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Venaria Reale - Parte II e Alessandria - Norte da Itália - 2023

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 3 de fev. de 2024
  • 14 min de leitura

Atualizado: 1 de mai. de 2024


Castello del Parco Naturale La Mandria, residência privada de campo de Vittorio Emanuele II, rei da Itália, local onde o monarca recebia sua amante Rosa Vercellana, "La Bela Rosin". Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região do Piemonte, Itália.


1 - Castello de La Mandria - Venaria Reale


Entranhado nos 3.000 hectares de prados e bosques do Parco Naturale La Mandria (Parque Natural La Mandria), o Castello de La Mandria se encontra somente à cerca de 2,5 quilômetros da Reggia di Venaria Reale e era a residência favorita do primeiro rei da Itália, com seus deslumbrantes apartamentos reais, ricos em arte e história.


O local era conhecido como Borgo Castello e fazia parte do complexo La Venaria Reale, e há informações de que as primeiras edificações no local foram erguidas, no início do século XVIII, por determinação de Vittorio Amedeo II, então duque de Saboia, para servir de estábulo para criação de éguas de raça pura para deleite real; incialmente de planta quadrada com pátio único, fechado por quatro pavilhões, tendo sofrido algumas ampliações durante as décadas seguintes.


Ligados até o século XIX ao destino e à história do Palácio Real de Venaria (Reggia di Venaria Reale), o Parque Mandria e seu Castelo, este último situado numa colina artificial denominada "Nuova Mandria", foram destinados, a partir de 1859, ao uso exclusivo e privado de Vittorio Emanuele II, rei da Sardenha-Piemonte e, posteriormente, primeiro rei da Itália.


Para tal, o Parque Mandria foi totalmente murado, em um perímetro de 30 km, e os arquitetos reais Barnaba Panizza e Domenico Ferri foram encarregados de planejar a reforma e a ampliação da edificação que permitisse ao soberano praticar a sua atividade mais querida, a caça.


Na fachada do Castelo, o mais importante dos edifícios presentes na zona do Parque, foram criadas as salas que hoje constituem os belos Apartamentos Reais.


Resultado do gosto do soberano, os mais de 20 quartos, abertos ao público, mostram ao visitante todo o encanto da vida de um grande protagonista do Risorgimento italiano, que partilhou parte da sua vida privada, no mesmo Castelo, com sua amante Rosa Vercellana, conhecida como "Bela Rosin", que depois se tornou sua esposa morganática, a quem nomeou condessa de Mirafiori e Fontanafredda.


Vittorio Emanuele conheceu Rosa em 1847, quando ela tinha apenas quatorze anos e ele era o príncipe herdeiro e já casado com Maria Adelaide d’Habsburgo-Lorena, com quem, na época, tinha quatro filhos; a paixão entre os dois foi fulminante, ao ponto de, um ano depois, nascer a primeira filha deles, Vittoria; após o falecimento da rainha, em 1855, Rosa continuou a ser amante do rei, mas tratada como sua mulher; em 1869, Vittorio e Rosa casaram no religioso e, 1877, no civil, em casamento morganático.


O casamento morganático, em rápidas pinceladas, é a união entre um soberano ou uma soberana, ou um príncipe ou uma princesa de uma casa reinante, com uma pessoa de classe inferior (nobre que não é de casa reinante ou plebeu); o consorte de grau inferior não recebe o título de soberano e os filhos são excluídos da sucessão ao trono.


Com a morte de Vittorio Emanuele, o Parque, o complexo do Castelo e todos os pavilhões de caça foram adquiridos entre 1882 e 1887 pela família Medici del Vascello; em 1976, a Região do Piemonte adquiriu todo o património ambiental e arquitetônico do Parque, estabelecendo a Entidade Gestora do Parque Regional de Mandria em 1978.


Desde 1997, o Castello de La Mandria, juntamente com todas as outras residências dos Saboia do Piemonte, tornou-se Patrimônio Mundial (Unesco).




Prado e, ao fundo, bosque do Parco Naturale La Mandria. Viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região do Piemonte, Itália.




Jardim do Castello de La Mandria, tendo ao fundo a fachada do pavilhão principal do edifício. Viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região do Piemonte, Itália.




Castello del Parco Naturale de La Mandria, residência de campo de Vittorio Emanuele II, rei da Itália; na parte superior do pavilhão principal ficam os apartamentos reais. Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


Os arquitetos do rei Vittorio Emanuele II promoveram uma reestilização do edifício, caracterizada pela busca de equilíbrio, simetria e uniformidade entre as partes.


O fornecimento de tudo o que fosse necessário para uma vida tranquila e pacífica foi deixado sob a responsabilidade de Domenico Ferri, pensado e organizado de acordo com um plano preciso que favoreceu o caráter da Fazenda e do Castelo: caça, natureza e o amor do casal.


Cada sala dos Apartamentos Reais era vista como um quarto independente em relação aos outros; um "empório" enciclopédico de diversos estilos, temas iconográficos e predominância de cores, cômodo por cômodo, mas perfeitamente integrado com o todo.




Entrada do pavilhão principal do Castello de La Mandria. Viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


Após a entrada do pavilhão principal, encontramos, à esquerda, um amplo espaço conhecido como Galleria delle Carrozze (Galeria das Carruagens); na época de Vittorio Emanuele II, abrigava 14 boxes para cavalos árabes; com a aquisição do imóvel pelos Medici del Vascello, o espaço foi empregado como garagem para carros e berlindas; hoje, abriga uma coleção de carruagens históricas, algumas provenientes de Cascina Vittoria (conjunto de imóveis de fazenda localizada no interior do Parque La Mandria), muito bem conservados, que testemunham o requinte e a sofisticação alcançados nesta arte no século XIX.




Galleria delle Carrozze (Galeria das Carruagens), na qual se observa uma das carruagens muito bem conservada, proveniente de Cascina Vittoria. Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


Na sequência, tivemos acesso ao ambiente conhecido como Salone delle Feste (Salão de Festas); o espaço, que se encontra no piso inferior da torre sul do pavilhão principal, foi transformado em 1939, com a adição de piso de mosaico e de estuques no estilo do século XVIII, para "enobrecer" o local, com o fim de servir de salão de baile por ocasião do casamento de Elvina Medici del Vascello e o príncipe Guglielmo Pallavicini.


A princesa Elvina Pallavicini ficou muito conhecida por ter recebido em sua residência, em 1977, para uma conferência, o bispo católico Marcel Lefèbvre - ferrenho adversário das alterações promovidas pelo Concílio Vaticano II e defensor da missa tridentina, rezada nas igrejas latinas desde o século XVI (Concílio de Trento) -, mesmo pressionada pelo papa Paulo VI para que a reunião não ocorresse.




Salone delle Feste (Salão de Festas), que recebeu esta denominação em razão de ter sido empregado como salão de baile, em 1939, por ocasião do casamento de Elvina Medici del Vascello e o príncipe Guglielmo Pallavicini. Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.




Salone delle Feste (Salão de Festas). Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


Os Appartamenti Reali (apartamentos de Vittorio Emanuele II e Rosa Vercellana (Bela Rosin)), mergulhados na natureza do Parque Mandria e localizados no segundo piso do castelo, chegaram até nós mobiliados com valiosos móveis, artefatos, tecidos e obras de arte, alguns deles das antigas coleções dos Saboia.


O responsável pelas escolhas do mobiliário e da decoração foi o arquiteto da corte, Domenico Ferri, que fez uma importante obra figurativa que até hoje está preservada na sucessão de salas que compõem os Apartamentos Reais.


Após primoroso trabalho, foram restaurados cerca de 1.200 metros quadrados de superfícies decoradas, 60 móveis, 130 metros quadrados de tecidos preciosos, 80 metros quadrados de papéis de parede e mais de 100 obras de arte.


Após acessarmos o segundo piso, nos deparamos com a Sala d'Aspetto (Sala de Espera) ou Anticamera, na qual os convidados aguardavam para serem recebidos na Sala de Audiência.


As paredes estão decoradas com pinturas representando animais presentes na América do Norte e caçadas realizadas por ameríndios, se reportando a uma das atividades mais prazerosas para Vittorio Emanuele II: a caça: “Caccia indiana” (Caça indígena) e “Caccia al bisonte” (Caça ao bisão), realizadas pelo artista italiano Pietro Paolo Comba por volta de 1865; “Alci” (Alce) e “Cervi Wapiti” (Cervo Uapiti ou cervo-canadense), estas últimas de autoria do norte-americano William Jacob Hays, 1863.




“Caccia al Bisonte” (Caça ao Bisão), pintura realizada por volta de 1865, obra de Pietro Paolo Comba. Sala d’Aspetto (Sala de Espera) ou Anticamera. Appartamenti Reali, Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


A Sala delle Udienze (Sala de Audiência), como o próprio nome indica, era o cômodo no qual o rei recebia os convidados e os visitantes autorizados.


A sala é dominada pela cor vermelha escura: o papel de parede em veludo com grandes motivos florais tendendo ao branco dialoga com o tapete em lã no centro da sala, parecendo fazer referência ao nome de Rosa Vercellana, a grande paixão do rei; as cadeiras em madeira também têm seus encostos e assentos revestidos de tecido de veludo carmesim.


No centro da parede voltada para o pátio de entrada, um grande quadro oval representando Vittorio Emanuele II em veste de rei da Itália, com moldura talhada e dourada; a esse se acrescentam duas peças, da famosa Manifattura Ginori, com temas mitológicos, datadas de 1893 e 1894.




Sala delle Udienze (Sala de Audiência), com a predominância da cor vermelha escura; em destaque, o retrato oval de Vittorio Emanuele II, com seu uniforme de rei da Itália. Appartamenti Reali, Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


A Camera da Letto del re Vittorio Emanuele II (Quarto do rei Vittorio Emanuele II) abriga móveis que são verdadeiras obras-primas da marcenaria; encomendados em 1862 por Domenico Ferri a Gabriele Capello para a Villa dei Laghi, foram transferidos depois para o Castelo.


Artefatos únicos, esses móveis laqueados em vermelho foram projetados para criar um perfeito diálogo entre a natureza verdadeira e a representada; a cama de casal em madeira pintada, esculpida com troncos, ramos e folhas de hera, tendo no centro da peseira a representação de duas pombas que se alimentam e, abaixo, de um esquilo doméstico, bem como, na cabeceira, de um pássaro com uma grande borboleta sob outra ave de rapina, é certamente o elemento mais significativo do virtuosismo.




Camera da Letto del re Vittorio Emanuele II (Quarto do rei Vittorio Emanuele II), com seu espetacular mobiliário em laca vermelha, obra de Gabriele Capello. Appartamenti Reali, Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


Camera da Letto della Duchessa (Quarto da Duquesa), antiga Camera degli Animali (Sala dos Animais); o atual nome se refere à estadia de Elena d'Orléans, duquesa de Aosta, mulher de Emanuele Filiberto, ocorrida em 1895 e 1898 (as fotografias dos duques de Aosta ao lado do leito testemunham sua gratidão aos marqueses del Vascello, então proprietários do castelo).


O mobiliário, inspirado no neoclassismo do século XVIII, é lacado em branco com fios vermelhos, azuis e dourados; destaque para uma grande cama de casal com dossel, forrada em tecido de algodão com flores bordadas em seda.


O teto em caixotões com elementos em dourado, um dos maiores entre os ambientes do castelo, mostra ao centro alguns querubins voando e segurando um véu em volta de uma menina com flores: "Alegoria da Primavera".




Camera da Letto della Duchessa (Quarto da Duquesa), com seu mobiliário em laca branca e sua cama de casal com dossel. Appartamenti Reali, Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


A Sala del Biliardo (Sala de Bilhar) era um dos ambientes mais queridos pelo rei Vittorio Emanuele II, tendo, ao centro, a bela mesa de bilhar em madeiras nobres incrustadas com marfim, testemunho de um dos seus passatempos preferidos.


Grisoni foi o responsável por acrescentar a luminária sobre a mesa em 1870, que é composta por três corpos, cada um com uma cúpula opalina com brasão e coroa dos Saboias; os sofás e os tamboretes de veludo verde foram entregues em dezembro do mesmo ano pela empresa Levera.


Nas paredes estão dez aquarelas criadas por Tommaso De Belly que representam batalhas da Segunda Guerra da Independência promovidas e vencidas por Vittorio Emanuelle II, então rei da Sardenha-Piemonte, em 1859, contra o exército austríaco, que permitiu a unificação da Lombardia com o Reino da Sardenha, lançando as bases para a constituição do Reino da Itália, em 1861.


Sobre a lareira em mármore decorado encontram-se um par de candelabros em metal e um relógio encimado por uma cópia em miniatura do monumento equestre em homenagem a Emanuele Filiberto di Savoia, criado em 1838 pelo escultor Carlo Marocchetti, cujo original está localizado na Piazza San Carlo, em Turim.




Sala del Biliardo (Sala de Bilhar), com sua bela mesa de bilhar e luminária de três corpos com cúpula opalina exibindo brasão e coroa de Saboia. Appartamenti Reali, Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


Camera da Letto (detta di Rosa Vercellana) (Quarto de Rosa Vercellana); as rosas e as flores, abundantes nos painéis dos caixotões do teto, nos caixilhos das janelas e portas, e nos elementos esculpidos na frente da lareira, são referências explícitas à figura da grande paixão, amante e depois esposa morganática de Vittorio Emanuele II, Rosa Vercellana.


O mobiliário é de madeira lacada em branco com fios vermelhos, azuis e dourados, exibindo o monograma "VE"(referência explícita a Vittorio Emanuele).


Nas paredes, podem-se ver quadros e uma litografia mostrando o rei da Itália de corpo inteiro, em uma moldura em madeira entalhada e dourada com brasão e coroa real.




Camera da Letto (detta di Rosa Vercellana) (Quarto de Rosa Vercellana); móveis em madeira lacada em branco com fios vermelhos, azuis e dourados; à centro-esquerda, quadro intitulado "Morte di Don Carlo di Spagna", obra do pintor italiano Isacco Gioacchino Levi, de 1859; à direita, litografia mostrando o rei da Itália de corpo inteiro, obra de Francesco Preziosi, por volta de 1861, em uma moldura em madeira entalhada e dourada com brasão e coroa real. Appartamenti Reali, Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


Corridoio degli Uccelli (Corredor dos Pássaros), é um longo corredor que dá para o primeiro pátio interno do Castelo, bem como tem ligação, por meio de portas, com todos os ambientes dos Appartamenti Reali descritos anteriormente; tinha a função, também, de conservar, guardar e expor o grande acervo ornitológico do rei, daí o nome do espaço (dos pássaros).


Exímio caçador, Vittorio Emanuele II adorava exibir seus troféus, preparados por meio de um processo de taxidermia realizado por Francesco Comba (também responsável pelo zoológico da propriedade), e exibidos em vitrines especiais; somam-se as aquisições feitas pessoalmente pelo soberano para aumentar essa coleção, com exemplares de animais exóticos.


As decorações da parede remetem ao tema aves; sofás e tamboretes revestidos em tecido de veludo carmesim estão distribuídos ao longo dos 63 metros do corredor, fornecidos pela empresa Levera.




Corridoio degli Uccelli (Corredor dos Pássaros), no qual se vê um exemplar de stufa in ceramica (aquecedor em cerâmica branca). Appartamenti Reali, Castello de La Mandria, viale Carlo Emanuele II, 256, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.




Bosque em frente ao Castello de La Mandria. Parco Naturale La Mandria, Venaria Reale, Área Metropolitana de Turim, Região de Piemonte, Itália.


De Turim, partimos para Alessandria, ainda na Região do Piemonte.


2 - Alessandria


Alessandria foi criada, em 1168, com o nome Civitas Nova, como uma forma de se contrapor ao domínio - ao ver de alguns, ilegítimo - exercido por Frederico I, o Barba-ruiva, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, sobre o Norte da Itália. Evidentemente que, para a criação de um novo núcleo urbano na região, fazia-se necessária a autorização do imperador, o que não ocorreu neste caso; além disso, para aumentar sua indignação e irritação, em 3 de maio de 1168, os três cônsules de Civitas Nova assinaram a sua adesão à Liga Lombarda (associação de cidades rebeladas), perto de Lodi, e dois anos depois a cidade foi oferecida ao papa Alexandre III, que concordou em torná-la seu feudo e, ao fazê-lo, legitimar a luta das comunas do Norte da Itália contra o império; por conta disso, passou a chamar-se, em homenagem ao papa, Alessandria.


A provocação das comunas da Liga Lombarda surtiu o efeito desejado: o imperador entrou na Itália em 1174 e, em 29 de outubro, depois de ter destruído Susa e obtido a rendição de Asti, sitiou Alessandria. Para surpresa de todos, os alexandrinos resistiram aos ataques durante todo o inverno, e, em 12 de abril de 1175, o imperador desistiu do cerco.


Um fato relevante é que um dos maiores escritores do século XX, Umberto Eco, autor dos consagrados "O Nome da Rosa", "O Cemitério de Praga", "O Pêndulo de Foucault" e "Baudolino", dentre outros, é filho de Alessandria, e conta nesse último livro, de forma sarcástica, o nascimento da cidade e a profunda irritação de Frederico I, o Barba-ruiva, com isso:


"Mas, quando chegou no outeiro, viu um panorama diferente, como se todo o ar ao seu redor, sobre as colinas e nos demais vales, estivesse limpo, e apenas a planície à sua frente estivesse nublada por vapores nebulosos, por aqueles blocos acinzentados que de vez em quando o encontram na estrada, envolvem-no todo até que você não vê mais nada, e então o ultrapassam e se vão como haviam chegado. (...) À medida que baixava em direção ao rio se dava conta, contudo, de que aqueles vapores não eram neblina, senão nuvens de fumo que deixavam entrever os fogos que os alimentavam. Entre fumos e fogos, Baudolino entendia agora que, na esplanada além do rio, ao redor do que antes era Roboreto, a cidade havia transbordado para o campo, e era um canteiro de novas casas, algumas de alvenaria, outras de madeira, muitas ainda pela metade, e, voltado ao poente, podia divisar-se também o princípio de uma muralha, que nunca existiu naquelas paragens. (págs. 188 e 189)


"(...)


"(...) Tanto que, desde maio, três deles, Rodolfo Nebia, Aleramo de Marengo y Oberto del Foro haviam levado a Lodi, aos comuns ali reunidos, a adesão da nova cidade (...). A cidade estava quase pronta, pronta para cortar a passagem do imperador no dia que ele voltasse a baixar à Itália, pois tinha esse vício o imperador (...) você não conhece o imperador, (...), uma cidade que surge sem sua permissão é uma afronta que há que se lavar com sangue, ver-se-á obrigado a assediá-la (...) (págs. 196 e 197)


"(...)


"(...) a cidade ainda não tinha nome, exceto genericamente, Civitas Nova, que era o de gênero, não de indivíduo. A escolha do nome teria dependido de outro problema, e não de pouca monta, o da legitimação. (...).


"- Se esta cidade nasce fora da lei imperial, resta somente dar-lhe legitimidade segundo outra lei, igualmente forte e antiga.


"- E onde a encontraremos?


"- Pois no Constitutum Constantini, na doação que o imperador Constantino fez à Igreja, dando-lhe o direito de governar territórios. Nós presentearemos a cidade ao pontífice e, visto que neste momento circulam dois pontífices, a presentearemos ao que está ao lado da liga, isto é, Alexandre III. Como já dissemos em Lodi, e há meses, a cidade se chamará Alessandria e será feudo papal. (pág. 205).


"(...)


"(...) o assédio ocorreu seis anos mais tarde. Depois de ter assistido o nascimento da cidade, voltei junto a Frederico e lhe contei o que vira. Não havia acabado de contar, e ele já rugia enfurecido. Gritava que uma cidade nasce só por beneplácito do imperador e, se nasce sem esse beneplácito, deve ser arrasada antes de terminar de nascer, caso contrário qualquer um pode fazer seus próprios planos, ignorando os imperiais (...) Logo se acalmou, mas eu o conhecia bem, não perdoaria. Por sorte, durante quase seis anos esteve ocupado em outros assuntos (...)" (tradução livre do espanhol - pág. 211) - "Baudolino", de Umberto Eco, tradução para o espanhol de Helena Lozano Mirallles; Peguim Random House Grupo Editorial, Barcelona, 2001; Debolsillo, quinta edição, primeira reimpressão, março 2016.


A Piazza Garibaldi, uma imensa praça que simboliza o crescimento da cidade a partir do século XIX, foi projetada em 1885 pelo arquiteto Ludovico Straneo e concluída por volta de 1900, rodeada de palácios de estilo neorrenascentista, muitos deles porticados.




Piazza Giuseppe Garibaldi, 14, onde se pode observar um edifício porticado. Alessandria, província de mesmo nome, Região do Piemonte, Itália.



Ao lado do pergolado da Piazza Giuseppe Garibaldi, 10, Alessandria, província de mesmo nome, Região do Piemonte, Itália.


A Biblioteca Civica de Alessandria Francesca Calvo, instituída em 1801, passou a ocupar seu prédio próprio em 1858, erguido no lugar do antigo viridarium (jardim interno) do vizinho Mosteiro de Santa Margherita (Ordem Dominicana).




Prédio da Biblioteca Civica de Alessandria Francesca Calvo desde 1858, Piazza Vittorio Veneto, Alessandria, província de mesmo nome, Região do Piemonte, Itália.


Em frente da Biblioteca Civica encontra-se um monumento em homenagem ao filho ilustre de Alessandria, Umberto Eco.




Homenagem ao famoso escritor italiano Umberto Eco prestada por sua cidade natal, em frente à Biblioteca Civica de Alessandria Francesca Calvo, Piazza Vittorio Veneto, Alessandria, província de mesmo nome, Região do Piemonte, Itália.


No próximo post, vamos conhecer Gênova, a cidade marítima.



Fontes:


Wikipedia;


Guide: Fabuleuse Italie du Nord: Rome, Florence, Venise, pesquisa e redação de Louise Gaboury, direção de Claude Morneau, versão eletrônica, 2019, Guides de Voyage Ulysse, Québec, Canada.



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