; Santiago, oriundo de Sant'Iago, em espanhol; St. James, em inglês; Saint Jacques, em francês; Sanctus Iacobus (Jacó), em latim; e St. Jakob, em alemão.

Zwölf-Boten-Altar (Altar dos Doze Mensageiros ou dos Doze Apóstolos; altar-mor da St.-Jakobs-Kirche (Igreja Luterana de São Tiago). Klostergasse 15, Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
A Rathaus (Prefeitura), localizada na Marktplatz (Praça do Mercado) de Rothenburg, é composta por dois prédios erguidos em épocas históricas distintas: um gótico, iniciado por volta de 1250 e concluído aproximadamente em 1400, e que teve a parte voltada para a Marktplatz (Praça do Mercado) destruída por um incêndio em 1501; esta porção da edificação foi reconstruída entre 1572/78, já em estilo renascentista; a este edifício mais novo, em 1681, foram acrescidas as arcadas barrocas, prologando a fachada do prédio renascentista.

Fachada leste da Rathaus (Prefeitura), edificada entre 1572/78, em estilo renascentista; o pórtico com arcadas barrocas foi acrescentado em 1681. Marktplatz 1, Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Na mesma Praça do Mercado nos deparamos com o prédio da antiga Câmara do Conselho (Salão do Conselho) da cidade (Ratsstube), edifício provavelmente erguido durante a Idade Média, com indicação referente ao ano de 1415. Fato que se encontra registrado em uma das paredes do edifício é que Cristian I (Cristiano I), rei da Dinamarca, em 1474, se hospedou na Câmara do Conselho, quando de sua estada na cidade, para encontro com o imperador Friedrich III (Frederico III), do Sacro Império Romano-Germânico.
Hoje no prédio funciona o Ratsstube Restaurant, cuja especialidade é cozinha franconiana, mas de propriedade da família italiana Moretti.

Ratsstube Restaurant, especializado na cozinha da Francônia; instalado no prédio da antiga Ratsstube (Câmara do Conselho). Marktplatz 6, Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
A Altstadt (Cidade Velha) de Rothenburg ob der Tauber é cercado por uma muralha medieval.
Há poucas cidades na Europa que têm muralhas, torres e portões tão bem preservados e ainda úteis. O desenvolvimento da cidade e a sua ascensão econômica entre os séculos XII e XVI levaram à ampliação contínua da muralha da cidade, cada vez mais fortificada com novas torres e portões.

Ilustração de Rothenburg ob der Tauber de 1648, de Matthäus Merian; cercada por muralhas; muitas torres. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rothenburg_Tauber-1648-Merian.jpg#filehistory
Um dos conjuntos de portão-torre mais impressionantes é o Rödertor (em alemão antigo, Portão do Lenhador).
Apesar de ter sido edificado provavelmente na Idade Média, o Rödertor foi reconstruído em 1649, logo após o fim da Guerra dos Trinta Anos. Trata-se de uma raridade na Alemanha, tendo em vista a industrialização ocorrida no país, a partir do século XIX, que não se harmonizava com a existência desse tipo de fortificação. Foi preservada possivelmente em razão da decadência econômica da cidade após a citada guerra.
O portão em arco é ladeado por duas cabanas com telhados inclinados, que foram utilizadas como postos aduaneiros (alfândega) desde o século XIII; após ultrapassar o portão, tem-se acesso a duas pontes de pedra sobre o fosso (originalmente levadiças), intermediadas por um tramo de muralha com um segundo arco e guaritas; ao fim, há o último arco, sobre o qual tem-se a cabana elevada do porteiro e, em seguida, alcança-se a torre, incrustrada na muralha.
Quando a muralha da cidade foi estendida para o fora do primeiro anel de fortificações, a partir de 1208, ela chegou a possuir 70 torres de vigia (cerca de 42 ainda preservadas), sendo a Röderturm (Torre do Lenhador, em alemão antigo) a mais impressionante, podendo-se dizer que é a verdadeira torre de observação do sistema defensivo de Rothenburg.

Rödertor (Portão do Lenhador); arco externo ladeado com duas cabanas que serviam de postos aduaneiros. Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.

Rödertor; tramo de muralha intermediário entre as duas pontes de pedra sobre o poço, com arco e guaritas. Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.

Rödertor; a segunda ponte, a entrada do terceiro arco e a cabana elevada do porteiro; ao fundo, a Röderturm (Torre do Lenhador). Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Por fim, fomos ao Hotel-Gasthof Goldener Greifen (Hotel-Pousada Grifo Dourado), cujo imóvel provavelmente foi construído em 1348, tendo sido referido em documento da cidade em 1375.
O hotel é um legado deixado pelo que é considerado o mais importante prefeito de Rothenburg, Heinrich Toppler (governando de 1372 a 1408, de forma intermitente), que, na época, administrava também o Grifo Dourado como pousada.
Assim, desde aquele tempo, o Grifo Dourado era um dos pontos principais da vida social da "Cidade Imperial Livre", onde as pessoas paravam, após a reunião do "Conselho da Cidade", já no século XVI, para discutir política. Uma tradição que se mantém há mais de 670 anos.

Hotel-Gasthof Goldener Greifen (Hotel-Pousada Grifo Dourado), edificado por volta de 1348, à esquerda, com sua marca em destaque, Obere Schmiedgasse 5, Rothenburg ob der Tauber, distrito de Ansbach, Região da Média Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Em seguida, partimos para Frankfurt am Main, a sede do Banco Central Europeu (Euro).
2 - Frankfurt am Main
A primeira informação sobre um núcleo organizado às margens do rio Main, no local onde está atualmente a cidade velha de Frankfurt, trata de um assentamento e de uma base de abastecimento militar, construídos em 83 d.C., no governo do imperador romano Domiciano, na colina da atual catedral, que serviam ao forte Nida, que ficava localizado mais ao nordeste, perto de Heddernheim.
Por volta de 259/260, os alamanos, grupo formado por várias tribos germânicas, invadiram e ocuparam o assentamento romano no rio Main. Por sua vez, em 531, os francos, também de origem germânica, substituíram os alamanos no controle do Baixo Main; em seguida, foi instalada a corte real da Francônia, na referida colina.
Em 794, sob o reino de Carlos Magno, o líder dos francos e futuro primeiro imperador do Sacro Império Romano-Germânico, o nome Franconofurd é mencionado pela primeira vez.
Entre 815 e 822, Luís, o Piedoso, filho de Carlos Magno e seu sucessor na frente do império, construiu um palácio na colina da catedral.
Sobre os restos de uma igreja merovíngia, foi erguida a capela do palácio imperial, a basílica de São Salvador, em 852, precursora da atual catedral. Nessa época, ao lado de Regensburg (Ratisbona - assunto de nosso post "Nuremberg e Regensburg (Baviera) - Alemanha - 2010"), Frankfurt passou a ser sede do império da Francônia Oriental ou França Oriental.
A comunidade judaica de Frankfurt foi dizimada em um pogrom (palavra originalmente russa para descrever ataques, acompanhados de pilhagens e massacres, contra judeus, perpetrados por cristãos, sem reação das autoridades ou com seu consentimento) ocorrido em 1241. Os judeus voltaram a se estabelecer novamente em Frankfurt por volta de 1255, e, por ordem imperial, em 1462, foram reassentados em um gueto nos arredores da cidade, o Judengasse.
Em 1356, com a expedição da Bula de Ouro do imperador Karl IV (Carlos IV), da Casa de Luxemburgo, Frankfurt é designada como o local oficial da eleição do rei dos alemães (conhecido como rei dos Romanos), e, a partir da eleição do imperador Maximilian II (Maximiliano II), da Casa de Habsburgo, em 1562, também o local da coroação do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, que anteriormente era feita em Aachen (Aix-la-Chapelle).
A partir de 1530, Frankfurt vai se tornar um dos centros de impressão e comércio de livros na Europa, e a Reforma Religiosa (Luterana) é introduzida oficialmente na cidade em 1533.
Em 1792, a última coroação imperial ocorreu em Frankfurt (Franz II (Francisco II), da Casa de Habsburgo). Logo após, a cidade foi ocupada pelas tropas revolucionárias francesas, e, em 1796, 1800 e 1806, Frankfurt seria invadida novamente pela França.
Frankfurt foi anexada pela Prússia em 1866, e, entre 1891 e 1912, sob a administração do prefeito Franz Adickes, Frankfurt transformou-se em uma moderna cidade industrial e comercial, acolhendo eventos significativos e exposições nessas áreas, continuando sua velha tradição de feiras.
Entre 9 e 10 de novembro de 1938, já sob o regime nazista, ocorreu novo pogrom em Frankfurt, com a destruição de sinagogas e instituições judaicas, e, de outubro de 1941 em diante, durante a Segunda Grande Guerra, cerca de 9.415 judeus foram deportados da cidade e assassinados em campos de concentração.
Já nos anos finais da Segunda Guerra Mundial, 1943/44, a parte central de Frankfurt foi quase completamente destruída por ataques aéreos promovidos pelos Aliados; em março de 1945, tropas americanas ocuparam a cidade, e, já em 1946, após a remoção dos escombros, iniciou-se a reconstrução da cidade.
O Instituto Monetário Europeu, o precursor do atual Banco Central Europeu, começou a funcionar em Frankfurt, a partir de 1995, na Eurotower; o Banco Central Europeu foi transferido para sua nova sede em 2015, na região de Ostend.
Hoje, Frankfurt am Main é o principal centro bancário e financeiro do país, sede do Bundesbank (Banco Central da Alemanha), do Banco Central Europeu e da Bolsa de Valores de Frankfurt, e um dos mais importantes centros financeiros e culturais da Europa; ademais, é nela que se promove a Feira Internacional do Livro, a maior do gênero no mundo.
Nossa visita à cidade iniciou na Kaiserdom Sankt Bartholomäus (Catedral Imperial de São Bartolomeu), na cidade velha, também conhecida como Catedral de Frankfurt.
Na verdade, esse templo nunca foi uma sede episcopal; seu nome era Colegiada de São Bartolomeu, sendo conhecida como "catedral imperial" em razão de ter sido igreja do palácio imperial, e, desde 1356, por determinação de Karl IV (Carlos IV), da Casa de Luxemburgo, por meio da Bula de Ouro, local da eleição dos reis alemães, conhecidos como "reis dos Romanos", e, a partir de 1562, com Maximilian II (Maximiliano II), da Casa de Habsburgo, da coroação dos imperadores do Sacro Império Romano-Germânico (a partir daquele ano, 10 foram coroados até 1792).
No século VII, no local, havia inicialmente uma pequena capela merovíngia, provavelmente construída antes de 680; em 852, sobre os restos do templo antigo, foi erguida a Basílica do Salvador, pertencente ao palácio imperial carolíngio; o coro estilo romântico tardio foi consagrado em 1239 ao apóstolo Bartolomeu, cuja calota craniana é guardada como relíquia na igreja e exposta aos domingos e feriados e todo 24 de dezembro, dia festivo do santo.
A construção e a expansão da nave, já em estilo gótico, ainda predominante, e dos corredores laterais começaram em 1260. A torre oeste foi erguida a partir de 1415.
A catedral alcançou suas atuais dimensões externas por volta de 1550. Sua aparência atual é resultado da sua reconstrução, depois do incêndio ocorrido em1867, e da restauração, após os danos sofridos durante a Segunda Guerra Mundial.
A capela eleitoral da catedral, a Wahlkapelle, onde ocorriam as eleições dos reis alemães, serve agora de sala de oração silenciosa.
A torre da Catedral de Frankfurt se ergue a 95 metros, e, da sua plataforma de observação, a 66 metros de altura, pode-se desfrutar de uma excelente vista da Altstadt (cidade velha), incluindo Römer e Paulskirche.

Kaiserdom Sankt Bartholomäus (Catedral Imperial de São Bartolomeu ou Catedral de Frankfurt), em destaque, sua torre gótica de 95 metros. Domplatz, 1, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.

Sippenaltar (Altar da Família Sagrada); no centro escultórico, Menino Jesus, ladeado, à esquerda, por sua mãe, a Virgem Maria, e, à direita, por sua avó materna, Sant'Ana. Catedral de Frankfurt, Domplatz, 1, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.

Apostel-Abschieds-Altar (Altar Despedida do Apóstolo), gótico tardio, por volta de 1523; no detalhe do alto, a Coroação de Maria. Catedral de Frankfurt, Domplatz, 1, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.

Beweinung Christi. Pintura "Lamentação por Cristo" ou "Piedade", realizada por volta de 1627, obra do famoso pintor flamengo (belga) Antoon van Dyck; abaixo, à direita, lápide do prefeito de Frankfurt Rudolf von Sachsenhausen (Rodolfo II, Cavaleiro de Praunheim), possivelmente falecido em 1370. Catedral de Frankfurt, Domplatz, 1, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.

Herz-Jesu-Altar (Altar do Sagrado Coração de Jesus), gótico tardio, concluído pelo escultor Ivo Strigel de Memmingen em 1505/1506. Catedral de Frankfurt, Domplatz, 1, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.
Em seguida, fomos a Römerberg, (literalmente, Monte dos Romanos), a praça que representa o coração histórico da Altstadt (cidade velha) de Frankfurt am Main.
Desde o século IX, Römerberg era o local de mercados e feiras, torneios, festas e execuções, sendo considerada, no século XVI, a praça mais bonita do Sacro Império Romano-Germânico.
No meio da praça está a Gerechtigkeitsbrunnen (Fonte da Justiça), erguida por volta de 1543, tendo no centro uma figura feminina representando a Justiça, empunhando a espada em uma das mãos e segurando a balança na outra, porém sem sua habitual venda nos olhos.
No lado oeste da praça encontram-se os prédios que formam a Altes Rathaus (Prefeitura Velha), conhecida como Römer.
Já no leste da praça, vê-se o conjunto de edifícios conhecido como Oszteile, originalmente erguidos no século XV e XVI, na técnica de construção Fachwerk (enxaimel), que foram praticamente destruídos, após os bombardeios que atingiram a cidade na Segunda Guerra Mundial, e reconstruídos em 1986, de acordo com planos históricos preservados.

Detalhe da ilustração do Mercado de Natal no Römerberg em 1876; à direita da rua que vai dar na torre da catedral, é possível ver quatro edifícios originais que formavam o conjunto Oszteile. https://www.wikiwand.com/de/:Frankfurt_Am_Main-Peter_Becker-BAAF-030-Der_Roemerberg_waehrend_des_Christmarkts-1876-3000px.jpg

Lado leste de Römerberg, no qual se vê parte do conjunto de casas dos séculos XV e XVI, formando o conhecido Oszteile, reconstruído em 1986. Altstadt, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.
Römer é como conhecido o complexo de edifícios que, na Altstadt, compõe a Prefeitura de Frankfurt am Main.
Em 1405, o conselho da cidade abandonou o projeto de construir um novo edifício para a prefeitura e comprou dois prédios existentes em Römerberg, conhecidos como Römer (Romano, provavelmente construído em 1322), e Goldener Schwan (Cisne de Ouro), do comerciante Kunz por “800 florins de boa moeda de Frankfurt em dinheiro”. Ao longo dos anos, nove edifícios e vários pátios internos foram adicionados para formar o atual complexo.
A prefeitura de Frankfurt sofreu muitos danos na Segunda Guerra Mundial. A sua reconstrução começou já em 1945 e passou a funcionar, após sua reinauguração por Theodor Heuss em 1955. Mas somente em 1975 a cidade restaurou a famosa fachada de três cumes escalonadas.

O Römerberg em uma gravura em cobre de Caspar Merian, 1658; no centro da ilustração, podem ser vistos os três edifícios que formam a fachada principal do Römer, como é conhecida a Prefeitura da cidade. https://www.wikiwand.com/de/-Curia_Francofurtensis_ad_Moenum_cum_Foro_Piscario_Roemer_oder_Rathhauss_zu_Franckfurt_am_Mayn_Sampbt_dem_Platz_der_Roemerberg_genant.jpg

Altes Rathaus (Velha Prefeitura), conhecida como Römer. Römerberg, Altstadt, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.
Dirigimo-nos, em seguida, à Frankfurter Goethe-Haus (Casa de Goethe de Frankfurt), onde nasceu o grande poeta, romancista e dramaturgo alemão Johann Wolfgang Goethe.
A casa, conhecida como das três liras, em razão do nome dado ao brasão do Conselheiro Imperial Johann Caspar Goethe, pai do escritor, que se encontra sobre a porta de entrada, teve uma história bem movimentada.
Foi construída pelo ourives flamengo (belga) Matthis van Hinsberg, em 1618, utilizando a técnica enxaimel. A avó paterna do escritor, Cornelia Goethe, comprou, em 1733, a casa e sua vizinha, conectando-as. O pai do artista, Johann Caspar, promoveu, em 1755/56, uma remodelação nas casas de enxaimel herdadas, transformando-as em um único edifício no estilo rococó burguês, exatamente o aspecto que apresenta até hoje.
Johann Wolfgang Goethe nasceu na casa, localizada na Grosser Hirschgraben, em 28 de agosto de 1749, e cresceu lá, passando a infância e a maior parte de sua juventude, tendo escrito, no local, a peça teatral "Götz von Berlinchingen", a versão original do poema trágico "Fausto" (que não foi publicada) e o romance "Os Sofrimentos do Jovem Werther", tornando-se famoso rapidamente na Europa. Deixou definitivamente a casa em 1775, ao receber o convite do Príncipe Herdeiro Carl August von Sachsen Weimar-Eisenach para residir em Weimar.
O edifício foi destruído por bombas, na Segunda Guerra Mundial, mas foi fielmente restaurado, mantendo seu aspecto original. Os móveis da cozinha, sala e recepção correspondem à vida burguesa do barroco tardio; a vida familiar dos Goethes e da Frankfurt do século XVIII pode ser vista na atmosfera única dos quartos originalmente mobiliados.
O Goethe-Museum, ao lado da casa, apresenta uma extensa coleção de pinturas, gráficos e bustos dos séculos XVIII e XIX, desde o barroco tardio e o classicismo até o romântico e o biedermeier. Isso mostra a relação do poeta com a arte e com artistas como Johann Heinrich Füssli, Caspar David Friedrich e outros artistas de Frankfurt.

Frankfurter Goethe-Haus (Casa de Goethe), na qual nasceu o famoso escritor alemão Johann Wolfgang Goethe, em 28 de agosto de 1749. Grosser Hirschgraben 21, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.

Frankfurter Goethe-Haus (Casa de Goethe), local em que Johann Wolfgang Goethe escreveu importantes obras literárias: a primeira versão de "Fausto" e o romance "Os Sofrimentos do Jovem Werthe". Grosser Hirschgraben 21, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.
Depois de mergulharmos na alta literatura alemã dos séculos XVIII e XIX, dirigimo-nos ao primeiro centro financeiro da zona do Euro: o edifício conhecido como Eurotower (Torre do Euro).
A torre é obra dos arquitetos Richard Heil e Johannes Krahnet e erguida de 1971 a 1977, no distrito central de negócios de Frankfurt, o Bankenvierte, pela Sociedade Philipp Holzmann para servir de sede do Bank für Gemeinwirtschaft (BfG). Posteriormente, abrigou, a partir de 1995, o Instituto Monetário Europeu, que, em 1998, passou a chamar-se Banco Central Europeu (BCE), que nele funcionou até 2014, quando foi transferido para a Skytower (Torre do Céu), no bairro de Ostend, mas alguns departamentos do BCE permanecem na Eurotower, compondo o Single Supervisory Mechanism (Mecanismo Único de Supervisão), criado após a crise financeira mundial de 2008.
A Eurotower tem 148,5 metros de altura, com 40 andares e 78.000 m2 de escritórios, e, na sua frente encontra-se a famosa escultura representando a moeda Euro.

Eurotower, tendo à sua frente a famosa escultura do Euro. Kaiserstrasse 29, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.
Na sequência, nos deparamos com a Alte Oper (Velha Ópera), um belíssimo prédio neorrenascentista, erguido no final do século XIX.
O edifício, com capacidade para 2.010 espectadores, projetado pelo arquiteto berlinense Richard Lucae, foi inaugurado em 20 de outubro de 1880, com a apresentação da ópera "Don Giovanni", do famoso compositor erudito austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, sob a liderança do diretor Emil Claar e a regência do maestro Felix Otto Dessoff; entre os convidados, encontrava-se o imperador alemão Wilhelm I (Guilherme I), da Casa de Hohenzollern, que, após uma visita ao prédio, confessou ao diretor Claar: "Eu não poderia pagar por isso em Berlim".
Em 1937, na Alte Oper, foi feita a estreia mundial da famosa cantata cênica "Carmina Burana", do compositor erudito alemão Carl Orff (obra muito utilizada em filmes e publicidades ate hoje).
Na noite de 23 de março de 1944, após bombardeios promovidos pelos Aliados, na Segunda Guerra Mundial, a ópera pegou fogo até as fundações.
Durante anos, o futuro da propalada "mais bela ruína da Alemanha" ficou em discussão: derrubar ou reconstruir, até porque a ópera já estava funcionando em novo endereço, o prédio do antigo teatro.
O povo de Frankfurt, no entanto, deu um belo exemplo de cidadania ao fazer generosas doações para a reconstrução, na forma original, da Alte Oper, iniciada em 1976; assim, em 28 de agosto de 1981, o edifício foi reinaugurado com a intepretação da "8ª Sinfonia", do compositor erudito checo-austríaco Gustav Mahler, pela Orquestra do Museu, sob a regência de Michael Gielen.
Trata-se de um prédio de 34 metros de altura, edificado em uma área de 4.000 metros; consiste em duas estruturas aninhadas; o edifício central retangular está coberto por uma telhado quase plano de duas águas, abrigando os salões e os foyers internos; esse edifício está cercado por uma estrutura em forma de casca, de dois andares, com varandas nos quatro lados, formando a fachada real do prédio; há uma balaustrada contornando o entablamento do andar nobre, escondendo os telhados planos.

Alte Oper (Antiga Ópera), neorrenascentista, concluída em 1880 e reconstruída em 1981; é possível ver claramente a estrutura externa, que contorna o prédio principal retangular. Opernplatz, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.

Alte Oper (Antiga Ópera), na qual se observa, na parte superior, os frontões triangulares da "casca" exterior, onde está inscrito "Dem Wahren, Schoenen, Guten" (para o verdadeiro, o belo, o bom), e do prédio retangular interno, encimado pela escultura de cobre do Pegasus (o cavalo mitológico alado), obra do escultor Georg Hüter (1983), cópia da obra original do escultor Ludwig Brunow (1873). Opernplatz, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.
Na Opernplatz (Praça da Ópera), tivemos a grata surpresa de encontrar as instalações da Feira de Verão, onde lanchamos ouvindo a ária “E lucevan le stelle“ (E as estrelas estavam brilhando), cantada pelo personagem Cavaradossi, da ópera "Tosca", de Giacomo Puccini, à semelhança do que ocorrera no pátio do palácio Residenz, em Munique (naquela ocasião, uma ária de Madama Butterfly), como foi relatado no nosso post anterior "Munique - Parte II - e Schwangau (Baviera)- Alemanha 2010".

Opernplatz (Praça da Ópera), um descanso na Feira de Verão, repondo as energias com um lanche. Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.
Na sequência, passamos a flanar na Goethestrasse, a rua de Frankfurt am Main onde se encontram as lojas das marcas mais famosas e luxuosas do mundo, para apreciar suas vitrines e os belos carros estacionados na via.

Jaguar XK vermelho, em frente à loja da marca Giorgio Armani; ao lado, na sequência, as lojas da marca Bogner (roupas) e da Bally (artigos de couro). Goethestrasse, 19, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.

Vitrine da loja da marca Versace. Goethestrasse, 22, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.

Vitrine da loja da marca Chanel. Goethestrasse, 10, Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.
No final da Goethestrasse, ficamos na Kia City Arena Frankfurt (Fanfest), localizada na Rossmarkt (Mercado de Cavalos), para assistir o jogo Brasil x Chile, pela Copa do Mundo de 2010 (África do Sul), ocorrido no dia 28/06/2010, no qual a Seleção Brasileira ganhou por 3x0.

Kia City Arena Frankfurt (Fanfest), localizada na Rossmarkt (Mercado de Cavalos), jogo pela Copa do Mundo de 2010 (África do Sul), Brasil 3 x 0 Chile (Estádio Ellis Park, Johannesburg). Rossmarkt , Frankfurt am Main, Estado de Hesse, Alemanha.
No próximo post, fomos navegar no rio Reno.
Fontes:
Wikipedia;
"Alemanha", Guia Visual, PubliFolha, São Paulo, SP, 7ª edição, 2012; 1ª reimpressão: 2013.
"Frommer's Alemanha Dia a Dia", por George McDonald e Donal Olson, Alta Books, Rio de Janeiro, RJ, 1ª edição, 2014.
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