Veneza - Parte I - Região de Vêneto - Norte da Itália - 2023
- Roberto Caldas
- 27 de fev.
- 19 min de leitura

Vista do Canal Grande a partir da base da Ponte di Rialto. Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Veneza - Parte I
Veneza é formada por 120 ilhas situadas numa grande lagoa, entre o continente e o mar. Originalmente o território de Veneza era ocupado por palafitas e habitado por populações ilíricas e venezianas, que viviam da pesca e da extração de sal.
O povo posteriormente conhecido como veneziano, que habitava nas áreas próximas da enorme lagoa, foi expulso pela invasão dos ostrogodos e lombardos, de origem germânica, tendo se refugiado nos pântanos da foz do Pó, fundando Veneza.
A posição privilegiada, entre pântanos e águas estagnadas, protegeu Veneza de ser invadida durante muito tempo, no entanto, Belisário, general de Justiniano I, imperador do Império Romano do Oriente (Império Bizantino), conquistou Veneza no século VI; com a proteção do Império Bizantino, Veneza passou a ser governada pelo Exarca de Ravena.
Aproveitando-se da fraqueza do governo de Ravena, as famílias ricas de Veneza, em 697, nomearam o primeiro doge, Paolo Lucio Anafesto, cargo vitalício que, no início, era hereditário, mas que, em consequência das inúmeras lutas de poder entre os patriarcas, tornou-se eletivo.
Em 829, o corpo do apóstolo Marcos, o evangelista, que se tornaria o Padroeiro da Sereníssima, alcunha pela qual seria conhecida a República de Veneza, chegou à lagoa vindo de Alexandria, cidade do Egito.
Desde os primeiros anos, a organização da República de Veneza esforçou-se para impedir que um único homem, o doge, tivesse o poder totalitário; em 1148, foi estabelecida a "Promessa Ducal" para o doge, que deveria ser aceita quando o cargo lhe fosse conferido, e, em 1177, à figura institucional do doge juntou-se a do Grande Conselho, composto por membros eleitos entre as famílias nobres, o Conselho Menor, com seis conselheiros do doge, e o Conselho dos Quarenta, uma espécie de Supremo Tribunal.
A relação privilegiada de Veneza com Bizâncio garantiu-lhe o desenvolvimento do tráfego marítimo e comercial; por conta disso, frutificaram as relações comerciais com os muçulmanos ao longo dos anos, mesmo depois das proibições decretadas pelo Concílio de Latrão (1261).
O que é considerada a época de ouro de Veneza iniciou com a Quarta Cruzada, em 1204: os galeões venezianos, comandados pelo doge Enrico Dandolo, conquistaram Constantinopla (Bizâncio), e o império grego foi dividido entre os venezianos e seus aliados; ocuparam os numerosos distritos comerciais das cidades da Síria, Palestina, Creta e Chipre, tendo Veneza atingido o seu apogeu na época de Marco Polo, um dos venezianos mais famosos da história.
Após controlar o mar Mediterrâneo, os venezianos voltaram seus interesses para o Atlântico, chegando a estabelecer colônias em Southampton e Londres, na Inglaterra, e Bruges, em Flandres (atual Bélgica).
Veneza começou a expandir-se pela península italiana, em resposta às ameaças de ocupação do duque de Milão; em 1410, a Sereníssima controlava grande parte do que hoje é o Vêneto e cidades como Verona e Pádua, ocupando mais tarde também as regiões lombardas de Bréscia e Bérgamo; o Adriático transformou-se no “Mar de Veneza”.
A queda de Constantinopla, em 1453, para os turcos, deu início a um declínio galopante da República de Veneza, tornando-se mais acentuada com a descoberta da América, que transferiu geopoliticamente os interesses comerciais internacionais.
A seguir, com a expansão do Império Otomano (turcos), Veneza foi perdendo suas possessões no Chipre e na Grécia; compôs a Santa Liga com a Santa Sé e a Espanha e tentou recuperar os territórios perdidos mas, apesar de vencer a Batalha Naval de Lepanto, em 1571, não conseguiu reconquistá-los (esta foi a batalha em que o famoso escritor espanhol Cervantes perdeu o braço); o maior resultado da batalha foi frear a expansão otomana no Mediterrâneo.
Enfraquecida e encolhida, a República de Veneza, no século XVIII, tentou recuperar o prestígio conquistando Túnis, no norte da África, mas, com a Revolução Francesa, virou objeto de disputa entre franceses e austríacos.
Em 1797, Napoleão Bonaparte quis Veneza como aliada na luta contra seus inimigos, particularmente os austríacos, mas esta recusou a proposta; o imperador francês, então, vingou-se em maio do mesmo ano, pondo fim a mais de mil anos de independência da República de Veneza, saqueando o Bucintoro, o barco do doge, e tomando posse de muito ouro e objetos de valor; o barco do doge foi enviado para a França, onde foi empregado como prisão.
Em 17 de outubro de 1797, no Tratado de Campoformio, firmado entre os austrícos e os franceses, Veneza e outros territórios da região são cedidos ao Império Austríaco, nascendo assim a Província Vêneta da Áustria.
Após derrota para os franceses, os austríacos assinaram a Paz de Presburgo, em 1805, e saem de Veneza, que passa a fazer parte do Reino da Itália, criado e controlado pelo Império Francês.
Mais uma reviravolta após a queda do império de Napoleão. O Congresso de Viena restabeleceu a estrutura geopolítica anterior à Revolução Francesa, e Veneza tornou-se parte do Reino da Lombardia-Vêneto, sob o domínio do Império Austríaco.
Mas a ocupação francesa trouxe a vontade de liberdade e de união às diversas partes da Italia, fazendo nascer sociedades secretas revolucionárias, como a Carboneria e a Giovine Italia de Mazzini.
Isso gerou vários confrontos com os austríacos, culminando com a criação de uma assembleia em Veneza que decidiu pela anexação do território à Italia. A reação dos austríacos foi violenta, destruindo grande parte da cidade, que se rendeu em 22 de agosto de 1849.
Em 19 de outubro de 1866, foi assinado o Tratado de Veneza, no qual a Áustria cedeu Veneza à França e esta, por sua vez, à Itália. No mesmo ano, por meio dum plebiscito, Veneza passou a fazer parte definitivamente da Itália.
Após o fim das guerras de independência travadas pelo Reino da Sardenha-Piemonte e aliados, algumas com a ajuda dos franceses, contra o Império Austríaco, deu-se a proclamação da independência e da unificação da Itália em 17 de março de 1871, sob a liderança de Vittorio Emanuele II, primeiro rei da Itália moderna.

Detalhe do quadro "Vista da Praça de São Marcos em Veneza", 1697, do pintor holandês Gaspar van Wittel; à esquerda, Palazzo della Zecca (antiga casa da moeda) e Palazzo della Libreria, ambos, hoje, sedes contíguas da Biblioteca Nazionale Marciana; no centro, a Piazza San Marco propriamente dita, e, ao fundo, Basilica di San Marco, e, à direita, Palazzo Ducale.
Iniciamos nosso passeio desembarcando no terminal do distrito de Santo Croce e atravessando a Ponte della Costituzione, pavimentada com placas de vidro, criação do celebrado arquiteto espenhol Santiago Calatrava, para o distrito de Cannaregio.

Ponte della Costituzione, sobre o Canal Grande, projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, 2008, saindo do distrito de Santa Croce em direção ao distrito de Cannaregio; à esquerda, se vê o anexo do Palazzo della Regione del Veneto, Fondamenta Santa Lucia 23, Cannaregio, e à direita, a cúpula da Chiesa di San Simeon Piccolo, em Santa Croce. Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Após atravessarmos a ponte, nos deparamos com o antigo terminal de passageiros da estação ferroviária, erguido por volta da década de 1860, após a demolição do convento e da Chiesa di Santa Lucia, hoje sede da Regione del Veneto, com o nome Palazzo della Regione del Veneto.

Palazzo della Regione del Veneto, erguido na década de 1860 para funcionar como terminal de passageiros da antiga estação ferroviária da cidade. Fondamenta Santa Lucia, 23, distrito de Cannaregio, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Monumento memorial dedicado aos ferroviários da Região de Vêneto que tombaram durante a Primeira Guerra Mundial; o relevo escultórico representa a morte de um soldado, em nudez heróica, amparado por uma figura feminina envolta em grande panejamento, que por sua vez segura na mão esquerda um grande escudo redondo; foi inaugurado provavelmente em 1º de junho de 1924 na parede externa do Palazzo della Regione del Veneto, Fondamenta Santa Lucia, 23, distrito de Cannaregio, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
O Canal Grande serpenteia através da cidade histórica ao longo de 4 quilômetros, oferecendo aos olhos dos visitantes uma dança incessante de gôndolas, traghetti, barcos, barcos-táxis, vaporetti e outras embarcações que se cruzam a todo momento sem se esbarrar, em uma coreografia que parece perfeita.
Apenas quatro pontes atravessam o Canal Grande, ligando os diversos distritos da cidade: Ponte della Costituzione, Ponte degli Scalzi, Ponte di Rialto e Ponte dell'Accademia.
A antiga Ponte degli Scalzi era a ponte dos Habsburgos (na época do domínio austríaco), projetada em 1858 pelo engenheiro inglês Neville e feita de ferro fundido para permitir o acesso à estação ferroviária.
Foi reconstruída nos anos 1932/34 em pedra da Ístria com um único arco para permitir a passagem de barcos, projeto de Eugenio Miozzi.
O nome Ponte degli Scalzi deriva da sua proximidade com a Igreja de Santa Maria di Nazareth, onde, durante muitos séculos, a missa foi oficiada pela Ordem dos Carmelitas Descalços (carmelitani scalzi).

Vista do Canal Grande di Venezia, a partir da Fondamenta Santa Lucia, distrito de Cannaregio; à esquerda, com sua fachada barroca tardia veneziana, a Chiesa di Santa Maria di Nazareth (degli Scalzi), mais ao fundo, vê-se a cúpula da Chiesa di San Geremia e Santuario di Santa Lucia, e, ao centro, a Ponte degli Scalzi. Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Do outro lado da ponte, caminhamos pelas pitorescas ruelas do distrito de Santa Croce.

Uma das ruelas de Veneza, onde se vê a entrada do Albergo Doge, hotel 3 estrelas, distrito Santa Croce. Lista Vecchia dei Bari, 1222, distrito de Santa Croce, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Ainda no distrito de Santa Croce, nos deparamos com a Chiesa di San Giacomo dall'Orio, uma das mais antigas de Veneza, datando dos séculos IX-X; o seu nome deriva da área onde esta localizada, que antigamente era conhecida como "Luprio", um local pantanoso; em 1225, graças às famílias Badoer e Da Mula, foi reconstruída com planta de basílica e aí foi colocada uma coluna de mármore verde do século VI, trazida de Constantinopla após a Quarta Cruzada (1204); o notável teto abobadado estilo "casco de navio" data do início do século XV, contemporâneo ao de Santo Stefano.

Chiesa di San Giacomo dall'Orio, Campo S. Giacomo da l'Orio, distrito de Santa Croce. Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Chiesa di San Giacomo dall'Orio, Campo S. Giacomo da l'Orio, distrito de Santa Croce. Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Em seguida, ingressamos no distrito de San Polo atravessando a Ponte del Parucheta.

Ponte del Parucheta sobre o rio de mesmo nome, seguindo pelo Rio Terà Primo, saindo de Santa Croce para San Polo. Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
No Rio Terà Secondo, perto do Campo S. Agostin, ainda hoje existe um pequeno palácio gótico, uma construção do século XV, onde Teobaldo Pio Mancuzio, vulgarmente conhecido pelo nome de Aldo, manteve a sua famosa tipografia por volta de 1490.
Aqui também funcionou a Accademia Aldina de Letras Gregas, que congregava figuras humanísticas da época, como Erasmo de Roterdã e Pietro Bembo.
O filósofo holandês Erasmo de Roterdã, que veio a Veneza em 1508 para terminar a sua obra "Adagia" na "lagoa tranquila" e publicá-la por Aldo, era convidado da família.

Edifício em estilo gótico em que funcionava, a partir da década de 1490, a tipografia e Accademia Aldina de Letras Gregas do humanista Aldo Pio Mancuzio. Rio Terà Secondo, distrito San Polo, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Típica gôndola de Veneza, na Fondamenta Bernardo, vista a partir da Ponte Bernardo, sobre o Rio de le Do Torre. San Polo, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Continuando nossa caminhada, ingressamos numa ampla praça, o Campo San Polo, onde nos deparamos com o Palazzo Soranzo.
O palácio foi encomendado no século XIV pela família nobre Soranzo, que deu um doge à República de Veneza, Giovanni Soranzo, e dezesseis procuradores de San Marco.
Na verdade, são dois palácios contíguos, que ficam de frente para o encantador Campo San Polo; o edifício denominado “casa velha” situa-se à esquerda, enquanto o edifício conhecido como “casa nova” encontra-se à direita; a parte mais antiga do edifício data de meados de 1300, e as janelas multimoldadas do primeiro andar lembram certamente modelos típicos do século XIV, embora os dois portais encimados por esculturas românicas pareçam datar de uma época ainda anterior; o segundo edifício, que apresenta uma janela deslumbrante com oito arcos de sustentação, tem um estilo claramente do século XV e já foi decorado com afrescos muito admirados de Giorgione.
Os dois edifícios são ligeiramente curvilíneos porque seguiam o percurso do canal, de acordo com uma prática veneziana muito difundida que permitia explorar ao máximo todo o espaço disponível; os edifícios eram acessíveis através de pontes privadas, que foram excluídas quando o canal foi pavimentado.

Palazzo Soranzo, séculos XIV-XV, Campo San Polo. Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
A seguir, passamos na entrada da Chiesa di S. Paolo Apostolo (conhecida como San Polo).
Segundo a tradição, a igreja dedicada a São Paulo (Polo em veneziano) foi fundada no século IX. Durante o século XV, os elementos góticos visíveis na lateral foram acrescentados à estrutura original: as janelas de lanceta única e o portal atribuído a Bartolomeo Bon.
Conserva no seu interior a "Última Ceia" de Jacopo Tintoretto e o evocativo "Ciclo da Via Crucis" de Giandomenico Tiepolo.

Chiesa di S. Paolo Apostolo (conhecida como San Polo), erguida no século IX, modificada nos séculos XI e XIX, portal gótico tardio do início do século XV, atribuído a Bartolomeo Bon. Salizada San Polo, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Na sequência, nos dirigimos para a margem do Canal Grande, ainda no distrito de San Polo, onde nos deslumbramos com a vista da Ponte di Rialto.

Volta do Canal Grande vista da Ponte di Rialto; na margem esquerda, observa-se o Palazzo dei Camerlenghi, (palácio renascentista, fachada em pedra lavrada, erguido entre 1525-1528 para acolher a magistratura financeira da República de Veneza, ainda no distrito de San Polo; na margem direita, distrito Cannaregio, ao centro da fotografia, vê-se o alto campanário da Chiesa Parrocchiale dei Santi Apostoli (existente no século IX, mas totalmente reerguida em 1575), e, na margem direita, no enfoque, quase escondido pelo Camerlenghi, o Ca' da Mosto (já existente no século XIII, palácio com fachada branca, seis janelas superiores, no estilo veneto-bizantino). Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
A atual Ponte di Rialto é, na verdade, a sexta ponte construída no local, a parte mais estreita do Canal Grande, obra de Antonio da Ponte, que ganhou um concurso de arquitetura em que eram participantes grandes nomes como Palladio, Sansovino e até Michelangelo; foi concluída por volta de 1590.
As duas fileiras de comércios sobre seu arco constituem uma das suas particularidades.

Ponte di Rialto, ligando os distritos San Polo a San Marco; em destaque, à direita, o campanário da Chiesa di San Bartolomeo, fundada, segundo a tradição, em 840, inicialmente dedicada a São Demétrio e, a partir de 1170, a São Bartolomeu. Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Encontro com o blogueiro Lucas Estevam do canal e blog "Estevam pelo mundo". Riva del Vin, próximo a Ponte di Rialto, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Após atravessarmos a Ponte di Rialto, nos dirigimos ao Campo S. Bartolomeo, já no distrito de San Marco, onde encontramos a estátua de Carlo Goldoni.
Carlo Goldoni nasceu em Veneza, em 1707, e é considerado o pai da comédia veneziana. O teatro de Goldoni sempre foi cheio de contradições, e, ao contrário da commedia dell'arte tradicional, as cenas eram bastante simples porque o “cotidiano” era o que ele gostava de contar. Os personagens também representavam homens humildes, normais e concretos.

Monumento a Carlo Osvaldo Goldoni (1707-1793), considerado um dos pais da comédia moderna. Campo S. Bartolomeo, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Na sequência, alcançamos a mais famosa praça de Veneza e uma das mais famosas do mundo, a Piazza San Marco.
A primeira atração que encontramos no largo foi a Torre dei Mori.
A Torre dei Mori (Torre dos Mouros) ou Torre dell'Orologio (Torre do Relógio) é um dos símbolos arquitetônicos mais famosos de Veneza; provavelmente inaugurada em 1499, projeto atribuído aos arquitetos Mauro Codussi e Bartolomeo Bon, com quatro andares, base retangular com medidas 6x9m e altura de 24m; as duas alas laterais foram erguidas nos cinco anos seguintes, com destaque para o terraço superior, com duas balaustradas; sua conformação atual é resultado das reformas promovidas em 1757, particularmente com a instalação de um novo relógio astronômico.
Além do seu grande relógio, observa-se a representação do leão alado de São Marcos, encimado pelo sino em que dois autômatos vêm bater para marcar a hora. Os autônomos são de bronze e chamados de mouros, em razão de sua cor escura, associada ao povos originais do norte da África.

Torre dei Mori ou Torre dell'Orologio, tendo em destaque o relógio astronômico da segunda metade do século XVIII, e, no frontão do último andar da torre, o leão de São Marcos. Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Próximo à Torre do Relógio, nos encantamos com a Basilica di San Marco.
Quando o corpo do santo evangelista Marcos foi trazido do Egito em 828 ou 829, erigiu-se um primeiro santuário para abrigar as preciosas relíquias, mas ele rapidamente foi destruído pelas chamas.
Uma segunda igreja, que é a que conhecemos hoje, foi iniciada em 1063 e consagrada em 1094; seus conceptores se inspiraram particularmente na Basílica dos Doze Apóstolos de Constantinopla, hoje Istambul, cidade da atual Turquia.
Suas cúpulas bizantinas e seus cinco portais encimados por arcos cobertos de fabulosos mosaicos sinalizam também as importantes ligações mantidas por Veneza com o Oriente naquela época.
No interior, os visitantes se maravilham com os incontáveis mosaicos com fundo dourado que revestem paredes e tetos por cerca de 4.000 m2.
Durante a Quarta Cruzada de 1204, muitas obras de arte e mármore foram transportadas de Constantinopla para Veneza, enriquecendo ainda mais a basílica, dentre elas estão os quatro cavalos saqueados do Hipódromo de Constantinopla, o ícone de Nossa Senhora Nicopeia, os esmaltes da Pala d'Oro e vários relicários, cruzes e cálices hoje preservados no tesouro da basílica.

Detalhe da fachada principal (oeste) da Basilica di San Marco; final do século XI; arquitetura bizantina com influência gótica italiana; na luneta central, encontra-se o mosaico "Juízo Final", desenhado por Lattanzio Querena e realizado pelo mosaicista Liborio Calandri entre 1836-1838; à direita, a representação da chegada das relíquias de São Marcos a Veneza; à esquerda, o doge Giustiniano Partecipazio, com veste dourada, acolhe e venera o corpo de São Marcos, coberto com um lençol azul; acima, sobre a loggia, a cópia dos quatro cavalos de São Marcos; os dois mosaicos da ordem superior, com base nos desenhos de Maffeo Verona, à esquerda, a "Descida de Cristo ao Limbo", e à direita, "Ressureição de Cristo"; no alto, veem-se tímpanos de arcos flexionados, de inspiração árabe; no topo do frontão central, a estátua de São Marcos e sua representação evangelista em dourado, o Leão, que mostra o livro com a frase "Pax tibi Marce Evangelista meus" (Paz a ti, Marcos, meu evangelista - tradução livre do latim). Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Fachada norte da Basilica di San Marco, tendo, no alto, arcos flexionados de inspiração árabe; à esquerda, vê-se a Porta dei Fiori, dominada por dois arcos; o inferior, em estilo árabe-mourisco, adornado de anjos, contém o baixo-relevo da Natividade; o superior, semi-circular, uma espécie de procissão de figuras de meio corpo incluindo Cristo e santos; provavelmente, a porta é resultado da remodelação geral das fachadas da Igreja, ocorrida no século XIII. Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Na loggia da fachada principal da Basilica di San Marco, a cópia dos cavalos da quadriga trazida de Constantinopla; atrás um compartimento aberto com uma imensa janela, que permite a entada da luz natural para o templo. Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Em frente à fachada sul da Basílica, encontram-se duas pilastras quadradas conhecidas como Pilastri di San Giovanni d'Acri (Pilastras de São João de Acre).
Diz a lenda que essas resultaram da batalha naval entre venezianos e genoveses, em 1258, pelo controle das áreas comerciais e do porto de Acre, na Palestina (hoje, cidade de Israel).
Retornando a Veneza como vencedor, o almirante Lorenzo Tiepolo também quis levar consigo as duas colunas quadradas que embelezavam a porta de entrada da destruída igreja de San Saba, em Acre, como espólio de guerra. Os dois pilares foram colocados perto da Basílica, como um alerta perene a todos aqueles que no futuro tivessem a coragem de atravessar o caminho da Sereníssima.
No entanto, de acordo com estudos realizados a partir de 1964, os pilares provavelmente chegaram a Veneza em 1258, não vindos do Acre, mas sim da igreja de San Polieucto em Constantinopla.

Fachada sul da Basilica di San Marco, colada ao Palazzo Ducale, onde podem ser vistas as Pilastri di San Giovanni d'Acri, à esquerda. Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Detalhe da fachada principal (oeste) da Basilica di San Marco; o mosaico representa o corpo de São Marcos sendo furtado em Alexandria, no Egito, em 828, pelos comerciantes venezianos Bono di Malamocco e Rustico da Torcello e transportado para Veneza; observe-se o cesto em que o corpo estava coberto de legumes, produtos diversos e por último carne de porco; as reações dos funcionários da alfândega egípcia são bastante explícitas: um tapa o nariz, o outro manifesta desgosto com a mão e vira o rosto para o outro lado. Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

A nave principal da Basilica di San Marco estende-se até o presbitério, que é elevado acima da cripta e separado do salão e, portanto, dos fiéis, por uma iconóstase decorada com estátuas dos doze Apóstolos, obra-prima da escultura gótica de Jacobello e Pier Paolo dalle Masegne. Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

A iconóstase, tendo, no centro, Cristo na Cruz, a Virgem Maria, à sua esquerda, e os doze Apóstolos, seis de cada lado, obra-prima dos irmãos Jacobello e Pier Paolo dalle Masegne, provavelmente do final século XIV; a divisória separa o salão da nave do presbitério, que vemos depois do iconóstase, comum nas igrejas de rito oriental. Basilica di San Marco, Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

O cibório ou baldaquino sobre o altar-mor; foi erguido provavelmente na primeira metade do século XIII; as quatro colunas monolíticas de alabastro oriental, trabalhadas aos pares por um excelente mestre e ajudantes menores, estão divididas em nove compartimentos separados por faixas horizontais, que por sua vez se dividem em nove arcos que acolhem uma ou mais figuras em alto relevo; nos 324 nichos há um total de 108 cenas com uma ou mais figuras, que reproduzem a vida da Virgem, a vida e a paixão de Jesus Cristo: bem representadas em vários ciclos detalhados, dispostas em sequência horizontal no sentido da leitura ou verticalmente, são episódios individuais retirados dos Evangelhos canônicos e apócrifos; há hipótese de que as colunas do cibório foram executadas durante o século V em uma importante cidade do Mediterrâneo Oriental, como Constantinopla ou Alexandria no Egito. Basilica di San Marco, Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

O altar-mor da Basilica di San Marco, tendo atrás um retábulo representando Cristo entronizado, no centro, e, ao lado, em duas fileiras, os doze Apóstolos. Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Atrás do retábulo do altar-mor, encontra-se a famosa Pala d'Oro.
É um quadro, medindo cerca de 3,30x2 metros, coberto de imagens sagradas em ouro e prata com centenas de pedras preciosas (pérolas, granadas, safiras, esmeraldas, ametistas, rubis, ágatas, topázios, cornalinas, jaspes e cristais de rocha) e esmaltes.
Diz a tradição que o retábulo dourado de São Marcos teve três fases: a primeira está associada ao doge Ordelaffo Falier, que foi o responsável pela realização da parte inferior do retábulo, por ele encomendado em 1102 em Constantinopla a mestres bizantinos e concluída em 1105; a segunda fase inicia em 1204, com a construção do friso da parte superior; depois houve uma terceira intervenção entre 1343 e 1345, sob o comando do doge Dandolo, que confiou a dois ourives venezianos a tarefa de criar as molduras da obra e acrescentar as pedras preciosas e gemas.

Pala d'Oro, com a imagem de Cristo Pantocrator no centro da obra; nas laterais da composição central estão 12 profetas, 12 apóstolos e 12 arcanjos em posição hierárquica; painéis com a vida e o martírio de São Marcos servem de moldura; e completado por medalhões esmaltados finamente trabalhados com imagens dos santos venerados pelos venezianos. Basilica di San Marco, Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Detalhe da Pala d'Oro; no centro da mandola, vê-se a imagem majestosa de Cristo abençoador, que segura o livro aberto, cujas palavras são substituídas por pedras preciosas para sublinhar a preciosidade do seu conteúdo; ao seu redor os 4 Evangelistas. Basilica di San Marco, Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Mosaico em semicúpula da abside representando Cristo Pantocrator; encontra-se diretamente sobre o altar-mor. Basilica di San Marco, Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

Cúpula central da Basilica di San Marco, dita Cupola dell'Ascensione, da segunda metade do século XII ; os mosaicos - com seus preciosos materiais e cores - ouro, prata e cobre, bem como vidro e lápis-lazúli - representam a Ascensão narrada nos Atos dos Apóstolos; Cristo é colocado no centro, num círculo de luz sustentado por quatro anjos, no ato de ascender ao Céu; onze Apóstolos, representados juntamente com a Virgem, são colocados no registro inferior e eles observam o Mestre ascendendo; entre as janelas está colocada a teoria das Virtudes e das Bem-aventuranças (dezesseis figuras femininas nos mais variados gestos e vestidas de forma heterogênea, representando as três Virtudes Teologais (Caridade, Esperança e Fé), as quatro Virtudes Cardeais (Justiça, Fortaleza, Temperança e Prudência) e as nove Bem-aventuranças (Humildade, Benignidade, Compunção, Abstinência, Misericórdia, Paciência, Castidade, Modéstia e Constança); as plumas (as formas triangulares, com lados curvilíneos, em volta do círculo da cúpula) mostram os Evangelistas no ato de escrever os Evangelhos; aos pés dos Evangelistas, estão as alegorias dos quatro rios do Paraíso. Basilica di San Marco, Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

"São João Batista recebe a veste do anjo", fragmento do mosaico da parede oeste do antebatistério, século XIV, hoje exposto no museu da Basílica. Basilica di San Marco ou Chiesa di San Marco, Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
No museu da basílica, nos maravilhamos com os "Cavalos de São Marcos" originais.
A hipótese mais aceita é que os cavalos sejam provenientes do edifício do Hipódromo de Constantinopla, enviados como espólio de guerra por ocasião da Quarta Cruzada (1204) pelo doge Enrico Dandolo a Veneza, onde permaneceram no Arsenal por mais de cinquenta anos. Provavelmente, somente após a queda do Império Latino (1261), eles foram colocados na basílica com amplo valor semântico, no sentido político e religioso: herança, símbolo de continuidade com o poder imperial de Bizâncio; imagem da Quadriga Domini, alegoria da difusão da Palavra Divina através da obra dos quatro evangelistas.
A datação da quadriga é incerta. Alguns estudiosos agora tendem a uma data entre a segunda metade do século II e o início do século III d.C., na era imperial romana, enquanto anteriormente a datação oscilava entre o século IV a.C. e o século IV d.C.. A análise do carbono 14 remonta ao início do século II a.C..
Os quatro cavalos, até o final de 1977 sobre a loggia da Basilica di San Marco, depois de uma meticulosa restauração, foram substituídos por reproduções e colocados num museu em 1982 por razões de conservação.

Os "Cavalos de São Marcos" originais, trazidos do Hipódromo de Constantinopla a Veneza por ordem do doge Dandolo, como butim da guerra vencida pelos venezianos, que tomaram a capital do Império Bizantino em 1204. Basilica di San Marco, Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.

A reprodução dos "Cavalos de São Marcos", exposta na loggia da Basilica di San Marco. Piazza San Marco, distrito San Marco, Veneza, capital da Città Metropolitana homônima e da Região de Vêneto, Itália.
Em seguida, continuamos a visita a Piazza San Marco, mas no próximo Post.
Fontes:
Wikipedia;
Guide: Fabuleuse Italie du Nord: Rome, Florence, Venise, pesquisa e redação de Louise Gaboury, direção de Claude Morneau, versão eletrônica, 2019, Guides de Voyage Ulysse, Québec, Canada.
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